Um par de faróis cortou a escuridão, aproximando-se rapidamente. O som de um motor potente encheu o ar, abafando o uivo do vento.
Um carro de luxo preto parou bruscamente a poucos metros de nós.
A porta do motorista se abriu e um homem saiu.
Ele era alto e esguio, vestido com um terno impecável, mas seus movimentos eram lentos, quase frágeis. Mesmo à distância, pude ver a palidez em seu rosto.
Era Tiago.
Sofia e Marcos congelaram, chocados.
"Tio Tiago? O que você está fazendo aqui?" Marcos gaguejou, sua arrogância desaparecendo instantaneamente.
Tiago não respondeu a ele. Seus olhos, intensos e cheios de uma preocupação avassaladora, estavam fixos em mim. Ele viu onde eu estava, na beira do penhasco, e a expressão em seu rosto se transformou em uma fúria fria.
"Afastem-se dela," Tiago ordenou, sua voz baixa, mas carregada de uma autoridade inquestionável.
Naquele momento, as memórias da minha vida passada vieram com força. Eu vi a imagem fantasmagórica de Tiago, mais velho, mais doente, chorando no meu túmulo, sussurrando desculpas por não ter conseguido me proteger, por não ter tido a coragem de confessar seus sentimentos antes. Ele dedicou o resto de sua curta vida a me vingar.
Ele tinha vindo. A ligação não completou, mas ele viu a chamada perdida e veio. Ele sempre esteve me vigiando.
As lágrimas que eu me recusei a derramar por aqueles dois traidores agora brotaram em meus olhos por este homem.
"Tio, isso não é o que parece," Marcos tentou explicar, dando um passo em direção a Tiago. "Laura... ela descobriu a verdade e não está reagindo bem."
"A verdade?" Tiago repetiu, seu olhar se tornando ainda mais gelado. "A verdade é que vocês dois a encurralaram na beira de um penhasco. Eu não sou cego, Marcos."
Ele começou a andar em minha direção. Cada passo parecia exigir um esforço imenso. Sua respiração estava um pouco ofegante. Sua saúde era realmente frágil.
Ver sua fragilidade despertou um instinto protetor em mim. Eu não podia deixá-lo se machucar por minha causa.
"Tiago, não se aproxime! Fique aí!" eu gritei, tentando alertá-lo.
Mas era tarde demais.
Marcos, em pânico, viu Tiago como um obstáculo. Ele agiu por impulso, empurrando seu próprio tio com força.
"Fique fora disso, velho!"
Tiago, já instável, não conseguiu resistir ao empurrão. Ele cambaleou para trás, seu corpo fraco o traindo. Ele caiu de joelhos no chão de cascalho, tossindo violentamente, uma das mãos pressionando o peito. A dor em seu rosto era evidente.
"Tiago!" eu gritei, meu coração se partindo.
Sofia assistiu a tudo com um desprezo cruel.
"Olhe para ele. Um homem doente tentando ser um herói. Patético," ela cuspiu. "Marcos, esqueça ele. Vamos terminar o que começamos."
Ela me agarrou pelo braço, suas unhas cravando na minha pele.
"Não toque nela," Tiago ofegou do chão, tentando se levantar, mas a dor o mantinha preso.
Sofia riu na cara dele. Ela se virou para mim, seu sorriso venenoso.
"Sabe, Laura, a sua sorte acabou. Eu tenho o teste de DNA. Ele prova sem sombra de dúvida que eu sou a verdadeira herdeira. Meu advogado já verificou. Quando você estiver morta, ninguém vai questionar a minha reivindicação."
Ela brandia essa "prova" como uma arma. Um teste de DNA. A peça central de sua farsa. Na minha vida passada, eu nunca soube dos detalhes, apenas que todos acreditaram nela. Agora, eu sabia que era uma mentira, mas não tinha como provar.
"Marcos, agora!" Sofia ordenou.
Marcos, com o rosto pálido de medo e conflito, olhou para seu tio no chão e depois para mim. A ganância venceu. Ele agarrou meu outro braço.
Juntos, eles começaram a me arrastar para a beira.