O cheiro de antisséptico do hospital era forte. Meus ferimentos eram superficiais, arranhões e contusões. Limparam e enfaixaram tudo rapidamente. Mas meu coração estava em outro lugar, no quarto ao lado, onde os médicos estavam atendendo Tiago. A queda e o esforço tinham sido demais para seu corpo frágil.
Assim que fiquei sozinha, peguei o telefone que um dos homens de Ricardo me deu e liguei para meu irmão.
Ele atendeu no primeiro toque.
"Laura? Como você está? Os médicos disseram alguma coisa?"
"Eu estou bem, Ricardo. São apenas arranhões. E o Tiago?"
Houve uma pausa. A voz de Ricardo ficou mais grave.
"Ele está estável, mas o médico disse que ele forçou demais o coração. Ele bateu a cabeça na queda também. Eles o estão mantendo em observação. Laura... o que aconteceu exatamente?"
Eu respirei fundo e contei tudo. A armadilha, as acusações de Sofia, a cumplicidade de Marcos, a forma como eles me empurraram na minha vida passada e tentaram fazer o mesmo de novo. Contei sobre Tiago chegando para me salvar, sobre como Marcos o empurrou.
O silêncio do outro lado da linha era pesado, carregado de uma fúria contida.
"Aquele desgraçado," Ricardo finalmente disse, sua voz baixa e perigosa. "Ele ousou tocar em você. E na frente do próprio tio."
"Ricardo," eu disse, minha voz firme, uma decisão se formando em minha mente. "Eu quero terminar tudo com o Marcos. Oficialmente. Eu não quero mais ver o rosto dele."
"Considere feito," Ricardo respondeu sem hesitação. "Vou destruir a carreira dele. A família dele vai se arrepender do dia em que ele nasceu. Ninguém mexe com a nossa família e sai impune."
Eu fiz uma pausa, reunindo coragem para dizer o que vinha a seguir. Aquela vulnerabilidade era nova para mim.
"Ricardo... tem mais uma coisa."
"Diga."
"É sobre o Tiago," eu comecei, sentindo meu rosto esquentar. "Naquela hora, no penhasco... e agora, sabendo o que ele fez por mim na vida passada... eu sinto algo por ele. Eu acho que... eu quero ficar com ele."
O silêncio retornou. Por um momento, temi que ele fosse me julgar, me chamar de louca.
Mas então, ouvi um suspiro, não de desaprovação, mas de algo parecido com alívio.
"Laura," disse Ricardo, sua voz surpreendentemente suave. "Tiago sempre foi um bom homem. Respeitado nos negócios, apesar de seu jeito recluso. Sua única fraqueza é a saúde. Se ele é o homem que você escolhe, se ele te faz feliz e te mantém segura... então você tem a minha bênção."
As lágrimas brotaram nos meus olhos, desta vez de alívio e gratidão.
"Marcos nunca foi bom o suficiente para você," continuou Ricardo, sua voz endurecendo novamente. "Ele é fraco, ambicioso e estúpido. Ele escolheu acreditar em uma mentirosa em vez da mulher com quem ia se casar. Ele não te merece. Ele não merece nada."
Ouvir o apoio incondicional do meu irmão me deu a força que eu precisava.
"Eu vou garantir que ele e aquela Sofia recebam o que merecem," prometeu Ricardo. "Eles vão aprender da maneira mais difícil o que acontece quando se cruza o nosso caminho."
"Obrigada, Ricardo."
"Descanse, irmãzinha. Eu vou cuidar de tudo a partir de agora."
Desliguei o telefone, sentindo um peso sair dos meus ombros. O apoio de Ricardo era meu escudo.
Mas a vingança não era apenas dele. Era minha também.
Eu olhei pela janela do hospital para a cidade adormecida. Marcos e Sofia pensaram que podiam me apagar, me substituir e roubar minha vida. Eles subestimaram minha força. Eles subestimaram o amor da minha família. E eles subestimaram a profundidade da minha determinação.
Eu não iria apenas expor suas mentiras. Eu iria desmantelar o mundo deles, peça por peça, até que não sobrasse nada além de arrependimento. Esta era a minha segunda chance, e eu não a desperdiçaria sendo a vítima.
Eu seria a caçadora.