A Vingança de Sofia Alencar
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Capítulo 1

Um suor frio escorreu pela minha testa, encharcando a gola da minha camisa nova. Meus dedos tremiam, e eu apertei a alça da minha mochila com força, sentindo a textura do couro contra a minha pele úmida.

A cena ao meu redor era insuportavelmente familiar. O portão imponente da universidade, os estudantes rindo e conversando, o sol quente de início de semestre.

Eu estava viva.

A última coisa de que me lembrava era o vento frio contra o meu rosto enquanto eu caía do telhado do prédio. A dor esmagadora da traição era mais forte que o medo da morte. Vi meus pais mortos, a fortuna da minha família roubada, e a minha "irmã", Ana, rindo de mim. Ela me incriminou, me humilhou, me transformou na assassina dos meus próprios pais aos olhos do mundo.

E agora, aqui estava eu. De volta ao primeiro dia da universidade. O dia em que tudo começou a desmoronar.

Meu coração batia descontroladamente no peito, não de ansiedade, mas de uma raiva gélida. Eu abri os olhos novamente, e a vi.

Ana estava a poucos metros de distância, cercada por um grupo de novos alunos que a olhavam com admiração.

"Não se preocupem, pessoal! O café hoje é por minha conta! Considerem um presente de boas-vindas da minha família!"

A voz dela era doce, generosa. A mesma voz que ela usou para enganar meus pais por anos. Ela tirou da bolsa um maço de dinheiro, notas novas e crocantes, e as balançou no ar com um sorriso radiante.

Era o dinheiro do meu pai. O dinheiro que ele deu a ela naquela manhã para "despesas universitárias".

Na minha vida passada, eu achei esse gesto nobre. Pensei que ela estava apenas tentando fazer amigos. Hoje, eu via a verdade. Ela estava construindo sua persona de "garota rica e generosa", a base para a mentira que viria a seguir: a de que eu era a "bolsista pobre" que ela, por caridade, apadrinhava.

A lembrança me atingiu como um soco no estômago. Lembrei-me dos sussurros nos corredores, dos olhares de pena, da humilhação de ser chamada de aproveitadora enquanto ela usava o meu dinheiro para comprar popularidade. A dor era tão real, tão presente, que por um segundo me faltou o ar.

Ela me viu. O sorriso dela se alargou, e ela acenou para mim, chamando-me para perto.

"Sofia! Vem aqui, irmãzinha!"

A palavra "irmãzinha" soou como veneno nos meus ouvidos.

Andei até ela, minhas pernas firmes, meu rosto cuidadosamente neutro. O grupo abriu espaço para mim.

"Pessoal, esta é minha irmã, Sofia," Ana disse, colocando um braço em volta dos meus ombros. O gesto era para parecer afetuoso, mas eu senti a posse, o controle. "Ela é um pouco tímida, não está acostumada com tanta gente. Nossa família sempre foi muito reservada."

Ela estava sutilmente me diminuindo, me pintando como a garota estranha e introvertida, enquanto se posicionava como a porta-voz social da nossa "família rica". Era uma provocação, um teste. Ela queria ver se eu continuaria a ser a garota ingênua que ela podia manipular.

Eu sorri de volta, um sorriso pequeno e controlado.

"Ana é sempre tão generosa," eu disse ao grupo, minha voz calma. "Ela tem um coração de ouro."

O rosto de Ana brilhou com presunção. Ela achava que tinha vencido.

Enquanto ela se virava para liderar o grupo em direção à cafeteria, aproveitei a distração. Com um movimento rápido e discreto, peguei meu celular. Tirei uma foto clara do maço de dinheiro na mão dela e, em seguida, abri o aplicativo do banco da nossa família.

Meus pais, em sua infinita bondade, me deram acesso total à conta principal. Eu nunca a usava, mas sabia como funcionava. Em segundos, localizei a transferência que meu pai havia feito para a conta de Ana naquela manhã.

"Assunto: Dinheiro para livros e material - Boas aulas, querida!"

O valor era exatamente cinco mil reais.

Com a foto e o print da transferência salvos, enviei uma mensagem rápida para o grupo de calouros da universidade, um grupo que eu sabia que Ana ainda não havia entrado.

O texto era simples: "Alerta de golpe no campus: uma garota chamada Ana está se passando por rica, distribuindo dinheiro que acabou de receber dos 'pais adotivos' para material escolar. Cuidado para não serem usados no teatro dela. Aqui estão as provas."

Anexei a foto do dinheiro e o print da transferência.

Enviei.

Então, guardei o celular no bolso e segui o grupo em direção à cafeteria, um passo atrás de Ana. Um sorriso frio se formou nos meus lábios.

O show dela estava prestes a acabar antes mesmo de começar.

            
            

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