Na manhã seguinte, sentei-me com meus pais na mesa do café da manhã. A atmosfera estava tensa.
"Eu preciso que vocês me ouçam com atenção," comecei, minha voz séria. "Ana não vai aceitar isso. Ela vai retaliar. Ela é mestre em manipulação e vai tentar virar vocês contra mim, vai se fazer de vítima de todas as maneiras possíveis."
Meu pai suspirou, passando a mão pelo rosto. "Sofia, talvez você esteja exagerando. Ela é só uma garota confusa e magoada."
"Não, pai, ela não é," insisti, olhando-o nos olhos. "Ela é calculista. Lembrem-se do que eu disse. Ela não vai parar até conseguir o que quer. E o que ela quer é tudo o que nós temos."
Na minha vida passada, eles só perceberam a verdade tarde demais, quando já estavam assinando seus próprios atestados de óbito disfarçados de testamento. Desta vez, eu não deixaria isso acontecer.
A conversa foi interrompida pelo som da campainha, tocando insistentemente.
Fomos até a porta da frente. Olhei pelo olho mágico e meu sangue gelou.
Era Ana. E ela não estava sozinha.
Atrás dela, no nosso gramado impecavelmente cuidado, estava o mesmo grupo de estudantes de ontem, olhando para a nossa casa com uma mistura de inveja e ressentimento.
"O que ela está fazendo?" minha mãe sussurrou, chocada.
Abri a porta.
Ana sorriu para mim, um sorriso venenoso. "Sofia! Que bom que você está aí. Eu trouxe meus amigos para conhecerem a 'minha' casa."
Ela se virou para o grupo e anunciou em voz alta, apontando para mim: "Pessoal, como eu disse, esta é a Sofia. Ela é a bolsista que minha família patrocina. Nós a deixamos morar aqui conosco. Não é, Sofia?"
O absurdo da situação era de tirar o fôlego. Ela estava tentando reescrever a realidade na frente da minha própria casa. Depois de ser exposta como uma fraude, sua única saída era tentar inverter os papéis, me transformando na impostora.
Os estudantes murmuraram entre si, os olhares de pena de ontem agora direcionados a mim. Eles viram a casa enorme, o carro de luxo na garagem, e a confiança arrogante de Ana. A mentira dela, por mais absurda que fosse, parecia plausível para eles. Uma garota pobre sortuda vivendo de favor com uma família rica.
Eu senti a raiva subir pela minha garganta, mas a forcei para baixo. Eu precisava manter a calma. Analisei a situação rapidamente. Ana estava desesperada. Este era um movimento de alto risco. Ela estava apostando que eu, para evitar uma cena na frente dos vizinhos e dos seus "amigos", cederia e seguiria o jogo dela.
Na minha vida passada, eu teria feito exatamente isso. Teria ficado paralisada pela vergonha e pela confusão, permitindo que ela vencesse.
Mas eu não era mais aquela garota.
Ana se aproximou de mim, o sorriso ainda no rosto, mas os olhos duros como pedra. Ela baixou a voz para que só eu pudesse ouvir.
"Vamos, Sofia. A mamãe e o papai não gostariam que você fizesse uma cena, não é? Apenas concorde. Diga a eles que você é grata pela nossa generosidade. Seja uma boa menina."
Ela tentou parecer frágil, como se estivesse me implorando, mas era uma ordem. Uma ameaça velada. Ela estava usando o amor dos meus pais por paz e discrição como uma arma contra mim.
Mas ela cometeu um erro fatal. Ela trouxe a guerra para a minha casa.
E na minha casa, eu faço as regras.