Minha mãe acariciava o cabelo dela, lançando-me um olhar triste. "Oh, minha querida, que terrível. As pessoas podem ser tão cruéis."
Meu pai suspirou. "Eu sabia que dar a você tanto dinheiro de uma vez poderia chamar a atenção errada, Ana. Talvez tenhamos sido ingênuos."
A performance dela era digna de um prêmio. Ela distorceu a verdade, pintando-se como a vítima de preconceito de classe, uma pobre garota adotada maltratada pelos ricos esnobes. Ela estava tentando envenenar meus pais contra o mundo exterior e, sutilmente, contra mim, a verdadeira herdeira que nunca precisou de tais artifícios.
Eu deixei minha mochila cair no chão com um baque surdo, o barulho cortando o choro dela.
Todos os três olharam para mim.
"Sofia, você não vai acreditar no que aconteceu com sua irmã," meu pai começou.
"Eu sei o que aconteceu," eu disse, minha voz fria e firme, caminhando para o centro da sala. "Eu estava lá."
O choro de Ana parou abruptamente. Ela me olhou, os olhos vermelhos e inchados, mas agora com um brilho de cautela.
"Sofia, querida, não seja dura com ela," disse minha mãe. "Ela já passou por o suficiente."
"Mãe," eu me virei para ela, meu tom suavizando. "Eu te amo, e amo o papai. Vocês são as pessoas mais generosas que conheço. Mas essa generosidade está cegando vocês."
Meu pai franziu a testa. "O que você quer dizer?"
Eu ignorei a pergunta dele por um momento e me concentrei em Ana. "É interessante, não é? Como todo o seu drama sobre ser uma 'pobre garota adotada' sempre aparece quando você quer algo ou quando é pega fazendo algo errado."
"Isso não é verdade!" ela gritou, tentando retomar seu papel de vítima.
"Não é?" Eu me aproximei do sofá. "Mãe, você se lembra do colar de diamantes da vovó que sumiu no mês passado?"
Minha mãe pareceu confusa. "Sim... nós pensamos que a empregada o tinha perdido."
"Não," eu disse, olhando diretamente para Ana, cujo rosto ficou pálido. "Ana o pegou. Ela o vendeu para comprar um celular novo, o mesmo que ela disse que comprou com o 'dinheiro que economizou do seu trabalho de meio período'."
O silêncio na sala era total.
"Mas... ela não tem um trabalho de meio período," meu pai disse lentamente, a compreensão começando a surgir em seus olhos.
"Exatamente," eu continuei, implacável. "Ela mentiu. Assim como mentiu hoje na universidade. Ela não foi humilhada por ser adotada. Ela foi humilhada porque tentou comprar amigos com o dinheiro que você deu a ela para os livros, fingindo ser algo que não é. E quando foi pega, ela correu para casa para chorar e culpar os outros."
Minha mãe olhou de mim para Ana, o choque e a decepção estampados em seu rosto. "Ana... isso é verdade?"
Ana abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu. Ela estava encurralada, suas mentiras desmoronando ao seu redor.
Meu pai se levantou, sua expressão agora dura. "Ana, vá para o seu quarto. Precisamos conversar."
Ela me lançou um olhar de puro ódio antes de se levantar e sair correndo da sala, desta vez com lágrimas de raiva e humilhação genuínas.
Meus pais me olharam, parecendo perdidos.
"Sofia, por que você não nos contou isso antes?" minha mãe perguntou, a voz fraca.
"Porque eu era ingênua como vocês," eu disse, a verdade amarga em minha boca. "Eu queria acreditar que ela era boa. Eu queria uma irmã. Mas eu estava errada."
Sentei-me ao lado da minha mãe e peguei sua mão. "Nós a acolhemos. Demos a ela um lar, amor, tudo. Mas algumas pessoas são como a cobra da fábula. Não importa o quanto você a aqueça em seu seio, um dia ela vai te picar. Porque essa é a natureza dela."
Naquele momento, eles não entenderam a profundidade do meu aviso. Mas uma semente de dúvida foi plantada. Eles começaram a ver a Ana que eu via, não a garota coitada que eles inventaram.
Eles decidiram cortar a generosa mesada dela e monitorar seus gastos. Foi um pequeno passo, mas foi um começo.
Para Ana, foi uma declaração de guerra. E eu sabia que a retaliação dela não demoraria a chegar.