Destinos Cruzados Pelo Engano
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Capítulo 3

Sentadas na pequena sala de estar, Ana abriu sua bolsa cara e tirou de dentro um envelope pardo. Ela o colocou sobre a mesa de centro de madeira, que meu pai e eu havíamos construído juntos.

"Aqui está" , disse ela. "É o exame de DNA."

Abri o envelope e li o documento. Nomes que eu não conhecia, percentuais, probabilidades. E a conclusão, inequívoca: compatibilidade de 99,99%.

"Como vocês me encontraram?" , perguntei, mais por curiosidade técnica do que por emoção.

"Foi um acaso" , explicou Ana, a voz mais estável agora. "Precisamos fazer alguns exames genéticos na família por causa de uma condição hereditária. E os resultados mostraram... que a Clara... a menina que criamos... não era nossa filha biológica. Foi um choque. Meu marido, João, contratou investigadores. Eles levaram meses, mas conseguiram rastrear os registros do hospital daquela época. Havia uma enfermeira... que confessou a troca."

Enquanto ela falava, eu me levantei e fui até o espelho antigo pendurado na parede. Olhei para o meu reflexo, e depois para ela. Pela primeira vez, notei a semelhança. O formato dos olhos, a curva do nariz. Era sutil, mas estava lá. Uma assinatura genética que o tempo não conseguiu apagar.

"Disseram-nos que você tinha nascido muito doente" , continuou Ana, os olhos cheios de lágrimas. "Disseram que você não sobreviveria. E depois... que você tinha morrido. Nós acreditamos. Eu chorei por dias."

A história era trágica, digna de um roteiro de novela. E foi exatamente isso que pensei. A ironia da situação quase me fez sorrir. Minha vida, até então tão comum, de repente se tornara um clichê dramático.

Ana me olhava com expectativa, esperando uma reação, uma lágrima, um abraço. Eu não lhe dei nada disso. Apenas dobrei o exame de DNA e o coloquei de volta no envelope.

"E o que vocês querem de mim agora?" , perguntei, sentando-me novamente.

"Queremos que você venha para casa, Mariana" , disse ela, usando o nome que eles haviam me dado. "Para o seu verdadeiro lar. Para ter a vida que você deveria ter tido."

Pensei nos meus pais lá embaixo. Pensei na minha oficina, no meu namorado Ricardo, na minha vida. Aquela vida que eu construí com as minhas próprias mãos.

"Meu nome é Maria" , corrigi-a gentilmente. "E eu tenho algumas condições."

            
            

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