O cheiro de verniz e madeira antiga é o meu porto seguro, o ritmo da minha vida simples e feliz ao lado dos meus pais adotivos, Roberto e Lúcia.
Até que um carro preto luxuoso parou em frente à minha modesta oficina, e uma mulher elegante desceu.
Ela olhou para mim de cima a baixo, seus olhos arregalados por algo que eu não entendia.
"Eu sou sua mãe. Sua mãe biológica," ela disse, e meu mundo, embora não parasse, nunca mais seria o mesmo.
Com a maior calma do mundo, voltei a limpar o meu armário.
"A senhora deve estar enganada," eu falei, com a voz firme. "Minha mãe está lá em cima, preparando o almoço."
Mas a vulnerabilidade palpável em seu rosto me confirmou que aquilo não era uma piada de mau gosto.
Ela me trouxe para uma vida que, supostamente, deveria ter sido minha, mas que me parecia fria e estranha.
João, meu pai biológico, me olhou como uma mercadoria e me deu uma ordem: "Seu nome agora será Mariana Albuquerque Martins. Espero que saiba se comportar e não nos envergonhe."
"Meu nome é Maria," respondi com calma, mantendo seu olhar.
Naquela casa de aparências, a humilhação veio em forma de presentes desiguais: um colar de diamantes para Clara, a filha que João mimava, e uma pulseira barata para mim.
Clara, com um sorriso venenoso, me ofereceu o colar dela: "Oh, a sua é tão... simples. Combina com você."
Eu peguei a pulseira, senti a qualidade, ou a falta dela, e mostrei a João o quão patético ele era ao tentar me depreciar.
"Esta pulseira," eu disse, "é banhada a prata. E de má qualidade... Vale uns cinquenta reais, talvez cem... Eu sei do que estou falando. É o meu trabalho."
A primeira batalha havia sido vencida, mas a guerra estava apenas começando.
E eu, Maria, estava pronta para lutar por cada pedacinho da minha verdade.