O Cheiro do Engano
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Capítulo 2

Ricardo voltou para o seu pequeno quarto nos fundos da propriedade da família de Juliana, o único espaço que ele podia chamar de seu.

O ar estava pesado, carregado com a humilhação que ele acabara de sofrer.

Cada objeto no quarto, cada livro, cada peça de roupa, parecia zombar dele, um lembrete de sua vida ingênua e de seus sonhos destruídos.

Ele se sentou na beirada da cama, a cabeça entre as mãos, a raiva e a dor lutando dentro dele.

Ele se sentia impotente, encurralado.

Um barulho do lado de fora o tirou de seus pensamentos.

Era a voz de André, o jardineiro idoso que trabalhava para a família de Juliana há décadas.

André era um homem simples e leal, e tinha um carinho especial por Ricardo, vendo nele a mesma honestidade e trabalho duro que ele valorizava.

"Por favor, senhor Gustavo, não faça isso! As flores não fizeram nada!"

Ricardo se levantou e foi até a pequena janela.

Do lado de fora, no jardim que André cuidava com tanto esmero, Gustavo estava parado com um taco de golfe na mão.

Ao seu lado, seus dois seguranças, dois homens enormes de terno preto, observavam com indiferença.

Com um sorriso cruel, Gustavo balançou o taco e decapitou uma fileira de rosas premiadas, as pétalas vermelhas se espalhando pelo gramado como gotas de sangue.

André, um homem de quase setenta anos, tentou intervir, colocando-se na frente de um canteiro de tulipas.

"Pare, por favor!"

Um dos seguranças de Gustavo empurrou André com força.

O velho jardineiro caiu no chão, a mão batendo em uma pedra decorativa.

Ricardo viu a dor no rosto de André e sentiu a raiva explodir dentro dele, uma fúria vermelha e quente.

Atacar um homem velho e indefeso, destruir o trabalho de sua vida por puro capricho, isso era mais do que Ricardo podia suportar.

Ele abriu a porta do quarto com um estrondo e marchou para o jardim.

"Deixe ele em paz!" gritou Ricardo.

Gustavo se virou, o sorriso presunçoso de volta ao rosto. Ele parecia estar esperando por isso.

"Ah, o noivo traído veio defender o criado. Que cena comovente."

Ele caminhou lentamente até Ricardo, girando o taco de golfe nas mãos. Seus seguranças se posicionaram atrás dele, bloqueando qualquer rota de fuga.

"Você não gostou do que eu fiz com as flores?" Gustavo zombou. "Elas me ofenderam. Assim como você."

Ele parou bem na frente de Ricardo, o espaço pessoal entre eles inexistente.

"Sabe, Ricardo, eu estava pensando. Juliana tem um gosto péssimo para homens. Olhe para você. Fraco. Pobre. Ingênuo."

Ele se aproximou do ouvido de Ricardo e sussurrou, a voz carregada de malícia.

"Mas eu preciso admitir, ela tem um corpo incrível. Eu me diverti muito com ele, na cama que você provavelmente sonhava em compartilhar com ela."

Ele se afastou e riu, um som alto e arrogante.

Para provar seu ponto, ele tirou do bolso um lenço de seda, um que Ricardo havia dado a Juliana em seu aniversário.

Era o lenço favorito dela.

Gustavo o levou ao nariz, cheirando-o de forma exagerada.

"Ainda tem o cheiro dela. O cheiro de nossa tarde juntos. Você quer sentir?"

Ele estendeu o lenço na direção de Ricardo, um convite à humilhação final.

Aquilo foi o estopim.

A imagem de Gustavo usando o presente que ele deu a Juliana, se gabando de sua traição, zombando de sua dor, quebrou a última barreira de controle de Ricardo.

A dor se transformou em pura fúria.

Os olhos de Ricardo escureceram.

Ele não era mais o jovem submisso e ingênuo.

Naquele momento, ele era um homem levado ao limite, um homem com nada a perder.

Gustavo continuou a provocá-lo, sem perceber a mudança nos olhos de Ricardo.

"O que foi? O gato comeu sua língua? Ou você finalmente entendeu o seu lugar? Você é um nada, Ricardo. E eu tenho tudo. Eu tenho o dinheiro, o poder, e eu tenho a sua mulher."

Ele jogou o lenço no chão, bem aos pés de Ricardo, e pisou nele com seu sapato de couro caro.

"Esse é o seu lugar. Debaixo do meu pé."

A provocação final foi dita.

A tensão no jardim era palpável.

André, ainda no chão, olhava com medo para Ricardo, implorando com os olhos para que ele não fizesse nada estúpido.

Mas era tarde demais.

A dignidade de um homem só pode ser pisoteada até certo ponto.

E Gustavo acabara de cruzar essa linha.

            
            

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