O Cheiro do Engano
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Capítulo 3

A raiva de Ricardo explodiu.

Ele não pensou, ele apenas agiu.

Com um grito que veio do fundo de sua alma, ele se lançou contra Gustavo.

O soco pegou Gustavo de surpresa, acertando-o bem no queixo.

O som do osso batendo no osso ecoou pelo jardim silencioso.

Gustavo cambaleou para trás, o sorriso arrogante substituído por uma expressão de choque e dor.

Por um breve segundo, houve uma satisfação imensa no peito de Ricardo, a sensação de finalmente revidar.

Mas foi apenas um segundo.

Os dois seguranças de Gustavo reagiram instantaneamente.

Eles eram profissionais.

Um deles agarrou Ricardo por trás, prendendo seus braços em um aperto de ferro.

O outro avançou e desferiu um soco potente no estômago de Ricardo.

O ar saiu de seus pulmões em um silvo doloroso.

Ele se dobrou, mas o segurança atrás dele o manteve em pé.

Gustavo se recuperou, limpando um filete de sangue do canto da boca.

Seus olhos queimavam de fúria.

"Você... você se atreveu a me tocar?" ele sibilou, a voz distorcida pela raiva. "Você vai se arrepender disso pelo resto da sua vida miserável."

Ele fez um sinal para o segurança na frente de Ricardo.

"Acabem com ele."

O que se seguiu foi uma surra brutal e unilateral.

Socos choveram sobre o rosto e o corpo de Ricardo.

Ele tentou lutar, mas estava imobilizado, um alvo fácil.

A dor era aguda, ofuscante.

Ele sentiu o lábio se partir, o gosto de sangue enchendo sua boca.

Uma dor lancinante explodiu em suas costelas.

Ele caiu de joelhos quando o segurança finalmente o soltou, ofegante e coberto de hematomas.

Mas a humilhação ainda não havia acabado.

A porta da casa se abriu e Juliana saiu, seguida por seus pais.

Ela viu Ricardo no chão, o rosto ensanguentado, e seu olhar não continha um pingo de compaixão.

Havia apenas frieza.

"O que aconteceu?" ela perguntou, a voz irritada.

Gustavo se aproximou dela, colocando um braço possessivo em volta de seus ombros.

"Seu ex-noivo maluco me atacou. Ele precisa aprender uma lição sobre respeito."

Juliana olhou para Ricardo com desprezo.

"Você é um idiota, Ricardo. Sempre foi."

Ela se virou e caminhou até um galpão de ferramentas próximo, voltando com um chicote de equitação fino e flexível, algo que seu pai usava em seus cavalos.

Ricardo olhou para o objeto nas mãos dela, incrédulo.

Ela não faria isso.

Ela fez.

"Talvez isso o ajude a lembrar seu lugar", disse ela, a voz gélida.

E então ela o golpeou.

O chicote estalou no ar e cortou as costas de Ricardo, rasgando sua camisa e sua pele.

A dor foi diferente de qualquer coisa que ele já sentiu, um ardor branco e quente que o fez gritar.

Ele tentou se arrastar para longe, mas um dos seguranças pisou em sua mão, prendendo-o no lugar.

Juliana o golpeou de novo, e de novo.

Cada golpe era uma punição por sua rebeldia, uma afirmação do poder dela sobre ele.

Foi Alberto, o pai de Juliana, quem finalmente a parou.

"Já chega, Juliana. Não queremos que ele morra. Pelo menos não ainda."

Ele se aproximou de Ricardo, que tremia de dor no chão.

Alberto o agarrou pelo cabelo, forçando-o a olhar para cima.

"Peça desculpas ao senhor Gustavo. Agora."

Ricardo cuspiu sangue e terra no chão. "Vá para o inferno."

O rosto de Alberto se contorceu de raiva. Ele deu um tapa no rosto de Ricardo, a cabeça dele estalando para o lado.

"Ingrato! Depois de tudo que fizemos por você! Nós o tiramos da sarjeta, demos um teto sobre sua cabeça, e é assim que você nos agradece? Atacando nossos convidados de honra?"

Ele se virou para Gustavo, a raiva substituída por um sorriso bajulador.

"Senhor Gustavo, por favor, perdoe este verme. Ele não sabe o que faz. Faremos com que ele entenda seu erro."

Naquele momento, vendo a forma como Alberto se curvava para Gustavo, como Juliana estava ao lado dele com o chicote na mão, Ricardo entendeu tudo.

Isso não era apenas sobre o caso de Juliana.

Era uma conspiração.

A família dela não estava apenas tentando encobrir um caso, eles estavam ativamente entregando Juliana a Gustavo.

Eles eram cúmplices, parceiros no plano de usá-lo como um bode expiatório.

A dor física era imensa, mas a dor daquela percepção era ainda pior.

Ele estava completamente sozinho, cercado por monstros.

Gustavo se aproximou, olhando para Ricardo com satisfação.

Ele pegou a mão de Juliana e a beijou, bem na frente de Ricardo.

"Não se preocupe, Alberto. Eu sou um homem compreensivo. Mas ele precisa ser disciplinado."

Ele olhou para Ricardo, o desprezo em seus olhos era absoluto.

"Você vai se casar com Juliana. Você vai sorrir para as câmeras. E você vai ficar quieto enquanto eu faço o que eu quiser com ela. Entendido?"

Ricardo não respondeu. Ele apenas encarou Gustavo, o ódio queimando em seus olhos por trás da dor e do inchaço.

Essa reação silenciosa pareceu irritar Alberto ainda mais.

Ele começou a chutar Ricardo, repetidamente, nas costelas, no estômago, em qualquer lugar que pudesse alcançar.

"Responda a ele! Responda!"

Cada chute roubava o fôlego de Ricardo, cada golpe o levava mais para perto da inconsciência.

Ele podia ouvir Sônia gritando em segundo plano, não para parar, mas para ter cuidado para não deixar marcas visíveis no rosto.

A imagem final que ele teve antes de sua visão escurecer foi a de Juliana, parada ao lado de Gustavo, observando seu pai torturá-lo com uma expressão de total indiferença.

Como se ele fosse um inseto sendo esmagado sob seus pés.

            
            

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