Vingança Silenciosa
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Capítulo 4

"O que você quer dizer com 'outras vezes'?", Heitor perguntou de novo, a voz um fio.

Lúcia correu para o lado de Clara, tentando cobrir suas costas com um pedaço do vestido rasgado. "Senhor, por favor, chega."

Heitor ignorou a governanta. Ele deu um passo em direção a Clara, os olhos fixos nos dela. "Clara, me responda."

Clara não se moveu. Com uma calma assustadora, ela puxou o que restava do zíper do vestido. O tecido escorregou de seus ombros, caindo em uma poça azul no chão. Ela ficou de pé, de costas para ele, vestindo apenas a calcinha.

A luz do quarto revelou a verdade.

As costas de Clara não eram a pele lisa e pálida que ele se lembrava. Eram uma tela de cicatrizes. Linhas brancas, finas e antigas, se misturavam com marcas mais recentes, arroxeadas e amareladas. Havia pequenas cicatrizes redondas, como de queimaduras de cigarro. Havia vergões grossos e desbotados. Era o mapa de anos de sofrimento. A punição que ele acabara de aplicar era apenas mais uma linha desenhada naquele mapa horrível.

Heitor engasgou. O ar pareceu ser sugado de seus pulmões. Ele deu um passo para trás, a mão tremendo tanto que o cinto caiu no chão com um baque surdo.

"O que... o que é isso?", ele conseguiu dizer, a voz quebrada. "De onde veio isso?"

Ele sabia de onde. A "escola de reeducação". O lugar para onde ele a mandou. O lugar que Sofia recomendou como sendo "o melhor, com os métodos mais eficazes".

Lúcia soluçava abertamente agora. "Meu Deus, minha menina... por que você nunca disse nada?"

Clara permaneceu em silêncio, de costas para eles. Ela não precisava dizer nada. As cicatrizes gritavam por ela.

Heitor sentiu o chão sumir. A náusea subiu por sua garganta. Ele, que se orgulhava de seu controle, de saber tudo, não sabia de nada. Ele tinha sido cego. Ele tinha sido o monstro.

"Eu... eu não sabia", ele balbuciou, as palavras soando patéticas até para ele mesmo.

Clara finalmente se virou. Havia um sorriso amargo em seus lábios. Um sorriso que não alcançava seus olhos mortos. "Agora você sabe."

O eco daquelas palavras ficou na sala. "Agora você sabe." Era uma acusação e uma condenação.

Nesse momento, Sofia apareceu na porta, atraída pelo barulho. "Heitor? O que está acontecendo?"

Ela viu a cena: Lúcia chorando, Heitor pálido como um fantasma, e Clara, seminua, com as costas expostas. O choque no rosto de Sofia foi genuíno, mas rapidamente substituído por outra coisa.

"Oh, meu Deus! Clara!", ela correu para o lado de Heitor. "Querido, não olhe. Ela está fazendo isso para te manipular! Ela está se machucando para fazer você se sentir culpado! Eu li sobre isso, é um distúrbio!"

A mente de Heitor, já em frangalhos, agarrou-se à explicação de Sofia. Era mais fácil acreditar que Clara era louca do que aceitar que ele era o responsável por aquela atrocidade.

A raiva voltou, uma defesa contra a culpa esmagadora. "Você é doente", ele disse para Clara, o rosto contorcido. "Você faz isso consigo mesma?"

Clara o olhou, e pela primeira vez em muito tempo, ela riu. Uma risada seca, sem alegria. "Sim, Heitor. Eu sou a louca. É muito mais conveniente, não é?"

Ele a agarrou pelos ombros, ignorando as cicatrizes. "Vista-se. E não saia deste quarto."

Ele se virou e saiu, puxando Sofia com ele. "Não se preocupe, querida. Eu vou resolver isso", ele disse a ela.

Lúcia correu para Clara com um roupão. "Minha filha, nós temos que sair daqui. Ele vai te machucar mais."

Clara vestiu o roupão, o tecido macio uma tortura contra a pele ferida. "Não há para onde ir, Lúcia. Ele é dono de tudo."

Ela se deitou na cama, de bruços. A dor era familiar. Quase reconfortante em sua constância. Ela se lembrou de uma das poucas lembranças boas que tinha. Uma vez, quando ela estava doente com febre, anos atrás, antes de Sofia, Heitor ficou ao seu lado. Ele mesmo fez um chá de gengibre com mel para ela. Ele colocou um pano frio em sua testa. Onde estava aquele homem?

A lembrança era dolorosa. Era de um tempo em que ela ainda tinha esperança. Antes de aprender que o cuidado dele era apenas outra forma de posse.

Ela fechou os olhos. Não adiantava pensar no passado. O passado era apenas dor. O presente era dor. O futuro... ela não conseguia mais imaginar um futuro.

Ela adormeceu, um sono pesado e sem sonhos, o corpo exausto, a alma em frangalhos.

Quando acordou, a luz da manhã entrava pela janela. Lúcia estava sentada numa cadeira ao lado da cama. Ela tinha passado a noite ali.

"Como você está, querida?", Lúcia perguntou, a voz cheia de preocupação.

"Eu estou bem", mentiu Clara.

O sonho da noite anterior voltou à sua mente. O Heitor que cuidava dela. Era um sonho ou uma lembrança? A linha entre eles estava borrada. A realidade era o quarto trancado, as costas ardendo e a certeza de que nada mudaria. Aquele breve momento de revelação na noite anterior não significou nada. Heitor escolheu acreditar na mentira de Sofia. Como sempre.

                         

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