Capítulo 3

A notícia de que eu havia devolvido o anel a Pedro e terminado o noivado caiu como uma bomba na minha família, meu pai ficou furioso. Ele me trancou no meu quarto, gritando que eu era uma idiota por estragar a única chance que tínhamos. A humilhação de ser abandonada por Pedro já era ruim o suficiente, mas a reação da minha própria família tornava tudo insuportável. Eles não se importavam comigo, apenas com a aliança quebrada com a família Santos.

Meus pais passaram dias tentando consertar as coisas, meu pai ligou para o pai de Pedro, implorando, se humilhando, tentando salvar o acordo de negócios que dependia do nosso casamento. Minha mãe tentou falar com a mãe de Pedro, apelando para a longa amizade delas, mas foi tudo em vão. A família Santos nos cortou completamente.

A notícia do noivado de Pedro com Sofia se espalhou como fogo, em poucos dias, toda a alta sociedade da cidade estava comentando. Eu me tornei motivo de piada, a noiva abandonada, a tola traída pela melhor amiga. A vergonha da minha família era palpável, eles mal saíam de casa, com medo de enfrentar os olhares de pena e os sussurros maldosos.

As mensagens no meu celular eram cruéis, minhas antigas "amigas" , as mesmas que antes invejavam meu relacionamento com Pedro, agora se deliciavam com a minha desgraça. Elas enviavam fotos de Pedro e Sofia juntos, sorrindo e felizes, com comentários sarcásticos sobre como eles formavam um casal muito melhor. Cada mensagem era um novo golpe, revelando a falsidade do círculo social em que eu vivia. Eu me sentia completamente isolada e sozinha.

Uma noite, meus pais me chamaram para o escritório, as expressões deles eram sombrias e desesperadas.

"A situação é pior do que pensávamos" , disse meu pai, a voz pesada, "Estamos prestes a perder tudo, a menos que..."

"A menos que você aceite a proposta do senhor Mendes" , completou minha mãe, olhando para mim com olhos frios.

Eu fiquei em silêncio, o choque inicial dando lugar a um pavor crescente.

"Quem é esse homem? Por que ele quer se casar comigo?" , eu perguntei, a voz fraca.

"João Mendes é o tio de Pedro, o verdadeiro poder por trás da família Santos" , explicou meu pai, "Ele é um homem muito rico e influente, mas... ele tem alguns problemas de saúde."

"Que tipo de problemas?" , eu insisti, um mau pressentimento se formando no meu estômago.

Minha mãe hesitou, desviando o olhar, "Ele sofreu um acidente grave há algum tempo, ficou... incapacitado. Ele está em uma cadeira de rodas, mal consegue se mover ou falar."

A revelação me atingiu como um soco, eles queriam que eu me casasse com um homem inválido, um homem que eu nunca tinha visto, para salvar a fortuna da família. Era monstruoso, era desumano. O horror deve ter ficado estampado no meu rosto.

"Maria" , minha mãe disse, a voz dela subitamente suave, uma tática de manipulação que eu conhecia muito bem, "Pense no seu irmão mais novo, no futuro dele, se não fizermos isso, ele não poderá continuar na escola particular, não terá as mesmas oportunidades."

Eles estavam usando meu amor pelo meu irmão, Lucas, contra mim. Ele era a única pessoa naquela casa que eu amava de verdade, a única luz na minha vida sombria. A ideia de que ele sofreria por causa dos erros da nossa família era insuportável.

A culpa e o ressentimento lutavam dentro de mim, eu me sentia presa, sem saída. Eu olhei para os rostos egoístas dos meus pais e depois pensei no sorriso inocente de Lucas. A decisão foi tomada naquele instante, um sacrifício silencioso.

"Eu aceito" , eu disse, a voz sem emoção, "Eu me caso com o senhor Mendes."

Eu faria qualquer coisa para proteger meu irmão, mesmo que isso significasse destruir a mim mesma. Uma calma resignada tomou conta de mim, a força silenciosa de quem não tem mais nada a perder.