Capítulo 4

Depois de tomar a decisão, uma estranha sensação de alívio tomou conta de mim, era a calma de quem aceitou seu destino, por mais terrível que fosse. Pelo menos a incerteza havia acabado, eu sabia o que me esperava, um casamento sem amor com um homem incapacitado, uma vida de sacrifício. Mas era um sacrifício com um propósito, proteger meu irmão.

Eu liguei para minha única amiga de verdade, Clara, a única que ficou do meu lado depois do escândalo. Ela não fazia parte do nosso círculo social rico e falso, nós nos conhecemos na faculdade de moda e nossa amizade era genuína.

"Vamos sair" , eu disse a ela no telefone, "Preciso de uma noite normal antes de... tudo."

Clara, sempre leal e protetora, concordou imediatamente, ela sugeriu um bar novo e tranquilo, longe dos lugares que eu costumava frequentar com Pedro, um lugar onde eu pudesse relaxar sem medo de encontrar rostos conhecidos.

Nós estávamos sentadas em uma mesa no canto, conversando e tentando esquecer meus problemas, quando eu a vi. Sofia, a noiva de Pedro, minha ex-melhor amiga, estava do outro lado do bar. Mas ela não parecia a socialite elegante que eu conhecia, ela usava um vestido curto e vulgar, a maquiagem era pesada e ela ria alto, se insinuando para um grupo de homens mais velhos e de aparência duvidosa. Eu fiquei chocada, confusa.

"O que ela está fazendo aqui?" , eu sussurrei para Clara, "E vestida desse jeito?"

Clara olhou para Sofia com desprezo, "Você não sabia, Maria? Essa é a verdadeira Sofia, por trás da fachada de menina rica e inocente, ela trabalha como acompanhante de luxo, ela entretém homens ricos em troca de dinheiro e presentes, é assim que ela paga por seu estilo de vida extravagante."

A revelação me deixou sem palavras, a inveja que Sofia sempre sentiu de mim, o jeito como ela me copiou, tudo começou a fazer sentido. Ela não queria apenas o meu namorado, ela queria a minha vida, a legitimidade e o status que ela nunca poderia ter por conta própria.

De repente, Sofia me viu, um sorriso malicioso se formou nos lábios dela, ela se levantou e veio em nossa direção, cambaleando um pouco.

"Ora, ora, se não é a pobre Maria" , ela disse em voz alta, atraindo a atenção das pessoas ao redor, "Veio afogar as mágoas? Não se preocupe, eu estou cuidando muito bem do Pedro para você."

A provocação dela foi a gota d'água, a raiva que eu vinha reprimindo explodiu.

"Cale a boca, Sofia" , eu disse, a voz fria e firme.

Minha reação pareceu incitá-la ainda mais, "O que foi? A verdade dói? Você é tão patética, sempre foi."

Enquanto ela falava, um dos homens com quem ela estava se levantou e veio até nossa mesa, ele estava bêbado e parecia irritado por ter sido abandonado.

"Quem é essa?" , ele perguntou, apontando para mim.

"Apenas a ex-namorada invejosa do meu noivo" , Sofia respondeu, se fazendo de vítima, "Ela está me assediando."

O homem, instigado por Sofia, se virou para mim, o rosto vermelho de raiva e álcool, "Deixe-a em paz!" , ele gritou e, antes que eu pudesse reagir, ele jogou o copo de bebida em mim. O líquido gelado escorreu pelo meu cabelo e roupas, eu fiquei paralisada, em choque com a agressão.

No meio da confusão, Pedro chegou, ele deve ter ido buscar Sofia. Ao ver a cena, ele correu para o lado dela, que imediatamente começou a chorar e a se agarrar a ele.

"Pedro, querido, foi horrível!" , ela soluçou, "Maria me atacou, ela está com ciúmes, ela me empurrou!"

Era uma mentira descarada, mas Pedro, cego pela adoração por ela, acreditou em cada palavra. Ele olhou para mim, o rosto uma máscara de fúria e desprezo. Sofia, por trás do ombro dele, sorriu para mim, um sorriso vitorioso e cruel. Para completar o teatro, ela levantou a manga do vestido, revelando um arranhão falso no braço, uma marca que ela mesma devia ter feito antes.

"Olhe o que ela fez comigo!" , ela choramingou, apontando para o arranhão. O nojo e a frustração me deixaram sem palavras, eu estava presa em uma teia de mentiras e manipulação, completamente indefesa.