Eu apenas balancei a cabeça, incapaz de formular uma resposta. As lágrimas que eu segurei com tanta força na frente deles agora escorriam livremente pelo meu rosto. Eu me sentia patético, um homem adulto chorando no meio da rua.
Ana não disse nada. Apenas me entregou um lenço. O gesto simples me atingiu com mais força do que qualquer palavra de consolo.
Entrei no carro e ela começou a dirigir, sem perguntar para onde. O silêncio era preenchido apenas pelo som dos meus soluços contidos.
Meu celular vibrou no bolso. Era uma mensagem de Sofia. Contra meu bom senso, eu a abri.
"Espero que você tenha entendido o recado, Ricardo. Não volte a nos procurar. Eu e Lucas vamos nos casar em breve. Ah, e mamãe já doou aquelas suas roupas velhas. Estavam ocupando espaço."
A crueldade dela era inacreditável. Ela não se contentava em me descartar, ela precisava me chutar enquanto eu estava no chão.
Com os dedos trêmulos, eu disquei o número dela. Eu precisava ouvir da boca dela. Precisava do golpe final para me convencer de que tudo aquilo era real.
Ela atendeu no primeiro toque. "O que foi agora? Esqueceu alguma coisa?"
"Sofia, por quê?" foi tudo que consegui dizer.
"Por quê? Ricardo, por favor, não seja ingênuo," ela riu, e eu pude ouvir a voz de Lucas ao fundo. "Olhe para você e olhe para mim. Somos de mundos diferentes. Eu preciso de um homem que possa me dar o mundo, não um médico idealista que quer trabalhar em um hospital de cidade pequena. Lucas pode me dar tudo. Você não pode me dar nada."
"Eu te dei meu amor. Minha lealdade. Minha vida," minha voz era um sussurro quebrado.
"E eu agradeço por isso. Foi útil," ela disse, com uma frieza calculada. "Mas agora meu futuro é com o Lucas. Siga sua vida, Ricardo. Encontre uma enfermeira qualquer que se contente com pouco. É o máximo que você vai conseguir."
O som da ligação sendo encerrada foi como uma porta se fechando na minha cara. Era o fim. A fantasia que eu nutri por toda a vida havia se despedaçado em milhões de pedaços.
Meu celular vibrou novamente. Uma notificação do Instagram. O perfil de Lucas. Ele havia postado uma foto. Ele e Sofia, sorrindo, abraçados na sala de estar da casa dela. A legenda dizia: "Finalmente, livrando a casa do lixo e começando nosso futuro juntos. Te amo, minha noiva."
Eles estavam comemorando. Comemorando a minha expulsão. A minha dor.
Aquilo foi o suficiente. A dor se transformou em uma raiva fria e decidida. Eu não ia mais chorar por ela. Eu não ia mais me lamentar por um amor que nunca existiu.
Peguei o celular e, com um movimento rápido, bloqueei o número de Sofia, de Lucas, e de todos os membros da família Oliveira. Apaguei todas as fotos, todas as conversas. Eu estava apagando meu passado, um toque de cada vez.
"Me leve para o hospital," eu disse a Ana, a voz firme.
"Você tem plantão hoje?" ela perguntou, surpresa com a mudança no meu tom.
"Não," eu respondi, olhando para a estrada à frente. "Eu vou pedir demissão. E vou aceitar o cargo no outro hospital. Eu vou embora desta cidade. Hoje."
A decisão, antes assustadora, agora era a minha única esperança. Eu precisava me afastar de tudo que me lembrava dela. Precisava começar de novo, em um lugar onde ninguém conhecesse meu nome ou a história da minha humilhação. Casado com uma estranha, indo para uma cidade desconhecida. Minha vida havia se tornado um caos, mas pela primeira vez em muito tempo, eu senti que estava no controle.