Casamento Cancelado: Amor Real
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Capítulo 2

No dia seguinte, a ressaca era a menor das minhas dores.

Minha cabeça latejava, mas meu coração estava em pedaços, eu me arrastei para fora da cama e me olhei no espelho.

O homem que me encarava de volta era um estranho, com olhos vermelhos e uma expressão vazia.

Foi então que a ficha caiu, com uma clareza brutal.

Sofia não me amava, talvez nunca tenha amado, eu era apenas uma conveniência, um porto seguro para onde ela voltava quando o mar com Gabriel ficava agitado.

Lembrei de todas as vezes que ela brigava com a família ou tinha um problema no trabalho, ela sempre me procurava, chorava no meu ombro, me usava como seu saco de pancadas emocional.

E eu, como um tolo, sempre a acolhia.

Uma memória específica veio à minha mente, de uns dois anos atrás.

Eu estava cansado da situação, da presença constante de Gabriel em nossas vidas.

Eu a chamei para conversar, com o coração na mão.

"Sofia," eu disse, com a voz falhando, "eu vejo o quanto você se importa com o Gabriel, e eu vejo como ele precisa de você."

Ela me olhou, desconfiada.

"Se você o ama, se você acha que o seu lugar é ao lado dele, eu vou entender, eu só quero que você seja feliz, mesmo que não seja comigo."

Eu estava oferecendo a ela uma saída, uma chance de ser honesta comigo e com ela mesma.

A reação dela não foi de alívio ou gratidão.

Foi de fúria.

"Como você ousa dizer uma coisa dessas? Você está me acusando de te trair? Você está insultando a nossa amizade, a minha dedicação a um amigo doente! Você é tão pequeno, Ricardo, tão inseguro!"

Ela virou o jogo contra mim, me fez sentir culpado por ter sequer sugerido aquilo, me fez sentir um monstro ciumento e possessivo.

E eu acreditei.

Pedi desculpas, implorei pelo perdão dela, prometi nunca mais tocar no assunto.

Agora, olhando para trás, eu via a manipulação clara em suas palavras.

A raiva borbulhou dentro de mim, uma raiva que eu nunca tinha sentido antes.

Fui para a cozinha e peguei uma garrafa de cerveja na geladeira, eram nove da manhã de uma segunda-feira.

Eu nunca bebia de manhã, nunca faltava ao trabalho.

Mas naquele dia, as regras não importavam mais.

Liguei para o meu chefe e inventei uma desculpa qualquer, disse que estava doente.

Passei o dia inteiro no sofá, bebendo e assistindo a filmes ruins, o celular desligado.

Perto das seis da tarde, a campainha tocou insistentemente.

Eu ignorei.

Então, meu interfone começou a tocar sem parar.

Era Sofia.

"Ricardo, abre a porta! Eu sei que você está aí! Onde você se meteu o dia todo? Fiquei preocupada!"

A voz dela soava irritada, não preocupada.

Eu continuei em silêncio.

"Ricardo, por favor! Vamos conversar! Eu fiz uma besteira, eu sei! Me desculpa! Eu prometo que vou te compensar!"

A mesma ladainha de sempre, primeiro a raiva, depois o pedido de desculpas, seguido da promessa de uma "recompensa".

Ela sabia exatamente como me manipular.

Mas algo dentro de mim havia mudado.

O feitiço estava quebrado.

"Eu te compro aquele console de videogame que você queria! A gente pode passar o fim de semana inteiro jogando, o que você acha?"

A voz dela agora era melosa, sedutora.

Eu senti nojo.

Nojo dela, nojo de mim por ter caído naquilo por tanto tempo.

Não respondi.

Eventualmente, ela desistiu e foi embora.

Eu sabia que no dia seguinte, eu teria que levantar, me vestir e ir trabalhar.

Teria que colocar uma máscara e fingir que tudo estava bem, porque as contas não param de chegar e a vida adulta não permite longos períodos de luto.

Mas eu também sabia que algo fundamental havia se quebrado entre nós.

E não havia console de videogame no mundo que pudesse consertar.

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