"Eu sei que errei, Ricardo," ela disse, a voz baixa, quase um sussurro.
"Mas eu quero consertar as coisas."
Ela estendeu a mão sobre a mesa, tentando tocar a minha, mas eu a recolhi.
"Eu estava pensando," ela continuou, ignorando minha rejeição, "talvez a gente não precise de uma festa grande, de uma igreja, de tudo isso."
O coração dela não estava naquilo, era óbvio.
Ela estava apenas jogando, tentando encontrar a combinação certa de palavras para me fazer ceder.
"A gente podia só ir no cartório, só nós dois," ela disse, e então veio o golpe, "pelo menos por enquanto."
"Por enquanto?" repeti, a ironia pesando na minha língua.
"É, sabe como é... com o Gabriel... ele ficaria muito mal se soubesse que a gente casou de verdade, ele se sentiria abandonado."
A menção do nome dele foi como um choque elétrico, uma dor familiar e aguda que percorreu meu corpo.
Eu me esforcei para manter a expressão neutra, mas por dentro, eu estava gritando.
Até mesmo na sua proposta de "consertar as coisas", Gabriel era o centro do universo.
Ela abriu a bolsa e tirou uma pequena caixa de veludo.
"Mas eu comprei isso, para mostrar que é sério."
Ela abriu a caixa, revelando um anel simples de prata.
"Não é uma aliança oficial, mas é um símbolo, uma promessa, de que um dia, quando o Gabriel melhorar, nós vamos nos casar de verdade."
Eu olhei para o anel, depois para ela.
A que ponto nós chegamos?
Ela estava me oferecendo um casamento de mentira, um prêmio de consolação, porque o amor e a lealdade dela já tinham dono.
E o pior era que, por um segundo, uma parte estúpida de mim quase considerou.
Mas então, eu me lembrei da dor, da humilhação, da solidão.
Eu não queria um anel, eu não queria uma promessa vazia.
Eu queria ser a prioridade de alguém.
Eu queria um amor que não viesse com condições, com um asterisco, com o nome de outra pessoa anexado.
Abri a boca para dizer não, para terminar tudo ali, de uma vez por todas.
Mas antes que eu pudesse pronunciar a primeira palavra, o celular dela tocou.
O toque era alto, estridente, quebrando a pouca paz que restava no ambiente.
Ela olhou para a tela e seu rosto se transformou.
A preocupação tomou conta de suas feições.
Era ele. Claro que era ele.
"Alô? Gabriel? O que foi? Calma, respira! Onde você está? Estou indo pra aí agora!"
Ela se levantou abruptamente, a cadeira arrastando no chão com um barulho seco.
Ela nem olhou para mim.
Não disse adeus, não pediu desculpas.
Ela simplesmente jogou umas notas de dinheiro na mesa e correu para a saída, me deixando sozinho com um anel de promessa falso e uma conta pela metade.
O padrão se repetia, imutável, cruel.
Era a mesma cena, o mesmo roteiro, a mesma dor.
Eu fiquei ali, paralisado, observando a porta por onde ela saiu.
O garçom se aproximou, sem graça.
"Senhor, está tudo bem?"
Eu olhei para ele, um sorriso amargo no rosto.
"Tudo ótimo," respondi. "Nunca esteve melhor."
Paguei a conta e saí do restaurante, deixando para trás a caixa de veludo na mesa.
Um símbolo perfeito para o nosso relacionamento: uma promessa vazia, abandonada.
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