Capítulo 3

Clara foi a primeira a quebrar o silêncio. Soltou um pequeno grito e se agarrou ao braço de Pedro, como uma criança assustada procurando proteção.

"Pedro, quem é essa louca? Manda ela embora daqui!"

Ela olhava para Sofia com os olhos arregalados, o rosto uma máscara de falsa inocência e medo. Pedro, ainda atordoado pelo tapa, apenas olhava para Sofia, sem saber o que dizer.

Sofia soltou uma risada curta, sem humor.

"Louca? Eu sou a noiva dele. Ou pelo menos era, até cinco minutos atrás."

Ela olhou diretamente para Pedro, a voz cortante.

"Então é aqui que você está 'cuidando' da sua mãe doente? Uma festa de aniversário? Que recuperação milagrosa."

A ironia em sua voz era palpável. A menção da mãe doente fez Pedro estremecer.

Antes que ele pudesse responder, um dos amigos de Clara, um jovem de aparência arrogante, se aproximou de Sofia.

"Ei, qual é o seu problema? Você não vê que está atrapalhando? Se você é alguma ex maluca, supera e vai embora. Ninguém te quer aqui."

Outra garota se juntou a ele, olhando Sofia de cima a baixo com desdém.

"Olha só pra ela. Com essa roupa simples. Deve ser uma daquelas funcionárias da empresa dele que não se toca. Acha que pode vir aqui e fazer uma cena?"

As palavras deles eram como pequenas farpas, mas Sofia as ignorou. Seu foco estava em Pedro e Clara.

Clara, vendo que seus amigos a defendiam, ganhou confiança. Ela se levantou do sofá, ficando ao lado de Pedro, e olhou para Sofia com um ar de superioridade.

"Olha aqui, queridinha," disse Clara, a voz melosa e venenosa. "Eu não sei que fantasia você criou na sua cabeça, mas o Pedro e eu estamos juntos há quase um ano. Ele só estava com você por pena. Ele nunca te amou. Ele me ama."

Ela se virou para a multidão.

"Essa mulher é obcecada por ele! Vive perseguindo o Pedro, tentando de tudo para chamar a atenção dele. Agora ela invadiu minha festa de aniversário para fazer esse show. É patético!"

Sofia sentiu o sangue gelar. Quase um ano. Ela fez as contas na cabeça. Eles estavam noivos há dez meses. A traição não era recente. Tinha começado quase imediatamente depois que ele a pediu em casamento. Todo o noivado, todos os planos, todas as promessas, tudo tinha sido uma farsa desde o início.

A dimensão da mentira a atingiu com força total. Não era apenas uma aventura. Era uma vida dupla. Ele a usava, enquanto construía um relacionamento inteiro pelas costas dela. A dor era profunda, um abismo se abrindo em seu peito. A imagem do anel de noivado em seu dedo pareceu queimar sua pele.

Ela olhou para Pedro, esperando que ele dissesse algo, que desmentisse aquela mentira descarada. Mas ele permaneceu em silêncio, o olhar culpado fixo no chão, incapaz de encarar Sofia ou de defender Clara. Seu silêncio era a confissão mais alta de todas.

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