"Funcionária? Obcecada?" Sofia repetiu as palavras com uma calma aterrorizante, olhando para o grupo de amigos de Clara. "Vocês não têm a menor ideia de com quem estão falando."
A amiga de Clara que a havia insultado antes deu um passo à frente, com um copo de bebida na mão.
"Ah, não? E quem você pensa que é? A rainha da Inglaterra? Você é só uma coitada que não aceita um não. Agora, some daqui antes que a gente te tire à força."
E com um movimento rápido e desdenhoso, a garota virou o copo, derramando o líquido gelado e pegajoso sobre a blusa de Sofia.
A bebida escorreu por seu peito e barriga, o tecido grudando em sua pele. Um silêncio chocado caiu sobre a sala por um segundo, seguido por risadinhas abafadas do grupo de Clara. A humilhação era pública, crua.
"Viu só? Você não pertence a este lugar," a garota continuou, o sorriso maldoso nos lábios. "Olha pra você. Toda encharcada. Suas roupas baratas estão arruinadas. Por que não volta para o buraco de onde saiu?"
Os insultos sobre sua aparência, sobre seu suposto status social, eram absurdos. Sofia usava roupas simples de propósito, para não chamar atenção para sua verdadeira identidade. Ela nunca precisou de marcas de luxo para se sentir validada. Mas para eles, as aparências eram tudo. E, naquele momento, ela parecia fraca, pobre e fora de lugar. A ironia era esmagadora. Eles a humilhavam na casa que era dela, zombavam de sua aparência enquanto desfrutavam do luxo que ela proporcionava.
Sofia ignorou a garota. Seus olhos se fixaram em Pedro. Ele tinha visto tudo. O insulto, a agressão. E não fez absolutamente nada. Apenas ficou parado, um espectador covarde em sua própria traição.
"Pedro," a voz dela saiu baixa, mas carregada de uma dor que cortou o ar. "Você vai ficar aí parado? Vendo isso acontecer? Você não vai dizer nada?"
Era um último apelo, uma última chance para ele mostrar um pingo de decência, de respeito pelos anos que passaram juntos.
Mas antes que ele pudesse sequer abrir a boca, Clara interveio, sua mão deslizando pelo braço dele de forma possessiva. Sua voz era um sussurro sedutor, alto o suficiente para que Sofia ouvisse.
"Amor, não dê atenção a ela. Ela está tentando te manipular. Ela não te respeita. Ela veio aqui, na minha festa, e te agrediu na frente de todo mundo. Eu nunca faria isso com você. Eu te respeito. Eu te valorizo."
A manipulação era genial em sua crueldade. Ela o pintava como a vítima, elogiava seu ego ferido e se colocava como a parceira leal e compreensiva. E Pedro, fraco e egocêntrico, caiu na armadilha.
Ele finalmente levantou a cabeça, mas não olhou para Sofia com remorso. Olhou com raiva. A raiva de quem foi exposto.
"Você ouviu a Clara," disse ele, a voz firme pela primeira vez naquela noite. "Você causou essa cena. Você me humilhou. Agora, vá embora. Agora."
A última centelha de esperança no coração de Sofia se apagou. A traição estava completa. Ele não era apenas um infiel; era um cúmplice ativo em sua humilhação.
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