A Joia Quebrada Que Voltou a Brilhar
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Capítulo 1

A sala de reuniões da Hayes Joalheiros, em Lisboa, estava mergulhada num silêncio pesado. O ar condicionado soprava um frio que não conseguia aliviar o calor da ansiedade.

Meu avô, o patriarca da família Hayes, tinha o rosto pálido, e os meus pais olhavam para os documentos sobre a mesa como se fossem sentenças de morte. A nossa prestigiada joalheria, um legado de gerações, estava à beira da falência.

"A única solução é a fusão com o império Neame," disse o nosso advogado, com a voz baixa. "Mas o Sr. Hugo Neame tem uma condição."

Todos os olhos se viraram para mim.

"Ele exige casar-se com a herdeira principal, Bethany Hayes."

Um suspiro coletivo encheu a sala. Meu irmão mais velho, visivelmente aliviado por não ser o sacrifício, olhou para mim com pena.

"Isso é um absurdo! Não podemos vender a Bethany!" A minha mãe protestou, a voz a tremer.

Meu avô bateu na mesa com a mão trémula. "Nunca! A Bethany é a nossa joia da coroa, não uma mercadoria!"

Eu olhava para eles, sentindo o peso da sua oposição. Mas também via o desespero nos seus olhos. A empresa era a vida deles, o sustento de centenas de funcionários.

"Eu aceito."

A minha voz soou estranhamente calma na sala silenciosa.

"Bethany, não!" gritou a minha mãe.

"Avô, mãe, pai," eu disse, olhando para cada um deles. "Eu sei o que isto significa. Mas a família vem primeiro. É o meu dever."

Havia outra razão, uma que eu não conseguia confessar. O meu coração já estava partido, estilhaçado pela negligência de Leonel.

Na noite anterior, tínhamos um jantar crucial de noivado. As nossas famílias, os Hayes e os Gordon, iam finalmente oficializar o que todos esperavam há anos. Mas Leonel não apareceu.

Ele ligou, a sua voz apressada e cheia de preocupação. "Bethany, desculpa. A Raelyn passou mal subitamente, preciso de a levar ao hospital. Não posso ir."

Aquela desculpa, sempre a mesma. Sempre a Raelyn.

Levantei-me, a decisão a solidificar-se dentro de mim. "Está decidido. Eu caso com o Hugo Neame."

Caminhei para fora da sala, sentindo os seus olhares nas minhas costas. A dor nos meus olhos era seca, sem lágrimas. O corredor parecia frio, e cada passo afastava-me da vida que eu conhecia.

Ao chegar a casa, o meu telemóvel tocou. Era o Leonel.

"Bethany, meu amor! Onde estás? Estou à porta da tua casa. O jantar de ontem foi um desastre, eu sei, mas podemos compensar hoje. A Raelyn já está melhor."

A sua voz era cheia da confiança de quem nunca duvidou do nosso amor. A ironia era dolorosa.

"Leonel, estou em casa," respondi, a voz vazia.

"Ótimo! Estou a entrar."

Ele entrou, sorridente e carismático como sempre, segurando um ramo de rosas. "Para a minha futura noiva."

Ele não sabia que já era tarde demais.

"A Raelyn teve apenas uma pequena crise de ansiedade," ele explicou, como se isso justificasse tudo. "O médico disse que ela precisa de um ambiente estável. Depois de nos casarmos, vou arranjar-lhe um pequeno apartamento perto da quinta. Ela ficará bem, e nós teremos a nossa vida."

Um pequeno apartamento. Um "status" menor, mas seguro. A sua generosidade era como uma faca cega a cortar a minha alma. Ele estava a planear o futuro dela antes de solidificar o nosso.

Lembrei-me dos nossos verões no Douro, das promessas sussurradas sob as vinhas. Ele dizia que eu era o seu único sol, a sua única estrela. Éramos o casal dourado de Lisboa e do Porto.

Tudo mudou quando o irmão de Raelyn morreu.

Ele salvou Leonel de um acidente na adega, e desde então, Leonel carregava uma dívida de vida. Trouxe Raelyn, então uma adolescente frágil, para viver na quinta dos Gordon.

No início, era compreensível. Mas a sua "necessidade" dela cresceu. Aniversários meus interrompidos porque ela "se sentia sozinha". Viagens nossas canceladas porque ela "tinha um pesadelo". O jantar de noivado foi apenas a gota de água.

Meu avô tinha-me avisado. "Ele coloca a gratidão acima do amor, Bethany. Isso vai destruir-te."

Eu não quis ouvir. Agora, a desilusão era completa.

"Um apartamento para ela," repeti, a voz sem emoção. "Que atencioso da tua parte."

Um sorriso amargo tocou os meus lábios. Eu aceitei o meu novo destino.

Leonel, sentindo a minha frieza, aproximou-se e tentou abraçar-me. "Bethany, o que se passa? Estás com ciúmes? Não precisas. Tu és a única para mim. Depois do casamento..."

"Leonel," interrompi-o, afastando-me. "Eu concordo com os teus arranjos para a Raelyn."

Ele pareceu aliviado. "Eu sabia que ias entender."

"Mas," continuei, a minha voz a ganhar uma firmeza que o surpreendeu, "tenho uma condição."

            
            

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