Raelyn, nos seus braços, começou a chorar ainda mais alto. "A culpa é minha, Leonel! Não culpes a Bethany. Eu não devia ter tocado nas coisas dela. Eu disse-lhe que pagava, mas ela ficou tão zangada... Eu só queria mostrar-lhe que estava arrependida."
A sua falsa confissão foi uma obra-prima de manipulação.
A raiva de Leonel virou-se para a Sra. Almeida. "E tu! Em vez de acalmares a situação, ficas aqui a acusar uma rapariga ferida? És paga para cuidar da casa, não para criar intrigas!"
"Mas, Sr. Leonel, eu vi..."
"Chega!" ele rugiu.
Raelyn, sentindo o seu poder, levou o drama a um novo extremo. Ela soltou-se de Leonel, correu para a parede e bateu com a cabeça com força. Não o suficiente para se magoar a sério, mas o som oco e o seu gemido de dor foram suficientes.
"Se não acreditas em mim, eu morro para provar a minha inocência!" ela gritou, dramática.
Leonel apanhou-a antes que ela caísse, o seu rosto uma máscara de fúria protetora. Ele virou-se para mim, a sua voz gélida. "Estás satisfeita agora, Bethany? Olha o que fizeste! A tua crueldade não tem limites?"
"Leonel, por favor, ouve," eu comecei, a minha voz a falhar.
"A Menina Bethany nunca faria tal coisa!" A Sra. Almeida tentou novamente, desesperada. "A menina Raelyn é que tem manipulado tudo desde que chegou! Ela destruiu as joias de propósito!"
"Manipulado?" Leonel riu, um som amargo. "A única falta de sinceridade que vejo aqui é a tua, Bethany. Recusas-te a admitir que foste tu que a levaste a este ponto."
Ele olhou para a Sra. Almeida com desprezo. "Qual é o castigo por destruir propriedade e magoar alguém nesta casa?"
A Sra. Almeida empalideceu. "Cinquenta chicotadas, senhor."
"Então dá-lhas," disse Raelyn, a voz fraca. "Eu aceito o castigo."
"Não," disse Leonel, a sua voz ressoando com uma decisão chocante. "Eu aceito o castigo por ela."
Ele despiu a camisa, revelando as suas costas musculosas. Pegou no chicote da mão de um segurança que tinha sido chamado pela comoção.
"Leonel, não!" gritei, o meu coração a parar.
Ele entregou o chicote ao segurança. "Faz. Cinquenta."
O primeiro golpe estalou no ar, deixando uma marca vermelha nas suas costas. Eu estremeci. O sangue começou a brotar no segundo, no terceiro. Ele não emitiu um som, o seu maxilar cerrado, os seus olhos fixos em Raelyn com uma devoção doentia.
Cada golpe era uma facada no meu coração, cada gota do seu sangue era a prova final da sua escolha. Ele estava a sacrificar-se fisicamente por ela, para proteger a "honra" dela de uma acusação que ele acreditava vir de mim.
Quando acabou, as suas costas eram uma massa de feridas. Raelyn chorava, limpando o suor da sua testa.
Ele vestiu a camisa, pegou em Raelyn ao colo e caminhou em direção à porta, passando por mim como se eu não existisse.
"Vamos, Raelyn. Vou cuidar de ti."
Ele deixou-me ali, de pé no meio da destruição, com a Sra. Almeida a chorar silenciosamente ao meu lado.
"Menina Bethany," ela sussurrou, a voz quebrada. "Desista dele. Ele está cego."
Eu não respondi. Apenas olhei para a porta por onde ele tinha saído. Em silêncio, eu aceitei a verdade.