A Joia Quebrada Que Voltou a Brilhar
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Capítulo 4

Nos dias seguintes, isolei-me no atelier da minha família em Lisboa. Dediquei-me a finalizar os detalhes da fusão e a preparar os documentos para a minha partida para o Brasil. Ignorava as chamadas, as mensagens. O mundo exterior deixou de existir.

Uma semana depois, Leonel apareceu à porta do atelier. Ele parecia mais magro, e as cicatrizes nas suas costas eram visíveis através da camisa fina.

"Bethany," disse ele, a voz suave. "Precisamos de conversar."

Ele entrou, sem ser convidado. "Eu sei que estás zangada. Eu agi como um idiota. Mas já resolvi as coisas. A Raelyn vai para um colégio interno na Suíça. Ela vai ficar bem, e nós podemos finalmente ter a nossa paz."

A sua solução, oferecida tarde demais, era quase cómica na sua ingenuidade. Ele ainda não percebia que o problema não era a Raelyn. O problema era ele.

"Não há nada para resolver, Leonel," eu disse, sem o olhar, continuando a organizar os meus desenhos.

"O quê?" Ele agarrou o meu braço, forçando-me a encará-lo. "Não me digas que ainda estás a fazer birra por causa daquele dia. Bethany, eu já a mandei embora! O que mais queres que eu faça?"

A sua descrença era palpável. "Tu és minha, Bethany. Nós vamos casar-nos. Isto é apenas uma fase."

"Eu não sou tua," respondi, a voz fria como gelo. "E não haverá casamento."

A sua expressão endureceu. "Para de dizer disparates."

Nesse momento, o seu telemóvel tocou. Ele olhou para o ecrã, e a sua irritação suavizou-se para preocupação.

"Alô? Raelyn? O que se passa? Estás a chorar? Calma, eu vou já ter contigo ao aeroporto."

Ele desligou e olhou para mim, dividido. "Eu tenho de ir. Ela está em pânico por causa do voo. Mas nós não acabámos esta conversa."

Ele saiu apressado, mais uma vez abandonando-me para ir ao encontro das necessidades dela.

Fiquei sozinha no atelier, o silêncio a ecoar a sua partida. Olhei para o anel de noivado que ele me tinha dado, ainda no meu dedo por hábito. Tirei-o lentamente e coloquei-o sobre a mesa.

Nunca mais.

Aquelas duas palavras ecoaram na minha mente. O nosso "nós" nunca iria acontecer. A aceitação trouxe uma estranha paz, a calma que vem depois da tempestade.

Naquela noite, tive um sonho. Eu estava a caminhar pelo corredor de uma igreja no Douro, vestida de noiva, o meu véu de filigrana a brilhar. Leonel esperava-me no altar, o seu sorriso radiante.

Acordei sobressaltada com o som de sinos de igreja e música festiva. Não era um sonho.

Fui até à janela do meu quarto, que tinha vista para a colina onde se erguia a capela da quinta dos Gordon. Uma multidão estava reunida. Carros de luxo alinhavam-se na estrada.

Era o dia do casamento. Mas não o meu.

Através dos binóculos do meu avô, vi tudo com uma clareza dolorosa. Leonel, de pé no altar, impecavelmente vestido. E ao seu lado, de branco, com um véu simples, estava Raelyn.

As lágrimas que eu segurara por tanto tempo finalmente caíram, quentes e amargas. Ele estava a casar com ela. A dívida de vida estava a ser paga com um voto sagrado.

A porta do meu quarto abriu-se. A Sra. Almeida entrou, trazendo uma caixa.

"O seu avô mandou entregar isto," disse ela, a voz gentil. "Ele disse que uma rainha nunca deve curvar a cabeça."

Dentro da caixa estava um bilhete de avião para o Brasil, primeira classe, e um colar deslumbrante, uma das criações mais famosas do meu avô. Uma fénix a renascer das cinzas.

Coloquei o colar. Senti o seu peso, a sua força. Decidi que não ia mais esconder-me. Tinha de ver aquilo com os meus próprios olhos.

Dirigi até à quinta, estacionei o carro longe e caminhei pela vinha, usando as sombras como cobertura. Cheguei a um pequeno pátio com vista para o salão de festas.

Lá dentro, Leonel e Raelyn dançavam a primeira valsa. Ele sussurrava algo ao ouvido dela, e ela ria, o rosto radiante de triunfo. Pareciam um casal apaixonado.

Inclinei-me para a frente para ver melhor, e o meu pé escorregou numa pedra solta. Caí ruidosamente contra um vaso de terracota, que se partiu com um estrondo.

O som ecoou no silêncio que se seguiu à música. Todas as cabeças se viraram na minha direção.

Leonel olhou para mim, o seu rosto passando do choque ao pânico. Raelyn agarrou-se a ele, um sorriso malicioso a tocar os seus lábios.

O confronto era inevitável.

                         

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