Libertação Pelo Adeus
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Capítulo 1

Para salvar minha esposa, Isabella, eu vendi tudo.

A casa em que moramos por dez anos, o carro que eu usava para levar nosso filho, Pedro, para a escola, e até as joias que ela deixou para trás.

Eu trabalhava em três empregos, dia e noite, mal dormindo, apenas para juntar o dinheiro da fiança dela.

Isabella, uma artista plástica famosa, foi presa sob uma falsa acusação de plágio.

Eu acreditava na inocência dela.

Eu acreditava que era meu dever, como marido, fazer tudo para tirá-la de lá.

Meu filho, Pedro, também sofria comigo.

Ele era um garoto de sete anos, um prodígio da capoeira, mas agora não tinha mais tempo para treinar.

Ele me via chegar em casa exausto, contava as moedas que eu conseguia juntar, e seus olhos, antes cheios de brilho, agora estavam cheios de preocupação.

Nossa vida virou um inferno, mas eu repetia para mim mesmo que tudo valeria a pena quando Isabella estivesse livre.

O chefe de polícia corrupto, um homem gordo com um sorriso ganancioso, veio à minha casa pela nonagésima nona vez.

Ele se sentou no meu sofá velho e gasto, o único móvel que restou, e me olhou com desprezo.

"Miguel, o tempo está se esgotando."

Sua voz era oleosa, nojenta.

"Eu já te dei muito tempo. A fiança é alta."

Eu juntei as mãos, implorando.

"Eu estou quase lá. Só preciso de mais um pouco de tempo."

Ele riu, um som que me revirou o estômago.

"Tempo não paga minhas contas, Miguel. Preciso de dinheiro. Uma quantia exorbitante."

Ele me disse o valor, e o ar sumiu dos meus pulmões.

Era impossível.

Eu nunca conseguiria juntar tanto dinheiro.

Eu estava no meu limite, a um passo do desespero total.

Naquela noite, Pedro me ouviu chorando na cozinha.

Ele entrou silenciosamente e me abraçou por trás.

"Pai, eu posso ajudar."

Eu sequei minhas lágrimas e me virei para ele, forçando um sorriso.

"Não se preocupe, filho. O papai vai dar um jeito."

Mas ele balançou a cabeça, seus olhos pequenos brilhando com uma determinação que me assustou.

"Eu ouvi uns caras falando de uma competição de rua. Uma luta. O prêmio é grande, pai. Um diamante."

Meu coração gelou.

"Não, Pedro. De jeito nenhum. Você é só uma criança."

"Eu sou bom na capoeira, pai. Você sabe que sou. Eu posso ganhar."

Eu o proibi. Gritei com ele. Disse que nunca o perdoaria se ele fizesse uma loucura daquelas.

Mas o desespero de um filho para salvar sua família é uma força poderosa.

Dois dias depois, recebi uma ligação.

Era de um hospital.

Pedro estava lá.

Corri como um louco, meu coração batendo na garganta.

Ele estava em uma cama, coberto de bandagens.

Ele havia participado da competição clandestina, uma luta brutal contra homens adultos.

De alguma forma, com sua agilidade e coragem, ele venceu.

Ele conseguiu o diamante, "O Olho de Tigre".

Mas o preço foi terrível.

Os médicos me disseram que os ferimentos na cabeça eram graves.

Ele perdeu a visão.

Meu filho, meu pequeno Pedro, ficou cego para sempre.

Eu segurei sua mão pequena, meu corpo tremendo de dor e culpa.

Ele me entregou a pequena caixa com o diamante, seu rosto pálido e machucado.

"Pai... agora você pode tirar a mamãe da cadeia."

Eu chorei. Chorei como nunca havia chorado na vida.

Era como se todo o sangue do meu corpo tivesse sido drenado, deixando apenas um vazio imenso e doloroso.

Eu peguei o diamante, o peso daquele sacrifício queimando na minha mão, e fui até a delegacia.

Eu ia entregar a joia ao chefe de polícia. Eu ia finalmente libertar Isabella.

Eu ia dizer a ela o que nosso filho fez por ela.

Quando cheguei, a porta da sala do chefe de polícia estava entreaberta.

Eu ouvi vozes lá dentro.

Uma delas era a de Isabella.

Meu coração acelerou. Ela já estava solta?

Mas a outra voz... era de um homem. Ricardo, um empresário rico e influente que eu conhecia dos jornais.

Eu parei, escondido no corredor, e escutei.

"Querida, finalmente livre", disse Ricardo, sua voz cheia de satisfação.

"Sim", respondeu Isabella, e o som da sua voz, tão familiar, agora parecia estranho, frio. "Foi mais fácil do que eu pensava. Aquele idiota do Miguel deve ter se matado para conseguir o dinheiro da fiança."

Ricardo riu.

"Ele é um tolo leal. Agora, só precisamos nos livrar dele e do garoto. Com eles fora do caminho, a fortuna da sua família será toda nossa."

O mundo parou.

O ar congelou nos meus pulmões.

As palavras deles ecoavam na minha cabeça, cada sílaba uma facada.

"Sim", Isabella concordou, sem um pingo de hesitação. "Miguel é um empecilho. E Pedro... bem, ele nunca foi realmente parte do plano. Quando podemos fazer isso?"

"Logo. Muito logo. Primeiro, vamos comemorar."

Eu ouvi o som de um beijo.

Um beijo longo e apaixonado.

Eu fiquei ali, paralisado, o diamante na minha mão parecendo um pedaço de gelo.

A acusação de plágio... a prisão... meu sacrifício... a cegueira do meu filho...

Tudo era uma farsa.

Uma mentira cruel e elaborada para que ela pudesse se livrar de mim e ficar com outro homem.

Eles planejavam se livrar de mim e do meu filho.

Meu filho, que sacrificou sua visão por ela.

Naquele momento, algo dentro de mim se quebrou.

O amor, a lealdade, a esperança... tudo se transformou em pó.

Em seu lugar, um ódio frio e cortante começou a crescer.

Eu olhei para o diamante na minha mão. O "Olho de Tigre".

Não. Eu não ia entregar isso a eles.

Isso não era mais o preço da liberdade dela.

Era o preço da minha vingança.

Do lado de fora, no céu noturno, uma queima de fogos começou. Alguém rico estava comemorando alguma coisa. Drones formavam palavras no céu.

Provavelmente era Ricardo, comemorando a liberdade de Isabella e o sucesso de seu plano.

Eles estavam celebrando sua nova vida.

E eu? Eu estava ali, no corredor escuro de uma delegacia corrupta, segurando o que restou da visão do meu filho.

Eu abri a caixa que Pedro me deu.

Dentro, junto com o diamante, havia um pequeno desenho.

Um desenho de mim, ele e Isabella, de mãos dadas, com um sol sorrindo acima de nós.

"Para a melhor família do mundo", ele havia escrito com sua letra de criança.

Eu desabei no chão, silenciosamente.

Comecei a rir.

Um riso baixo, quebrado, que logo se transformou em um choro silencioso e convulsivo.

Eu era um idiota.

O maior idiota do mundo.

E por minha estupidez, meu filho pagou o preço mais alto.

            
            

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