Libertação Pelo Adeus
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Capítulo 4

"Você ficou louco?!"

O grito de Isabella me trouxe de volta à realidade.

Antes que eu pudesse reagir, senti uma dor aguda no meu rosto.

Ela tinha me dado um tapa.

Com força.

Seus olhos, que antes me olhavam com amor, agora queimavam de fúria.

Ela não olhou para mim. Ela correu para o lado de Ricardo, ajudando-o a se levantar, limpando o sangue de seu rosto com um guardanapo.

"Você está bem, querido? Ele te machucou?" sua voz era puro pânico e preocupação.

Por ele.

Não por mim.

Ela se virou para mim, o rosto contorcido de ódio.

"Olha o que você fez! Seu animal! Saia daqui! Eu nunca mais quero ver você na minha vida!"

Eu a encarei, a marca de seus dedos queimando na minha bochecha.

Eu não disse nada.

Apenas dei as costas e saí da cafeteria.

Ninguém tentou me parar. Eles apenas olhavam, chocados.

Eu andei sem rumo pelas ruas, a dor no meu rosto misturada com a dor na minha alma.

Quando finalmente cheguei em casa, o apartamento estava escuro e frio.

A porta estava arrombada.

Meu coração afundou.

Entrei com cautela. A cena era de caos total.

Móveis revirados, papéis espalhados, tudo quebrado.

Dois homens grandes e mal-encarados estavam no meio da sala, esperando por mim.

Eram os agiotas. Os homens do chefe de polícia.

"Ora, ora, se não é o nosso amigo Miguel", disse um deles, com um sorriso cruel. "O chefe não gostou de você ter sumido com o diamante dele."

Eu estava exausto demais para ter medo.

"Eu não tenho mais nada", eu disse, minha voz um sussurro rouco.

O outro homem riu.

"Isso é o que vamos ver."

Eles começaram a vasculhar o que restava do meu apartamento, procurando por qualquer coisa de valor.

Um deles pegou a pequena caixa de madeira que estava sobre a lareira.

Meu corpo inteiro gelou.

"Não", eu sussurrei. "Não toque nisso."

Era a urna.

A urna com as cinzas de Pedro.

O homem me ignorou. Ele abriu a caixa, esperando encontrar joias ou dinheiro.

Quando viu apenas um pó cinza, seu rosto se contorceu de raiva.

"Que porcaria é essa?" ele gritou, e com um gesto de desprezo, jogou a urna no chão.

O som da madeira se quebrando.

As cinzas do meu filho se espalhando pelo chão sujo.

Um dos homens, sem perceber, pisou nelas.

O pó cinza se grudou na sola de sua bota imunda.

Naquele momento, o tempo parou.

O mundo inteiro se reduziu àquela imagem: a bota suja profanando os restos mortais do meu filho.

Um grito primal, desumano, escapou da minha garganta.

A dor, a raiva, a culpa, o luto... tudo explodiu em uma fúria cega.

Eu não era mais um homem. Eu era um animal ferido, encurralado.

Agarrei a primeira coisa que vi na minha mesa bagunçada.

Uma caneta de metal pesada, um presente antigo de Isabella.

O homem que pisou nas cinzas se virou para mim, surpreso com o meu grito.

Eu avancei.

Não houve pensamento. Apenas instinto.

Com um movimento rápido e brutal, eu cravei a ponta da caneta em seu pescoço.

Uma, duas, três vezes.

O sangue quente espirrou no meu rosto.

Ele me olhou com olhos arregalados de choque e dor, antes de cair no chão, se afogando em seu próprio sangue.

O outro agiota ficou paralisado por um segundo, chocado com a violência repentina.

Esse segundo foi tudo que eu precisei.

Eu peguei o pesado castiçal de ferro que estava no chão e o acertei na cabeça com toda a minha força.

Ele caiu como um saco de batatas, inconsciente.

O silêncio desceu sobre o apartamento.

Um silêncio quebrado apenas pelo som da minha respiração ofegante e pelo gotejar do sangue no chão.

Eu olhei para o que tinha feito.

O corpo no chão. O sangue nas minhas mãos.

Eu tinha matado um homem.

E eu não sentia nada.

Nenhum remorso. Nenhuma culpa.

Apenas um vazio gelado.

Com as mãos trêmulas, ajoelhei-me no chão.

Cuidadosamente, comecei a juntar as cinzas de Pedro, misturadas com a poeira e a sujeira.

Eu as coloquei de volta nos pedaços quebrados da urna.

Eu peguei o diamante "Olho de Tigre" do meu bolso.

Peguei meu passaporte.

E saí daquele apartamento para sempre.

Fui para o aeroporto.

Enquanto esperava o primeiro voo internacional, meu celular vibrou.

Era uma mensagem de Isabella.

"Miguel, eu sei que você está chateado. Mas Ricardo é um homem poderoso. Ele pode destruir você. Eu conversei com ele. Ele está disposto a te dar uma saída, um pouco de dinheiro para você sumir. É o melhor para todos nós."

Uma saída.

Um pouco de dinheiro.

A ironia era tão cruel que quase me fez rir.

Eu não respondi.

Em vez disso, abri o compartimento do celular, tirei o chip e o quebrei em dois.

Joguei os pedaços no lixo.

O avião decolou, me levando para longe daquela cidade, daquela vida, daquela dor.

Mas eu sabia que a vingança estava apenas começando.

Eu carregava as cinzas do meu filho e uma promessa silenciosa.

Isabella e Ricardo iriam pagar.

Eles iriam desejar nunca ter nascido.

                         

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