Aos quinze anos, me casei com o Regente Henrique, um homem de poder e status. Achei que talvez ele, um estranho, pudesse me dar o que minha família não deu. Mas seus olhos também só viam Clara. Ele era meu marido no papel, mas seu coração pertencia a ela.
O medidor de afeto de Henrique, zero.
Aos dezoito, até o cachorro da casa, que eu alimentava e cuidava todos os dias, rosnava para mim e abanava o rabo para Clara.
O medidor de afeto do cachorro, zero.
Eu estava cansada. Cansada de tentar, de me esforçar, de dar tudo de mim e não receber nada em troca. A exaustão era um peso constante em meus ombros, mais pesado que a própria doença.
Naquela tarde fria, eu me sentei no jardim e olhei para o céu cinzento.
"Sistema, eu desisto."
A voz mecânica soou na minha mente, sem emoção.
[A anfitriã tem certeza de que deseja desistir da missão de conquistar afeto?]
"Sim", respondi, minha voz um sussurro rouco.
[Aviso: Ao desistir da missão, o programa de doença terminal será reativado em seu corpo. Todos os itens e habilidades fornecidos pelo sistema serão recolhidos. Confirma a desistência?]
Uma pequena parte de mim hesitou, mas a lembrança de dezoito anos de rejeição foi mais forte.
"Confirmo."
[Comando recebido. Ativando o programa de doença terminal. Recolhendo todos os itens do sistema.]
No instante seguinte, uma dor aguda e familiar perfurou meu peito, me fazendo dobrar. Era a dor da minha vida passada, a dor que me levou à morte. O calor constante que o sistema me proporcionava, a beleza que ele dava ao meu rosto, a vitalidade em meu corpo, tudo desapareceu. Um frio cortante me invadiu, vindo de dentro para fora.
Minha visão ficou turva e eu caí no chão, tremendo incontrolavelmente. A grama úmida grudava na minha pele, mas eu mal sentia. A dor era tudo.
Foi quando ouvi passos apressados. A figura alta de Henrique, o Regente, meu marido, apareceu sobre mim. Seu rosto estava contorcido de raiva, não de preocupação.
"Sofia! O que você está fazendo aí no chão? Levante-se!"
Ele me agarrou pelo braço com força, me forçando a ficar de pé. Meu corpo fraco mal se sustentava.
"Sua irmã Clara está doente, tossindo sem parar, e você está aqui se espojando na lama? Você não tem vergonha?" ele gritou, sua voz cheia de desprezo.
Clara estava doente. Sempre era Clara.
Forcei-me a olhar para ele, a dor me roubando o fôlego. "Eu...", tentei falar, mas as palavras não saíam.
"Não me venha com desculpas! Você vai sair agora e buscar esmolas para a saúde de Clara. Talvez a piedade dos outros possa curar a indiferença do seu coração!" ele ordenou, me empurrando em direção ao portão.
Naquele momento, a verdade me atingiu com a força de um soco. Eu usei o sistema para dar beleza à minha mãe, para que ela fosse a dama mais admirada da corte. Usei o sistema para dar riqueza ao meu pai, garantindo contratos e negócios lucrativos. Usei o sistema para dar vitórias militares a Henrique, consolidando seu poder como Regente.
Eles pegaram tudo. E todo o amor, todo o carinho, toda a preocupação que eles tinham, era para Clara.
Eu era a fonte de suas fortunas, mas para eles, eu não era nada. Pior que nada. Eu era a culpada por qualquer infortúnio que acontecesse com a irmã perfeita deles. Uma vez, quando Clara caiu e torceu o tornozelo, fui acusada de tê-la empurrado e forçada a viver em um convento por três anos.
Eu olhei para Henrique, para o homem a quem dediquei meus últimos três anos, e pela primeira vez, recusei.
"Não", eu disse, minha voz fraca, mas firme.
A surpresa cruzou seu rosto, seguida por uma fúria ainda maior. "Como ousa me desobedecer?"
Ele me arrastou para fora da propriedade, me levou montanha acima, onde o vento era mais frio e a noite se aproximava. Ele me jogou no chão pedregoso.
"Fique aqui e pense na sua crueldade. Quando aprender a ser uma esposa e irmã devotada, talvez eu a deixe voltar."
Ele se virou e me abandonou na escuridão crescente da montanha. O frio era insuportável, e a dor no meu peito só piorava.
No dia seguinte, o sol mal havia nascido quando ouvi uma voz zombeteira. Era Clara, envolta em um casaco de pele caro, com um sorriso de escárnio no rosto.
"Olhe para você, irmã. Parece um rato afogado. Henrique estava certo, você realmente precisa de uma lição."
Eu não respondi, apenas a observei. Ela se aproximou, sua expressão mudando de desprezo para malícia.
"Sabe, Henrique me disse ontem à noite que ele só se casou com você porque o pai insistiu. Ele disse que o seu rosto o enoja."
Ela se deleitava com minha dor. De repente, seus olhos se arregalaram. Ela olhou para além de mim, para a trilha abaixo. Vi Henrique e meu pai se aproximando.
Num piscar de olhos, Clara rasgou o próprio vestido e se jogou no chão, gritando.
"Socorro! Sofia está tentando me matar! Ela me atacou!"
Henrique e meu pai correram até nós. Eles não perguntaram nada. Não hesitaram. Meu pai me deu um tapa no rosto com tanta força que caí no chão. Henrique me chutou nas costelas.
"Monstro! Como você se atreve a machucar sua irmã?" meu pai gritou.
"Ajoelhe-se na neve! Peça perdão a Clara até que ela se sinta melhor!" Henrique ordenou, sua voz fria como o gelo sob meus joelhos.
Eles me forçaram a ajoelhar na neve derretida, enquanto confortavam Clara, tratando-a como uma vítima frágil. A dor física era imensa, mas a dor no meu coração era ainda maior.
A voz do sistema soou novamente, um arauto da minha morte.
[A anfitriã tem seis dias de vida restantes.]
Seis dias. Era tudo o que me restava.