Quando acordei, estava de volta ao meu quarto frio e úmido no convento. Uma freira me olhava com pena.
"A febre está alta", ela murmurou.
A voz do sistema confirmou meu estado.
[A condição física da anfitriã está se deteriorando rapidamente. Contagem regressiva de vida: seis dias. As habilidades de cura do sistema foram recolhidas. A anfitriã deve suportar a dor por conta própria.]
Suportar a dor. Era o que eu tinha feito por dezoito anos. O que eram mais seis dias?
Mais tarde, uma ordem chegou. Eu deveria cozinhar para Clara, como um pedido de desculpas. Fui arrastada para a cozinha da casa principal, meu corpo protestando a cada movimento.
Preparei a sopa favorita dela, a mesma que eu fazia quando ela estava doente na infância. Minhas mãos tremiam tanto que quase derrubei a panela.
Na sala de jantar, a cena era de pura felicidade doméstica. Henrique segurava a mão de Clara, sorrindo para ela. Meus pais a olhavam com adoração. Ninguém notou minha presença, exceto para pegar a tigela de sopa da minha mão.
"Sofia, sua irmã tem um pedido", disse meu pai, sem me olhar.
Clara sorriu, um sorriso malicioso disfarçado de doçura. "Henrique e eu queremos fazer uma prece especial na árvore sagrada. Precisamos de uma ficha de destino para garantir nossa felicidade. A tradição diz que deve ser escrita com o sangue de um parente próximo, como um sacrifício de amor."
Meu estômago se revirou. Ela estava pedindo meu sangue.
"Isso é... um sacrifício muito grande", eu disse, minha voz fraca.
"É para a felicidade da sua irmã e do seu marido! Qual o problema?" minha mãe interveio, sua voz irritada. "É o mínimo que você pode fazer depois de atacá-la."
Eu olhei para Henrique, esperando que ele dissesse algo, que pusesse um fim a essa loucura. Mas ele apenas me olhou com frieza.
"Sofia, é apenas um pouco de sangue. Não seja dramática. Se você fizer isso, eu prometo que vou esquecer seu comportamento horrível e te tratarei melhor."
Uma promessa vazia. Eu já tinha ouvido tantas. Mas eu estava cansada de lutar. O que importava? Eu ia morrer de qualquer maneira.
"Tudo bem", eu sussurrei.
Eles me levaram para uma pequena sala. Uma freira trouxe uma faca afiada e um pedaço de pergaminho. Henrique segurou meu braço com força enquanto a freira fazia um corte profundo na minha palma. O sangue escorreu, vermelho e quente, sobre o pergaminho.
Com a outra mão, usei uma pena para escrever seus nomes e seus desejos de felicidade eterna, meu próprio sangue manchando as palavras. A dor era intensa, e a perda de sangue me deixou tonta.
Quando terminei, o mundo escureceu novamente.
Acordei na minha cama no convento, a dor no meu peito mais forte do que nunca. Um médico, chamado por uma das freiras mais gentis, estava ao meu lado. Ele tinha um olhar grave.
"Minha senhora", ele disse, sua voz baixa e cheia de pesar. "Seus pulmões... estão falhando. Receio que você tenha poucos dias de vida."
Poucos dias. O sistema não estava mentindo.
Henrique foi informado. Ele invadiu meu quarto mais tarde, seu rosto uma máscara de raiva e incredulidade.
"O que é essa história de que você está morrendo?" ele exigiu. "É mais um de seus truques para chamar a atenção? Para ofuscar a recuperação de Clara?"
Eu o encarei da cama, a fraqueza me consumindo. "Não é um truque, Henrique."
"Não acredito em você!", ele gritou. "Você é forte! Você sempre se cura! Está fazendo isso para nos fazer sentir culpados, não é? Bem, não vai funcionar! Clara precisa de mim. Ela é a única que importa!"
Ele se virou e saiu, batendo a porta com força.
Naquele momento, eu percebi. Mesmo que eu morresse na frente deles, eles não se importariam. Eles provavelmente me culpariam por estragar o dia deles. A última centelha de esperança que eu tinha se apagou.
A liberdade, eu entendi, não viria de seu afeto. Viria da minha própria morte.