Capítulo 2

"Lulu, o que foi? Você não parece bem."

Pedro se aproximou, sua mão indo em direção à minha testa para checar minha temperatura. O gesto que antes me parecia carinhoso, agora me causava repulsa.

[Ela está pálida. Será que ficou doente? Isso não pode acontecer, a primeira prova importante é semana que vem. As notas dela precisam estar no máximo.]

Recuei instintivamente, evitando seu toque.

"Não foi nada", respondi com a voz mais neutra que consegui. "Só tive um pesadelo."

"Um pesadelo? Coitadinha", disse Sofia, entrando no meu quarto logo atrás de Pedro. Ela me abraçou com força, um abraço que parecia o de uma cobra. "Você tem que se cuidar, Lulu. Suas notas são as melhores da sala, você é a nossa inspiração."

[Isso, se cuida bem, sua vaca estúpida. Continue estudando como uma louca para que eu e o Pedro possamos entrar na faculdade dos sonhos sem esforço.]

A voz interior de Pedro era arrogante, mas a falsidade de Sofia era ainda mais venenosa. Ela me abraçava, enquanto na minha mente, as imagens da minha vida passada voltavam com força total.

Lembrei-me do dia da acusação. Sofia estava ao meu lado, chorando, dizendo para todos como estava "decepcionada" comigo.

"Eu não acredito que você fez isso, Lulu! Eu confiava em você!"

Suas lágrimas de crocodilo convenceram a todos. Ela era a amiga leal, traída pela trapaceira. Eu era o monstro.

Agora, sentindo o calor do corpo dela contra o meu, eu só conseguia sentir um gelo na minha espinha. Afastei-a gentilmente.

"Obrigada pela preocupação, Sofia. Eu estou bem, só preciso de um minuto."

Pedro me olhou com impaciência.

[Que drama. Anda logo, temos que ir para a escola. O sistema precisa que eu mantenha um 'relacionamento estável' com ela para a troca de notas funcionar perfeitamente. Que perda de tempo.]

Sistema. Relacionamento estável. Troca de notas.

As peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar. Na minha vida anterior, eu era a melhor aluna, mas no final do ano, minhas notas caíram drasticamente, enquanto as de Pedro e Sofia, que sempre foram medianos, dispararam.

Eles não apenas trocaram minhas notas. Eles as roubaram.

Eles me usaram como uma fonte de notas, uma ferramenta descartável. O "amor" de Pedro, a "amizade" de Sofia, tudo era uma farsa elaborada para me manter estudando, para que eles pudessem colher os frutos do meu trabalho.

Um sorriso frio se formou no meu rosto, mas eu o escondi rapidamente.

Se eles queriam minhas notas, eles teriam que pagar o preço.

E o preço seria muito, muito alto.