Capítulo 4

Quando sugeri que Sofia se juntasse a nós, o pânico brilhou nos olhos de Pedro por um segundo, mas ele se recuperou rapidamente.

[Essa idiota quer chamar a Sofia? Isso pode ser arriscado. Mas talvez seja bom, assim a Sofia também pode 'incentivá-la' a estudar mais.]

"Claro, amor. Ótima ideia", ele disse, forçando entusiasmo.

Naquela tarde, na biblioteca, eu os observei. Era como assistir a uma peça de teatro mal ensaiada.

Pedro sentou-se ao meu lado, como o namorado dedicado, mas todo o seu corpo estava sutilmente virado na direção de Sofia, que sentou do outro lado da mesa. Ele pegava um lápis para ela, oferecia sua borracha, seus olhos encontravam os dela por cima dos livros com uma cumplicidade que eles pensavam ser secreta.

Sofia, por sua vez, representava o papel da amiga doce.

"Nossa, Lulu, você já terminou todos os exercícios de física? Você é um gênio!"

"Pedro, você devia aprender com a Lulu, ela é tão focada."

Eles trocavam elogios a mim, mas a encenação era tão óbvia que chegava a ser patética. Eles se moviam em sincronia, uma dupla de predadores cercando sua presa.

A voz de Pedro na minha cabeça confirmava tudo.

[Droga, a Sofia está tão linda hoje. Queria tanto poder beijá-la em vez de ter que ficar de olho nessa nerd. Tenho que me controlar. Pelo menos a presença dela me dá forças para aguentar essa tortura. Assim que pegarmos as notas dela, vou comprar para a Sofia o colar que ela queria. Ela merece.]

O desprezo dele por mim era uma constante, um ruído de fundo em minha mente. Ele não me via como uma pessoa, mas como um recurso a ser explorado.

Então, Sofia cometeu um erro.

"Lulu", ela disse, inclinando-se sobre a mesa com um sorriso inocente. "Aquela prova de química da semana passada... você tirou 98, não foi? E o Pedro tirou 97. Vocês são o casal mais inteligente da escola!"

Meu sangue gelou.

Na minha vida anterior, eu tirei 98. Pedro tirou 65. Eu me lembrava perfeitamente, porque ele fez um drama enorme sobre como precisava da minha ajuda para melhorar.

Ela sabia dos resultados trocados. Ela não era apenas cúmplice, ela era uma participante ativa do plano.

Eles não estavam apenas roubando minhas notas. Eles estavam vivendo uma mentira construída sobre a minha ruína, rindo de mim pelas minhas costas. O sistema não era só do Pedro. Era o sistema deles.

Fechei meu livro com um baque suave.

Olhei de um para o outro. O namorado traidor e a amiga falsa. A dupla perfeita de parasitas.

Tudo estava claro agora. A traição era dupla, o plano era deles.

Eu senti uma calma assustadora tomar conta de mim. A dor e a raiva se transformaram em um propósito gelado.

Eu não iria apenas me vingar. Eu ia destruir o mundo deles, peça por peça. E eu ia me divertir muito fazendo isso.