Chamas da Traição: O Despertar de Eva
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Capítulo 3

O quarto de hotel era impessoal e frio, mas era um santuário. Longe do cheiro a fumaça, longe das memórias, longe dele.

Nos primeiros dias, eu mal saí da cama. O luto era uma onda pesada que me afogava repetidamente. Luto pela minha mãe. Luto pelo meu filho. Luto pela vida que eu pensava que tinha.

Mas a raiva, uma brasa que ardia sob a dor, começou a crescer.

Comecei a pensar. A questionar tudo.

O incêndio. O relatório oficial dizia que tinha sido um curto-circuito num candeeiro antigo no meu quarto. Parecia plausível. Mas algo não batia certo.

Eu lembrava-me de ter desligado aquele candeeiro antes de me deitar. Tinha a certeza absoluta.

E a reação do Mateo... não era apenas negligência. Era uma escolha deliberada.

Liguei ao meu advogado, um homem chamado Sr. Almeida, e pedi-lhe para iniciar os procedimentos de divórcio e para investigar a fundo a causa do incêndio.

"Investigar?" ele perguntou. "A polícia já encerrou o caso, Eva."

"Eu sei. Mas eu quero uma investigação privada. Quero que verifiquem tudo. As finanças do Mateo, os seus registos telefónicos daquela noite, tudo."

Houve uma pausa. "Isso vai ser caro, Eva."

"Eu não me importo com o dinheiro," eu disse, a minha voz firme. "A casa dos meus pais, que a minha mãe me deixou, eu vendo-a se for preciso. Eu preciso da verdade."

Enquanto o Sr. Almeida começava o seu trabalho, eu comecei o meu.

Eu sabia que o Mateo e a Sofia eram descuidados. Eles pensavam que eu era fraca, cega pela dor, incapaz de lutar.

Criei um novo perfil numa rede social, uma conta anónima. Comecei a seguir a Sofia.

Ela não era discreta. A sua vida era um livro aberto. Fotos em restaurantes caros, compras em boutiques de luxo, fins de semana em spas. Coisas que ela nunca poderia pagar com o seu salário de assistente de galeria.

E em muitas das fotos, embora ele não aparecesse, eu reconhecia os lugares. Eram os lugares favoritos do Mateo. Um reflexo subtil num espelho, a manga de uma camisa que eu lhe tinha oferecido, um relógio que eu conhecia bem.

Eles não estavam apenas a ter um caso. Ele estava a sustentá-la. A dar-lhe a vida que deveria ter sido minha.

Uma noite, ela publicou uma foto. Estava a usar um colar de diamantes deslumbrante. A legenda dizia: "Sentindo-me a mulher mais sortuda do mundo. Obrigada, meu amor."

O meu sangue gelou.

Aquele colar. Eu reconheci-o.

Era o colar da minha avó. A minha mãe guardou-o durante anos, planeando dá-lo a mim no nascimento do meu primeiro filho. Estava guardado num cofre na nossa casa. A casa que ardeu.

Como é que a Sofia o conseguiu?

A única pessoa que tinha a combinação do cofre, para além de mim e da minha mãe, era o Mateo.

A peça final do puzzle encaixou-se.

Ele não foi apenas negligente. Ele não escolheu apenas salvá-la em vez de nós.

Ele tinha estado no apartamento antes do incêndio. Ele deve ter tirado o colar do cofre.

E o candeeiro... o curto-circuito. Teria sido mesmo um acidente? Ou teria sido uma forma de apagar os vestígios? De se livrar de mim e da minha mãe de uma só vez?

A ideia era monstruosa, tão horrível que me tirou o fôlego.

Mas quanto mais eu pensava, mais fazia sentido. Comigo e com a minha mãe fora do caminho, ele e a Sofia ficariam com tudo. O dinheiro do seguro, os bens da minha mãe, a liberdade para estarem juntos sem culpa ou segredos.

A minha dor transformou-se em gelo. A minha tristeza transformou-se numa determinação fria.

Isto não era mais sobre um divórcio.

Isto era sobre justiça.

Pela minha mãe. Pelo meu filho.

Eu ia destruí-los. E ia usar a sua própria arrogância contra eles.

            
            

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