O Segredo de Thiago
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Capítulo 2

Do outro lado da linha, a voz do Diretor Santos soou surpresa, mas interessada. "Joana? Fico feliz em ouvir de você, mas pensei que... com tudo o que aconteceu..."

"Eu preciso sair daqui, Diretor", Joana o interrompeu, a voz carregada de uma urgência que ele não podia ignorar. "Aquela sua proposta... para a audição em Hollywood... ainda está de pé?"

Houve uma pausa. "Claro que sim. O talento que vi em você não desaparece por causa de uns idiotas. Mas você tem certeza? É um passo grande, e você acabou de passar por um trauma terrível."

"É exatamente por isso que eu preciso ir", disse Joana, olhando para a porta fechada do quarto, atrás da qual o arquiteto de seu trauma provavelmente dormia em paz. "Este lugar... me sufoca. Eu preciso de um novo começo."

"Entendo", disse o Diretor Santos, seu tom agora cheio de compreensão. "Vou fazer algumas ligações. A audição para 'Estrela Cadente' é em três dias. É um papel coadjuvante, mas o diretor é um dos grandes. Pode ser sua porta de entrada. Você consegue chegar a tempo?"

"Eu vou dar um jeito", Joana respondeu, a determinação solidificando sua voz. "Obrigada, Diretor. De verdade."

Desligando o telefone, Joana sentiu uma pequena faísca de esperança em meio ao deserto de seu desespero. Hollywood. Era uma chance de escapar, de se reconstruir longe de Thiago e de suas mentiras.

Na manhã seguinte, na audição para "Luar", a atmosfera estava carregada. Joana chegou sentindo os olhares e os sussurros. A notícia do ataque e das fotos vazadas pairava no ar como uma nuvem tóxica. Ela manteve a cabeça erguida, ignorando os comentários maldosos, focada apenas no que precisava fazer.

Então, a porta se abriu e eles entraram. Thiago, com seu ar de poder e carisma, e ao seu lado, Manuela. Ela estava radiante, vestida com um vestido caro que realçava sua figura, segurando o braço de Thiago com uma familiaridade possessiva. Eles pareciam o casal perfeito, o centro das atenções. A cena era uma faca em seu peito, mas Joana não se permitiu desviar o olhar. Ela precisava ver, precisava sentir a dor para queimar qualquer resquício de amor que ainda pudesse existir.

Thiago a viu. Por um segundo, seus olhos se encontraram. Ela não viu culpa ou remorso, apenas uma frieza calculada. Ele caminhou em sua direção, Manuela ainda em seu encalço.

"Joana", disse ele, o tom profissional, como se falasse com uma mera funcionária. "Como você está se sentindo?"

"Estou bem", ela respondeu, a voz neutra.

"Ótimo", ele disse, sem um pingo de sinceridade. Então, seu olhar caiu sobre a pequena caixa de música que Joana segurava nas mãos. Era um presente dele, de sua vida passada, um objeto que ela guardava com carinho e que, por algum motivo, decidiu trazer hoje. "O que é isso?"

"Nada importante", disse Joana, apertando a caixa.

"Me dê", ele ordenou, a voz baixa, mas imperativa.

Joana hesitou. Aquele objeto era um dos poucos fragmentos que restavam do amor que ela pensou ser real.

"Joana, não me faça repetir", Thiago disse, o tom endurecendo.

Com o coração pesado, ela entregou a caixa. Ele a pegou e, sem uma palavra, a entregou a Manuela. "Acho que isso combina mais com você", disse ele, com um sorriso que não alcançou os olhos.

Manuela pegou a caixa com um sorriso vitorioso. Ela a examinou com um ar de desdém. "É bonitinha... um pouco antiquada, talvez?" Ela disse, olhando diretamente para Joana. E então, com um movimento deliberado, "acidental", a caixa de música escorregou de suas mãos e se espatifou no chão.

As peças de madeira se espalharam, a pequena bailarina de porcelana se quebrou em mil pedaços. Um silêncio chocado caiu sobre a sala.

"Oh, meu Deus! Que desastrada!", Manuela exclamou, cobrindo a boca com a mão em uma atuação patética de surpresa. "Joana, me desculpe! Eu sou tão estabanada. Era importante para você?"

A humilhação era palpável. Joana olhou para os cacos no chão, o último símbolo de seu amor destruído. Ela levantou os olhos, esperando, contra toda a esperança, que Thiago dissesse algo. Que ele a defendesse.

Mas ele não o fez. Em vez disso, ele colocou um braço protetor em volta dos ombros de Manuela. "Não foi nada, querida. Acidentes acontecem. Joana entende, não é?"

Ele se virou para Joana, o olhar frio como gelo. Não havia consolo, apenas uma ordem silenciosa para que ela aceitasse a humilhação e ficasse quieta. Naquele momento, Joana entendeu. Ela não era nada para ele. Era um obstáculo, um incômodo a ser descartado.

Foi então que o diretor do teste, um homem mais velho chamado Sr. Almeida, que observava a cena com desaprovação, pigarreou. Ele sabia que Manuela era sobrinha do principal investidor do filme. O poder dela, ou melhor, o poder por trás dela, era imenso.

"Bem", disse o Sr. Almeida, tentando quebrar a tensão. "Que pena. Mas o show tem que continuar." Ele olhou para os cacos no chão e depois para Joana. Uma ideia pareceu surgir em seus olhos. "Joana, já que seu... objeto de cena está arruinado, que tal um teste de improviso? Use a dor dessa perda. Mostre-nos o que você sente. Pegue os cacos e nos dê uma performance."

A sala inteira prendeu a respiração. Era um pedido cruel, quase sádico. Pedir a ela para atuar com os restos de seu coração partido. Manuela sorriu, um brilho de triunfo em seus olhos. Ela achava que Joana iria desmoronar, que ela não conseguiria.

Mas Joana viu a oportunidade na crueldade. Era uma chance. Uma chance de mostrar a todos eles, especialmente a Thiago, do que ela era feita. Ela respirou fundo, abaixou-se e, com as mãos trêmulas, começou a recolher os pedaços da bailarina quebrada.

            
            

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