O Diretor Santos foi visitá-la. Ele olhou para ela com gentileza, sem qualquer traço de pena. "Você está linda, Joana. Não, não é a palavra certa. Você parece... livre."
"Eu me sinto livre", ela respondeu, a voz ainda um pouco fraca.
"O diretor de 'Estrela Cadente' viu sua audição para 'Luar'. A cena improvisada", ele disse. "Ele ficou impressionado. O papel é seu se você quiser."
A notícia foi um bálsamo para sua alma ferida. "Eu quero. Mais do que tudo."
Ela passou as semanas seguintes se recuperando e se preparando. Ela adotou um novo nome artístico: Joana Neves. Era o sobrenome de solteira de sua mãe, uma forma de se reconectar com suas próprias raízes, longe da influência dos Silva. Ela mergulhou no roteiro, construindo sua nova personagem, uma mulher forte e complexa que, ironicamente, lutava contra uma traição.
No entanto, a paz durou pouco. Um dia, enquanto saía do consultório médico para um check-up final, ela deu de cara com ele. Thiago.
Ele estava ali, parado na calçada, parecendo deslocado sob o sol da Califórnia. Como ele a encontrou? A raiva tomou conta dela, mas ela a escondeu sob uma máscara de indiferença.
"Joana?", ele disse, os olhos percorrendo o rosto dela, uma mistura de confusão e reconhecimento. "O que você fez com o seu rosto?"
"Eu o melhorei", ela respondeu friamente.
Ele se aproximou, a expressão endurecendo, transformando-se na possessividade que ela conhecia tão bem. "Você não tinha o direito. Eu gostava do seu rosto como era."
A arrogância dele era inacreditável. Ele gostava. Como se a opinião dele importasse. Como se o rosto dela pertencesse a ele.
Nesse momento, o Diretor Santos, que a esperava no carro, se aproximou. "Joana, está tudo bem?"
Thiago se virou para o diretor, o olhar cheio de desprezo. "E quem é você? O que você quer com ela?"
"Eu sou amigo e colega da Joana", disse o Diretor Santos, calmamente, colocando-se entre ela e Thiago. "E acho que você deveria deixá-la em paz."
"Amigo?", Thiago zombou. "Ela é minha atriz. Minha... namorada. Ela pertence à minha agência. Ela não vai a lugar nenhum sem a minha permissão."
Joana sentiu uma vontade de rir. A ironia era amarga. "Eu não sou mais sua namorada, Thiago. E em breve, não serei mais sua atriz."
Ele a ignorou, focando sua raiva no Diretor Santos. "Fique longe dela. Ela está voltando para o Brasil comigo hoje." Ele agarrou o braço de Joana, a força de seu aperto era uma ameaça. "Vamos."
"Me solta, Thiago!", Joana disse, tentando se livrar dele.
"Você vai entrar naquele avião, quer queira, quer não", ele sibilou, o rosto perto do dela.
Para evitar um escândalo na rua, Joana parou de lutar. Ela olhou para o Diretor Santos, um pedido de desculpas nos olhos, e depois se virou para Thiago com uma calma calculada. "Tudo bem, Thiago. Você venceu. Vamos conversar no hotel."
Ele a soltou, surpreso com sua súbita submissão. Ele a interpretou como fraqueza, como prova de que ele ainda a controlava. Ele não percebeu o brilho de determinação nos olhos dela. Ela estava apenas ganhando tempo.
No hotel, ele continuou seu discurso possessivo sobre como ela precisava dele, como sua carreira dependia dele. Joana concordou com tudo, com a cabeça baixa, desempenhando o papel da mulher submissa. Seu plano já estava em movimento. Ela só precisava de uma chance para escapar.
Naquela noite, enquanto Thiago estava no banho, o celular dele, deixado na mesa de cabeceira, vibrou. Era uma mensagem de Manuela. A curiosidade foi mais forte, e Joana pegou o aparelho.
"Querido, quando você volta? Estou com saudades. A cama parece tão vazia sem você", dizia a mensagem.
O nojo subiu pela garganta de Joana. Ela abriu a galeria de fotos. Havia dezenas de fotos de Manuela e Thiago juntos. Em um hotel, em um iate, na casa que um dia fora dela. Em uma das fotos, Manuela usava um dos pijamas de seda de Joana, sorrindo para a câmera no quarto que dividira com Thiago.
A humilhação era um soco no estômago. Ela não era apenas uma substituta; ela estava sendo ativamente apagada, substituída em cada aspecto de sua vida.
Então, outra mensagem de Manuela chegou. Uma foto. Era um teste de gravidez positivo. A legenda dizia: "Acho que teremos que adiantar o casamento. Papai vai ficar tão feliz!"
Joana sentiu o chão sumir sob seus pés. Grávida. Manuela estava grávida. E Thiago seria o pai. O choque foi tão grande que ela quase deixou o telefone cair.
Ela colocou o celular de volta no lugar um segundo antes de Thiago sair do banheiro. Ele a olhou, satisfeito com sua aparente docilidade.
"Vou descer para pegar algo para comermos. Não saia daqui", ele ordenou, antes de sair do quarto.
Era a chance dela. Assim que a porta se fechou, Joana agiu. Ela pegou sua bolsa, onde seu passaporte novo e uma passagem de avião para um destino desconhecido já a esperavam, cortesia do Diretor Santos.
Quando estava prestes a sair, olhou para o carro de Thiago estacionado na rua, visível da janela. Ela se lembrou de uma última humilhação. Usando a chave reserva que ele insistira que ela mantivesse, ela desceu rapidamente e abriu o porta-luvas do carro dele. Lá dentro, como ela suspeitava, encontrou um par de brincos de pérola que pertenciam a Manuela. A prova final de que sua rival estava em todos os lugares, até mesmo nos espaços mais íntimos de sua vida compartilhada.
Ela fechou a porta do carro, deixou a chave no pneu e caminhou para longe sem olhar para trás. Ela entrou no carro do Diretor Santos que a esperava na esquina e desapareceu na noite de Los Angeles, deixando Thiago e seu mundo de mentiras para trás.