"Eu insisto!", disse Manuela, empurrando a caixa para as mãos de Joana. "O diretor de fotografia disse que a câmera HD é implacável. Todas nós precisamos cuidar da pele, não é? Use hoje à noite, você vai ver a diferença." Seu tom era insistente, quase uma ordem disfarçada de gentileza. Para evitar uma cena, Joana aceitou.
Naquela noite, em seu apartamento, Joana olhou para o pote de creme. Sua intuição gritava para que ela o jogasse fora. Mas ela estava cansada, exausta da batalha constante. Talvez fosse apenas um creme. Cansada de lutar, ela aplicou uma pequena quantidade no rosto.
O efeito não foi imediato. Mas, no meio da noite, Joana acordou com uma sensação terrível de queimação. Seu rosto ardia como se estivesse em chamas. Ela correu para o espelho. Sua pele estava vermelha, inchada e coberta de pequenas bolhas. Era uma reação alérgica severa, horrível.
Em pânico, ela pegou o telefone para ligar para Thiago. Ele era a primeira pessoa para quem ela sempre ligava em uma emergência. O telefone chamou, chamou e caiu na caixa postal. Ela tentou de novo. E de novo. Nada. Ele não estava disponível para ela. A sensação de abandono era mais dolorosa do que a queimação em seu rosto.
Desesperada, ela ligou para sua amiga e assistente, Fernanda. Fernanda chegou em minutos e a levou para o pronto-socorro. O médico de plantão foi direto. "Isso é uma queimadura química. O que você passou no rosto? Este creme contém um ácido que não deveria estar em cosméticos. Se você tivesse usado mais ou deixado por mais tempo, poderia ter cicatrizes permanentes."
A maldade do ato a deixou sem ar. Manuela não queria apenas humilhá-la, ela queria destruí-la, acabar com sua carreira de atriz para sempre.
Quando o sol nasceu, Thiago finalmente apareceu no hospital. Ele parecia preocupado, mas seus olhos não conseguiam esconder a falta de sinceridade. "Joana, meu Deus, o que aconteceu? Eu sinto muito, meu celular estava no silencioso."
"Foi o creme que a Manuela me deu", disse Joana, a voz rouca.
Thiago franziu a testa. "Não seja boba. Manuela jamais faria uma coisa dessas. Deve ter sido um lote ruim, um acidente. Ela está arrasada, chorou a noite toda quando soube."
A defesa cega e imediata dele por Manuela foi a gota d'água. Ele nem sequer considerou a possibilidade de que Joana estivesse falando a verdade. Para ele, Manuela era incapaz de fazer algo errado.
Foi então que Joana notou algo. No dedo anelar de Thiago, onde ele costumava usar um anel simples que ela lhe dera na vida passada - um anel que ele, surpreendentemente, ainda usava nesta vida -, agora havia um anel diferente. Um anel de platina com um pequeno diamante, claramente um anel de compromisso masculino.
Seu coração, que ela pensava já estar em pedaços, pareceu se partir mais uma vez. Era o anel que combinava com o de Manuela.
Ela se lembrou das juras de amor dele, na vida passada. "Este anel que você me deu", ele dissera, "é mais valioso para mim do que qualquer riqueza da minha família. Eu nunca vou tirá-lo." Mentiras. Todas mentiras.
Thiago percebeu para onde ela olhava. Ele pareceu desconfortável. "Não se preocupe com as filmagens. Eu já falei com o diretor. Eles vão ajustar o cronograma para esperar você se recuperar."
Suas palavras, que deveriam ser reconfortantes, soaram como uma ameaça. Joana percebeu a verdade por trás da "preocupação" dele. Ele não queria que ela se recuperasse. Ele queria que ela ficasse fora do set o maior tempo possível, para não ofuscar Manuela, para não causar problemas. Ele queria mantê-la em casa, sob seu controle.
Ele então lhe entregou um tubo de pomada. "O médico da família Silva recomendou isso. É a melhor coisa para queimaduras. Use-a, você vai ficar boa em pouco tempo."
Joana pegou a pomada, o coração gelado. Ela não confiava mais nele. Assim que ele saiu, ela entregou a pomada para Fernanda. "Leve isso para ser analisado. Agora."
Fernanda voltou horas depois, o rosto pálido de raiva. "Joana... a pomada. Ela contém a mesma substância do creme, em uma concentração menor. Ela não iria curar você. Iria apenas manter a inflamação, impedir que sua pele melhorasse."
A revelação foi monstruosa. Não era apenas Manuela. Era Thiago. Ele estava ativamente tentando sabotar sua recuperação, mantê-la desfigurada, longe das câmeras. A crueldade dele era ilimitada.
Naquela noite, deitada na cama do hospital, Joana tomou uma decisão final. Ela olhou para seu reflexo inchado e vermelho no espelho do banheiro. A semelhança com Manuela, a semelhança que Thiago tanto cobiçou e que a tornou uma substituta, era sua maldição.
Ela precisava apagar Manuela de seu rosto. Ela precisava apagar Thiago de sua vida.
Ela pegou o telefone e ligou novamente para o Diretor Santos. "Diretor, eu preciso de um favor. Conhece algum cirurgião plástico em Hollywood? O melhor que existir."
Ela iria mudar seu rosto. Iria apagar cada traço que a ligava àquela mulher. Iria se livrar da marca que a tornava um prêmio de consolação para Thiago. Ela não seria mais um fantasma. Ela renasceria de novo, mas desta vez, em seus próprios termos.