A voz era arrogante, cheia de autoridade. Era Rodrigo, o aniversariante, cercado por um grupo de homens e mulheres que riam de qualquer coisa que ele dissesse. Ele me olhou de cima a baixo, um sorriso de desprezo no rosto. Entreguei-lhe uma taça de champanhe da minha bandeja.
Ele não a pegou. Em vez disso, seu olhar se fixou em mim.
"Não. Eu quero que você beba."
O salão ficou em silêncio por um instante. Todos os olhos se voltaram para nós. Senti meu rosto queimar.
"Senhor, eu estou trabalhando," eu disse, com a voz o mais firme que consegui.
"E eu sou seu chefe esta noite," ele respondeu, pegando uma garrafa de uísque da mesa ao lado. "Beba. Beba tudo."
O grupo ao redor dele começou a rir, a incentivar. Era um jogo para eles, uma diversão. Para mim, era uma humilhação profunda. Meu estômago se revirou, não pela ideia do álcool, mas pela vergonha.
E foi então que eu o vi.
Do outro lado do salão, encostado em uma coluna de mármore, estava Pedro. Meu Pedro. O homem que desapareceu da minha vida há quatro anos sem uma única palavra, sem uma explicação, me deixando para trás para juntar os pedaços.
Ele estava diferente. Usava um terno caro que gritava riqueza, o cabelo perfeitamente penteado. E ele não estava sozinho. Ao seu lado, uma mulher deslumbrante, vestida de seda vermelha, se agarrava ao seu braço.
Nossos olhos se encontraram através da multidão. Por um segundo, vi um flash de surpresa em seu rosto, mas ele desapareceu tão rápido quanto veio. Foi substituído por um sorriso cínico, quase divertido, enquanto ele observava a minha humilhação se desenrolar.
Aquele sorriso quebrou algo dentro de mim. A dor, a raiva, a tristeza de quatro anos vieram à tona de uma só vez.
Se ele queria um show, eu daria um.
Com um movimento brusco, peguei a garrafa da mão de Rodrigo.
"Só se o senhor beber comigo," eu disse, minha voz soando surpreendentemente ousada.
Rodrigo ergueu uma sobrancelha, intrigado. Um sorriso lento se espalhou por seu rosto.
"Gostei de você," ele disse. "Você tem coragem."
Ele pegou outra garrafa e a ergueu. Eu levei a minha aos lábios, o cheiro forte do uísque invadindo minhas narinas. Eu olhei diretamente para Pedro, mantendo seu olhar enquanto o líquido queimava minha garganta. Eu bebi, e bebi, e bebi, até a garrafa estar vazia e o mundo começar a girar.
As pessoas ao redor aplaudiram e gritaram. Rodrigo riu alto, satisfeito. Ele me puxou para perto, sua mão apertando minha cintura com força.
"Qual o seu nome, garota corajosa?"
"Luana," eu sussurrei, sentindo o uísque nublar meus sentidos.
Enquanto isso, Pedro continuava a me observar. Seu sorriso tinha desaparecido. Em seu lugar, havia uma expressão que eu não conseguia decifrar. A mulher ao seu lado, Isabella, notou seu olhar fixo em mim e disse algo em seu ouvido, a voz dela cheia de veneno. Pedro desviou o olhar, mas não antes que eu visse a tensão em sua mandíbula.
Rodrigo, alheio a tudo, estava se divertindo. Ele pegou uma taça de vinho tinto e, como se fosse um acidente, a derramou sobre o meu uniforme branco. O tecido barato ficou encharcado, manchado de um vermelho escuro, se agarrando à minha pele.
"Ops," ele disse, com falsa inocência. "Parece que você precisa de um vestido novo. Talvez eu possa te comprar um. E muito mais."
As risadas ao redor ficaram mais altas. Eu me sentia como um animal encurralado. Olhei para Pedro uma última vez, esperando, por um momento de insanidade, que ele fizesse alguma coisa. Que ele viesse me salvar, como teria feito quatro anos atrás.
Mas ele apenas se virou e se afastou com Isabella, desaparecendo na multidão.
A última gota de esperança se esvaiu. A dor se transformou em uma raiva fria e calculista. Eu me voltei para Rodrigo, forçando um sorriso em meus lábios. Se Pedro queria me ver no fundo do poço, eu me certificaria de que ele soubesse que eu escolhi o diabo que ele não conhecia.
"Eu adoraria um vestido novo, senhor," eu disse, minha voz soando sedutora e oca. "E talvez a gente possa conversar sobre esse 'muito mais'."
Eu me agarrei ao braço de Rodrigo, sabendo que estava entrando em um jogo perigoso. Mas com as dívidas da minha família me sufocando e minha mãe apodrecendo em uma cela por um crime que não cometeu, eu não tinha mais nada a perder. Pelo menos, era o que eu pensava.
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