Eu me lembrei de Pedro. Não o homem frio e rico que vi esta noite, mas o Pedro de quatro anos atrás. O Pedro que me levava para passeios de moto pela cidade, o vento em nossos cabelos, suas risadas ecoando no ar. O Pedro que dividia um cachorro-quente comigo na calçada, dizendo que era a melhor refeição que ele já teve. O Pedro que prometeu que ficaríamos juntos para sempre, que construiríamos uma vida, que nada poderia nos separar.
Nós éramos jovens, apaixonados e incrivelmente ingênuos. Eu acreditava em cada palavra dele. Eu confiei nele com cada fibra do meu ser.
E então, um dia, ele simplesmente desapareceu.
Não houve briga, não houve despedida. Ele não atendeu minhas ligações. Sua pequena casa alugada foi esvaziada. Seus amigos disseram que não sabiam de nada. Ele se foi, como fumaça, deixando um buraco do tamanho de um abismo na minha vida.
Os quatro anos seguintes foram um inferno. Pouco depois de seu desaparecimento, meu pai, um pequeno empresário, foi enganado por um sócio e perdeu tudo. As dívidas se acumularam como uma avalanche. Logo depois, minha mãe foi acusada de um desfalque na empresa onde trabalhava, um crime claramente armado para encobrir os verdadeiros culpados. Sem dinheiro para um bom advogado, ela foi condenada.
Eu tive que abandonar a faculdade. Tive que assumir dois, às vezes três empregos, apenas para manter a cabeça do meu pai acima da água e para pagar as taxas legais na esperança vã de reabrir o caso da minha mãe. Meus dias se tornaram uma rotina exaustiva de trabalho, preocupação e uma solidão que me consumia.
E agora, Pedro estava de volta. Rico, noivo, e me observando ser humilhada com um sorriso no rosto. A dor era tão intensa que quase me sufocava.
"Aqui estamos," a voz de Rodrigo me trouxe de volta à realidade.
Ele abriu a porta de uma suíte luxuosa. O lugar era maior que o meu apartamento inteiro.
"Tire essa roupa molhada," ele ordenou, sentando-se em uma poltrona de veludo e acendendo um charuto. "Não se preocupe, eu não vou tocar em você. Não ainda."
Sua voz era casual, mas havia uma ameaça velada nela. Ele estava me desarmando, mostrando que ele estava no controle total. Fui até o banheiro, o barulho da porta se fechando atrás de mim soando definitivo.
A mulher no espelho era uma estranha. Olhos vermelhos, maquiagem borrada, o vestido branco manchado de vinho como se fosse sangue. Eu abri a torneira e joguei água fria no rosto, tentando lavar não apenas a sujeira, mas a vergonha, a dor, o passado.
Você consegue fazer isso, Luana, eu disse a mim mesma. Você tem que fazer isso. Pelo seu pai. Pela sua mãe. Dignidade não paga contas. Felicidade não liberta ninguém da prisão.
Respirei fundo, tentando construir uma muralha ao redor do meu coração. Eu seria o que quer que Rodrigo quisesse que eu fosse. Um brinquedo, um troféu, uma distração. Contanto que ele pudesse me ajudar, eu suportaria qualquer coisa.
Quando eu estava prestes a sair do banheiro, enrolada em um roupão de seda que encontrei, a porta da suíte se abriu com um estrondo.
Não era Rodrigo.
Era Pedro.
Ele fechou a porta atrás de si e a trancou, o clique da fechadura ecoando no silêncio tenso. Seus olhos queimavam com uma fúria que me assustou.
Ele marchou em minha direção, me encurralando contra a parede fria do banheiro. Suas mãos agarraram meus ombros, seus dedos cravando em minha pele.
"O que diabos você pensa que está fazendo, Luana?" ele sibilou, seu rosto a centímetros do meu.
"O que parece que eu estou fazendo?" eu retruquei, minha voz tremendo apesar dos meus esforços para parecer forte.
"Você está se vendendo! Por ele? Por aquele porco do Rodrigo?" sua voz era baixa, mas carregada de desprezo. "Você se tornou isso? Tão baixo? Tão desesperada?"
A hipocrisia em suas palavras era sufocante. Ele, que me abandonou na pior hora da minha vida, agora se sentia no direito de me julgar? A muralha que eu construí ao redor do meu coração começou a rachar.
"Você não tem o direito," eu disse, a voz embargada. "Você não tem o direito de me dizer nada."
"Eu tenho todo o direito!" ele gritou, sua raiva explodindo. Ele me sacudiu com força. "Eu te amava, Luana! E você joga tudo no lixo por... por isso?"
O passado e o presente colidiram com uma força brutal. O homem que me acusava de ter me tornado suja era o mesmo que me deixou para afundar na lama. E no meio daquela suíte de luxo, com o cheiro do charuto de Rodrigo no ar, a nossa tragédia pessoal estava prestes a ter um novo e terrível capítulo.
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