Eu me virei para sair, mas a voz dele me parou, fria como gelo.
"Você é nojenta."
A palavra me atingiu com a força de um tapa. Eu parei, minha mão congelada na maçaneta.
"Repita," eu disse, sem me virar.
"Eu disse que você se tornou nojenta," ele falou, cada sílaba pingando desprezo. "Se vendendo assim. Eu tenho pena do homem que te tocar esta noite. Você está suja, Luana. Por dentro e por fora."
Aquilo doeu. Doeu mais do que a humilhação pública, mais do que a descoberta de sua noiva, mais do que a confissão de suas mentiras. Porque uma parte de mim, a parte tola e teimosa que ainda o amava, se importava com o que ele pensava. E ele havia acabado de pisotear essa parte até a morte.
Meu coração, que eu pensei estar apenas quebrado, agora se sentia... apodrecido. Rasgado em pedaços e deixado para apodrecer.
Sem dizer mais uma palavra, abri a porta do banheiro e saí.
Rodrigo estava exatamente onde eu o deixei, na poltrona, mas o charuto havia sido substituído por outro copo de uísque. Ele estava claramente bêbado, seus olhos vidrados.
"Finalmente," ele resmungou, me puxando pelo braço para o seu colo. "Estava começando a ficar entediado."
Seu peso era desconfortável, seu hálito cheirava a álcool e arrogância. Eu me forcei a relaxar em seus braços, a desempenhar meu papel.
"Me desculpe, senhor," eu murmurei.
Ele me ignorou, pegando meu queixo e me forçando a olhá-lo. Seus olhos tentaram focar em mim.
"Você é tão parecida com ela, Eva," ele sussurrou, seu tom de repente melancólico. "Tão linda."
Eva. Então esse era o nome do meu original. A mulher que eu estava substituindo. A dor era tão familiar que quase se tornou um zumbido de fundo. Primeiro, uma mentira para Pedro. Agora, uma cópia para Rodrigo. Parecia que eu não era mais uma pessoa real, apenas um reflexo das necessidades e desejos dos outros.
Ele inclinou a cabeça para me beijar. Seu beijo era tudo o que o de Pedro não era. Era desleixado, molhado e brutal. Não havia paixão, apenas uma necessidade grosseira de tomar. Eu fechei meus olhos e tentei pensar em qualquer outra coisa: na minha mãe, no meu pai, na pilha de contas na minha mesa da cozinha.
De repente, uma voz sarcástica cortou o ar.
"Atrapalho o casal feliz?"
Meus olhos se abriram. Pedro estava parado na porta da suíte, que ele obviamente não havia trancado ao sair. Ele olhava para nós com uma expressão de puro escárnio, os braços cruzados sobre o peito.
Rodrigo parou o beijo, irritado com a interrupção. Ele se virou para encarar Pedro.
"Pedro Aguiar. O que você quer?" Rodrigo rosnou. "Se perdeu no caminho para a sua noivinha?"
Pedro sorriu, um sorriso que não alcançou seus olhos.
"Apenas vim dar os parabéns pelo seu novo... brinquedo," ele disse, seu olhar passando por mim como se eu fosse um objeto. "Só tome cuidado, Rodrigo. Coisas baratas tendem a quebrar fácil."
A tensão na sala era palpável. Era uma disputa de poder entre dois machos alfa, e eu estava presa no meio, o prêmio e a vítima de seu jogo cruel. Rodrigo, bêbado e furioso, me empurrou para o lado e se levantou, cambaleando um pouco.
"Saia da minha suíte, Aguiar. Antes que eu mande meus seguranças te jogarem para fora."
"Não precisa se preocupar," Pedro disse, seu sorriso se alargando. "Eu só queria ver o show. E devo dizer, é bastante patético. Até para você."
Com uma última olhada de desprezo em minha direção, Pedro se virou e saiu, fechando a porta suavemente atrás de si.
A calma sinistra que ele deixou para trás era quase pior do que a briga. Rodrigo, agora com sua raiva totalmente acesa e sem ter onde descontá-la, voltou sua atenção para mim. Seus olhos estavam escuros e perigosos.
"Parece que seu antigo amigo não gosta de dividir," ele disse, sua voz baixa e ameaçadora.
Ele me agarrou pelo braço, me puxando para cima.
"Vamos voltar para a festa. E você vai me mostrar o quão grata você é por eu ter te escolhido."
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