Vingança do Marido Esquecido
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Capítulo 2

No dia seguinte, acordei com uma sensação de leveza que não sentia há anos. O sol entrava pela janela do quarto de hóspedes, onde eu tinha dormido. A decisão de sair, de finalmente colocar um ponto final naquela relação e naquela vida, tinha me libertado de um peso invisível.

Sentei-me na cama e olhei para minhas mãos. Elas pareciam cansadas. Eram as mãos que tinham passado inúmeras noites em claro, desenhando circuitos, escrevendo códigos, aperfeiçoando os algoritmos que eram o coração da empresa de Ana Paula. Todo o meu sacrifício, toda a minha genialidade, tinha sido para construir o império dela, enquanto eu me contentava em ficar nas sombras, acreditando na promessa de um futuro que nunca chegaria.

Lembrei-me dos primeiros anos, quando éramos apenas nós dois em uma pequena sala alugada, sonhando alto. Ela com sua visão de negócios, eu com minha paixão pela tecnologia. Eu dei a ela tudo. Cedi os direitos de todas as minhas patentes para a empresa, um gesto de amor e confiança. Em troca, ela me deu um cargo de gerente e um casamento secreto.

O cansaço que eu sentia não era apenas físico. Era uma exaustão da alma, de ter sido constantemente diminuído, de ter meu valor ignorado, de ter sido trocado por um estagiário bajulador. A noite anterior não foi o começo do fim. Foi apenas a última gota que fez o copo transbordar.

Levantei-me e fui até o meu notebook. Abri meu e-mail e encontrei a conversa que tive com o Sr. Silva, o principal investidor e parceiro do projeto "Núcleo Alfa" . Ele era um homem sério, que valorizava a competência acima de tudo. Nosso contrato estipulava claramente que eu, João Carlos, deveria liderar o projeto do início ao fim. Qualquer alteração exigiria uma renegociação formal. Ana Paula, em sua arrogância, parecia ter se esquecido desse detalhe crucial.

Com calma, redigi uma mensagem curta e profissional:

"Prezado Sr. Silva,

Escrevo para informá-lo formalmente que, a partir de hoje, não sou mais o gerente de projeto do 'Núcleo Alfa' . A CEO Ana Paula designou o Sr. Pedro para assumir a liderança. Para quaisquer questões futuras relativas ao projeto, por favor, direcione-as a ele e à direção da empresa.

Atenciosamente,

João Carlos."

Enviei a mensagem. Não era uma vingança. Era uma formalidade, um ato de responsabilidade profissional para com um parceiro que confiava em mim. Mas eu sabia que as consequências seriam inevitáveis. Eu estava apenas acendendo o pavio. A bomba explodiria nas mãos de Ana Paula.

Comecei a arrumar minhas coisas. Eram poucas. A maior parte da minha vida estava contida em caixas de documentos, discos rígidos e cadernos de anotações. Ao abrir uma gaveta, encontrei um álbum de fotos. A capa de couro estava gasta.

Abri-o. As primeiras páginas estavam cheias de fotos nossas. Nós dois sorrindo em uma viagem à praia, abraçados em frente à nossa primeira casa, celebrando o registro da empresa. Éramos jovens, cheios de esperança. Conforme eu virava as páginas, as fotos se tornavam mais raras. O número de fotos dela com outras pessoas – parceiros de negócios, funcionários, amigos – aumentava. Nas últimas páginas, eu quase não aparecia mais. A última foto nossa juntos era de mais de um ano atrás, em um evento da empresa. Eu estava em segundo plano, parcialmente obscurecido por outra pessoa, enquanto ela sorria para a câmera no centro.

Eu olhei para aquelas imagens, para o rosto do homem que eu era, e não senti nada. Nenhuma nostalgia, nenhuma tristeza. Apenas um distanciamento, como se estivesse olhando a vida de um estranho. Peguei o álbum e, sem hesitar, o joguei na grande caixa de lixo que estava enchendo com as coisas que deixaria para trás.

À noite, meu celular tocou. Era um número desconhecido.

"Alô?"

"Senhor Carlos? Aqui é o gerente do restaurante 'Le Ciel' . Sua reserva para dois para às oito horas está confirmada. A senhora Ana Paula ainda não chegou."

Eu tinha me esquecido completamente. Hoje era nosso aniversário de casamento. Eu tinha feito a reserva há um mês no restaurante favorito dela, planejando a noite perfeita para, talvez, finalmente sairmos das sombras.

"Pode cancelar a reserva," eu disse, a voz firme. "Nós não vamos."

"Ah, entendo, senhor. Sem problemas."

Desliguei o telefone. Uma hora depois, por um acaso do destino, abri uma rede social. Um dos funcionários da empresa tinha postado uma foto. Nela, um grupo de pessoas ria em volta de uma mesa em um restaurante caro. Na frente e no centro, estavam Ana Paula e Pedro. Ele estava falando algo no ouvido dela, e ela ria, a cabeça inclinada em sua direção. A legenda dizia: "Celebrando o futuro da empresa com nossa CEO incrível e nosso novo gerente de projeto genial! #Sucesso #NovaLiderança" .

O restaurante era o 'Le Ciel' . Eles estavam na mesa que eu tinha reservado.

A ironia era tão cortante que quase me fez rir. Ela não apenas me traiu e me humilhou; ela o fez usando o meu próprio gesto de carinho como palco.

Fechei o aplicativo. Eu esperava sentir uma onda de raiva, de dor, de ciúme. Mas não senti nada. Havia apenas um vazio silencioso, uma calma profunda. Era a paz que vem depois que a tempestade passa e destrói tudo, deixando apenas o chão limpo.

Naquela noite, deitei na cama do quarto de hóspedes, a casa vazia e silenciosa. Pela primeira vez em muitos meses, não precisei de pílulas para dormir. Fechei os olhos e adormeci instantaneamente, um sono profundo e sem sonhos. Era o sono de um homem livre.

            
            

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