Vingança do Marido Esquecido
img img Vingança do Marido Esquecido img Capítulo 3
4
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

A porta da frente bateu com força por volta das duas da manhã, me acordando. Ouvi os passos cambaleantes de Ana Paula no corredor. A porta do quarto de hóspedes se abriu com um rangido.

"João Carlos?" a voz dela estava arrastada, misturada com o cheiro forte de álcool e um perfume masculino que eu não reconhecia, mas suspeitava a quem pertencia.

Eu me sentei na cama, acendendo o abajur. Ela estava parada na porta, a silhueta recortada contra a escuridão do corredor.

"Você nem me esperou?" ela perguntou, a voz carregada de uma acusação inacreditável. "Fiquei trabalhando até tarde, celebrando o nosso sucesso, e você já está dormindo? Não se importa comigo?"

Eu a encarei, incrédulo. A audácia dela era espantosa. Ela passa a noite com o amante dela, na mesa que eu reservei para o nosso aniversário, e volta para casa para me acusar de não me importar.

"Eu estava cansado," respondi, minha voz neutra.

"Cansado? Todos nós estamos cansados, João. Mas temos responsabilidades." Ela entrou no quarto, tropeçando nos próprios pés. "Me traga um copo d' água. Minha cabeça está doendo."

Era um comando, não um pedido. O mesmo tom que ela usava há anos, e ao qual eu sempre obedecia. Mas não esta noite.

"A cozinha fica no mesmo lugar de sempre. Pegue você mesma."

Ela parou e me olhou, os olhos se estreitando na penumbra. Foi a primeira vez que eu a desafiei diretamente em algo tão trivial. Uma pequena faísca de surpresa e raiva brilhou em seu olhar.

"O que você disse?"

"Eu disse que estou cansado," repeti, empurrando o cobertor para o lado e me levantando. "Estou farto de ser seu empregado nesta casa."

Eu andei em direção a ela para sair do quarto. Ela colocou a mão no meu peito para me parar.

"Qual é o seu problema, João? É por causa do Pedro? Você não consegue aguentar ver alguém mais jovem e mais talentoso tendo sucesso?"

Eu olhei para a mão dela no meu peito e depois para o rosto dela. O cheiro de álcool era forte.

"Meu problema," eu disse, tirando a mão dela do meu peito com um movimento firme, "é que eu finalmente me cansei. Boa noite, Ana Paula."

Deixei-a parada no meio do quarto, atônita. Fui para o banheiro, fechei a porta e liguei o chuveiro. Quando saí, ela não estava mais lá. Ouvi a porta do nosso antigo quarto bater com uma força que fez a parede tremer.

No passado, eu teria ido até lá. Teria batido na porta, pedido desculpas, tentado acalmar as coisas, mesmo sabendo que a culpa não era minha. Mas desta vez, eu apenas voltei para o quarto de hóspedes, apaguei a luz e me deitei. O som da porta batendo foi como música para os meus ouvidos. Era o som da liberdade. Adormeci novamente, sentindo-me mais leve do que nunca.

Na manhã seguinte, acordei cedo. A casa estava silenciosa. Pensei que Ana Paula já tivesse saído para o trabalho, talvez com raiva demais para me encarar. Mas quando desci para a cozinha para pegar um café, eu a encontrei na sala de estar.

Ela estava sentada no chão, cercada por papel de presente e fitas. Em suas mãos, havia uma caixa de veludo azul escuro, de uma marca de relógios de luxo extremamente cara. Com muito cuidado, ela estava polindo o relógio de platina que estava dentro. Era o último modelo, um que custava mais do que o meu salário de um ano.

Ela murmurava para si mesma, um sorriso bobo no rosto. "O Pedro vai adorar isso. Combina perfeitamente com ele."

O contraste com o relógio de segunda mão que ela me deu na noite anterior era tão gritante que se tornou cômico. Eu me encostei no batente da porta, tomando meu café, apenas observando a cena.

Ela me notou e pareceu um pouco sem graça, mas rapidamente se recompôs.

"Ah, João. Bom dia." Ela levantou o relógio. "O pulso do Pedro é parecido com o seu, não é? Experimente para eu ver como fica."

Ela se levantou e veio em minha direção, estendendo o relógio. Eu olhei para o objeto brilhante e depois para ela. Ela queria que eu, seu marido, experimentasse o presente que ela comprou para o seu amante. A humilhação era tão profunda, tão surreal, que eu só conseguia sentir uma frieza gelada.

Sem dizer uma palavra, estendi meu pulso.

Ela colocou o relógio em mim. O metal era pesado e frio contra a minha pele. Ficou perfeito.

"É, o tamanho é esse mesmo," ela disse, mais para si mesma do que para mim.

Então, tão rápido quanto o colocou, ela o tirou. Pegou um pequeno pano de flanela de dentro da caixa e começou a limpar meticulosamente a parte de trás do relógio, onde minha pele tinha tocado. Como se meu toque tivesse sujado, contaminado o presente precioso destinado a outra pessoa.

Aquele gesto simples e cruel foi mais eloquente do que qualquer palavra que ela pudesse ter dito. Para ela, eu não era nada. Menos que nada. Eu era apenas uma ferramenta, um manequim para garantir que seu verdadeiro protegido ficasse perfeito.

Terminei meu café em um gole.

"Vou para a empresa," eu disse, minha voz desprovida de qualquer emoção. "Tenho alguns papéis para assinar."

Ela nem levantou o olhar, concentrada em deixar o relógio impecável.

"Tudo bem. Não se atrase."

Eu saí de casa. Na minha pasta, junto com meus documentos pessoais, havia uma cópia do acordo de divórcio que meu advogado tinha preparado. Eu não ia apenas me demitir. Eu ia apagar Ana Paula da minha vida, de todas as formas possíveis.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022