Traição e Dor Infindável
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Capítulo 3

Meu coração batia descontrolado contra as minhas costelas. Aquele clique seco do telefone desligando foi o som mais assustador que eu já ouvi. Por que atender e não falar nada?

Minhas mãos suavam no volante. Eu precisava pensar. João estava ligando para ela, avisando. Sofia sabia que eu estava a caminho. Se havia algo para esconder, ela teria tempo de arrumar tudo.

Um pensamento horrível me ocorreu. Eu disquei o número de João. Talvez ele soubesse de algo. Talvez ele pudesse me dizer o que realmente estava acontecendo.

Ele atendeu no primeiro toque. A voz dele era fria.

"O que você quer?"

"João, eu liguei para o fixo da casa de praia. Alguém atendeu e desligou na minha cara."

"Deve ter sido um engano. Para de surtar, Maria."

Mas enquanto ele falava, eu ouvi um barulho no fundo. Um barulho muito específico. O som de tecido, de roupas sendo tiradas às pressas. E depois, um suspiro baixo, um som que eu conhecia muito bem. Um som de intimidade.

Meu sangue gelou nas veias.

Não era possível.

"Onde você está, João?", perguntei, a voz um fio.

"Em casa, onde mais eu estaria?", ele respondeu, rápido demais.

Mas eu ouvi de novo. Um som abafado, quase um gemido. E depois, a voz de Sofia, muito perto do telefone dele.

"Desliga isso, amor. Vem cá..."

A voz dela era um sussurro, mas para mim, foi um grito.

Ele desligou na minha cara.

O carro balançou na pista. Por um segundo, o mundo ficou branco. A dor da traição foi tão aguda, tão física, que eu quase perdi o controle da direção. Ele não estava em casa. Ele estava com ela. Enquanto eu estava desesperada atrás da nossa filha, ele estava na cama com a minha cunhada.

A náusea subiu pela minha garganta. Eu encostei o carro no acostamento, abri a porta e vomitei. Era um vômito seco, amargo. Não havia nada no meu estômago além de pânico.

Tudo se encaixou. A defesa cega. O carinho na voz. As ausências. As "reuniões de trabalho". A cocada que ele devorava com tanto prazer. Era tudo uma mentira. Uma mentira nojenta e cruel.

Sentei-me no banco do motorista, tremendo incontrolavelmente. A dor era imensa, mas outro sentimento começou a crescer por baixo dela, mais forte, mais urgente: o medo pela minha filha.

Clara não estava com Sofia e Pedro numa inocente noite de praia. Clara estava no meio daquela sujeira. Ela era um peão no jogo doentio deles.

Minha mente clareou. A dor pessoal teria que esperar. Agora, só uma coisa importava.

Peguei o celular. Minhas mãos ainda tremiam, mas meus dedos foram firmes. Disquei 190.

"Polícia, qual a sua emergência?"

"Eu quero reportar o desaparecimento de uma criança", eu disse, a voz surpreendentemente firme. "Minha filha. Clara da Luz. Sete anos."

Expliquei toda a história para o atendente. A saída com a cunhada, a mentira sobre a casa de praia, os telefonemas não atendidos.

O policial do outro lado foi paciente, mas suas palavras eram um balde de água fria.

"Senhora, a sua cunhada é parente. Ela disse que a menina está com ela. Legalmente, não podemos configurar como sequestro ainda. Precisamos esperar 24 horas para abrir um boletim de ocorrência de desaparecimento, a menos que haja evidência de crime."

"Mas há evidência!", eu gritei. "Eles estão mentindo pra mim! Meu marido está com ela! Eles são amantes! Eles levaram a minha filha!"

"Senhora, eu entendo seu desespero, mas adultério não é evidência de sequestro. Se a senhora quiser, pode vir a uma delegacia registrar uma queixa, mas a busca oficial só começará após o prazo de 24 horas."

Desliguei, sentindo uma onda de impotência me afogar. A lei, os procedimentos, os prazos. Tudo parecia conspirar contra mim. Ninguém me levaria a sério. Eu era apenas a "esposa neurótica".

Meu celular tocou de novo. Era João. A raiva no rosto dele devia ser imensa. Atendi, pronta para a briga.

"Você ficou louca? A polícia acabou de me ligar! Você registrou uma queixa contra a Sofia?"

A voz dele era um rosnado.

"Eu vou registrar uma queixa contra quem for preciso pra encontrar a minha filha, João!"

"Não vai, não! Eu já falei com eles. Eu disse que foi um mal-entendido de uma esposa ciumenta e retirei a queixa. Eu sou o pai, Maria. Eu tenho esse direito. Não se atreva a nos envergonhar desse jeito de novo."

Ele retirou a queixa. Ele ativamente me impediu de usar a única ferramenta que eu tinha. Ele escolheu ela. Definitivamente.

"Você vai se arrepender disso, João. Eu juro que você vai."

Desliguei. O desespero se foi, substituído por uma raiva fria e cortante. Se a polícia não ia me ajudar, se meu marido era meu inimigo, então eu faria isso sozinha.

Voltei para a estrada. Eu não ia mais para a casa de praia. Era uma armadilha, uma distração. Eles não estariam lá.

Mas eu sabia onde encontrá-los. Havia apenas um lugar. O apartamento de Sofia. O ninho deles.

Eu ia até lá. E eu ia arrancar a verdade da garganta deles.

            
            

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