A cafeteria estava lotada. Enquanto eu esperava na fila, senti um toque no meu ombro.
"Luana? É você?"
Eu me virei. Era Laura. Ela parecia surpresa em me ver. Seu tornozelo estava enfaixado, mas ela andava sem muletas.
"Oi, Laura", eu disse, tentando manter minha voz neutra. "Como está seu tornozelo?"
"Ah, está melhor. Obrigada por perguntar", ela sorriu, um sorriso genuíno que me deixou desconfortável. "O que você está fazendo aqui?"
"Apenas tomando um café."
Antes que pudéssemos continuar a conversa estranha, a porta da cafeteria se abriu e Thiago entrou. Seus olhos passaram por mim como se eu fosse invisível e se fixaram em Laura.
A mudança em sua expressão foi instantânea e chocante. A frieza desapareceu, substituída por um calor e uma suavidade que eu nunca tinha visto.
"Laura", ele disse, sua voz baixa e íntima. Ele foi até ela e, sem hesitar, tocou seu rosto com uma ternura que me fez sentir um nó no estômago. "Eu estava preocupado. Você não deveria estar andando com esse tornozelo."
"Estou bem, Thiago. É sério", ela riu, inclinando-se para o toque dele.
Eles estavam em seu próprio mundo, a poucos metros de mim. Ele a conduziu a uma mesa, puxou a cadeira para ela e foi buscar seus cafés. Ele sabia exatamente como ela gostava, sem precisar perguntar. Ele riu de algo que ela disse, um som genuíno e feliz que eu nunca o ouvi fazer em cinco anos.
Ver aquilo doeu mais do que a explosão na minha vida passada. Doeu porque era real. Era a prova viva de tudo que eu nunca tive e nunca teria com ele.
Eu me virei para sair, incapaz de suportar mais.
Quando saí para a calçada, um grupo de homens bêbados e barulhentos estava bloqueando o caminho.
"Ei, gracinha", um deles disse, me olhando de cima a baixo. "Qual é a pressa?"
Eu tentei contorná-los, mas eles me cercaram. "Não seja tímida", outro disse, o hálito de álcool em meu rosto.
O pânico começou a subir pela minha garganta.
De repente, ouvi uma voz atrás de mim. "Deixem-na em paz."
Era Laura. Ela tinha saído da cafeteria, seu rosto pálido, mas determinado.
Os homens riram. "Olha só, a amiguinha dela veio para brincar."
"Eu disse para deixá-la em paz", Laura repetiu, dando um passo à frente para ficar entre mim e eles.
Um dos homens a empurrou. "Saia daqui, garota."
Laura tropeçou, mas se manteve firme. "Não toquem nela."
A coragem dela era estúpida e imprudente, mas era coragem. Ela estava me defendendo. A situação ficou tensa rapidamente. O homem que a empurrou ficou com raiva e levantou a mão para ela.
Foi quando Thiago saiu da cafeteria. Ele viu a cena, a mão do homem levantada para Laura, e seu rosto se transformou em uma máscara de fúria assassina.
Ele se moveu com uma velocidade assustadora. Em segundos, ele estava na frente de Laura, agarrando o pulso do homem e torcendo-o com uma força brutal. O homem gritou de dor. Os outros recuaram, assustados com a violência repentina.
Thiago os dispensou com um olhar gelado e eles fugiram.
Ele então se virou, mas não para mim. Ele foi direto para Laura, seus olhos cheios de pânico e preocupação. "Você está bem? Ele te machucou?"
"Eu estou bem, Thiago", ela sussurrou, tremendo. Foi então que ela viu o sangue. Uma pequena mancha vermelha estava se espalhando em seu vestido branco, perto do ombro. Na confusão, um dos homens devia estar com algo afiado, talvez uma faca de bolso, e a arranhou.
O rosto de Thiago ficou branco de pavor. "Você está sangrando."
Ele olhou para mim, e a preocupação em seus olhos foi substituída por um ódio puro e gelado. Sua lógica distorcida já tinha chegado a uma conclusão.
"Isso é sua culpa", ele sibilou para mim. "Se você não estivesse aqui, nada disso teria acontecido. Ela se machucou por sua causa."
Ele não estava gritando. Sua voz era baixa, quase um sussurro, o que a tornava ainda mais aterrorizante.
Eu fiquei ali, chocada em silêncio. Ele me culpou. Ele me culpou por Laura ter decidido me defender.
Ele pegou o telefone, seus olhos nunca deixando os meus, cheios de uma promessa sombria. Ele falou com alguém do outro lado da linha, sua voz fria e cortante.
"Levem-na. Dêem a ela uma lição que ela não vai esquecer."
Ele não estava falando sobre Laura. Ele estava falando sobre mim.
Ele estava me entregando aos seus capangas para ser punida. Porque a mulher que ele amava tinha um arranhão.
O mundo pareceu parar. Naquele momento, eu entendi. Não importava o que eu fizesse. Nesta vida, assim como na última, aos olhos de Thiago, eu sempre seria a vilã da história dele. E ele faria qualquer coisa para me destruir para proteger sua heroína.
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