Ele a guiou para longe, sem olhar para trás uma única vez. Ele me deixou com os dois homens, como se eu fosse um pedaço de lixo para ser descartado.
Eles me jogaram na parte de trás de um carro e me levaram para um galpão vazio nos arredores da cidade. O lugar cheirava a poeira e ferrugem.
A "lição" foi brutal.
Eles me bateram. Não com raiva, mas com uma eficiência fria e profissional. Cada golpe era calculado para causar dor máxima sem matar. Eles quebraram meu braço esquerdo e duas das minhas costelas.
Quando terminaram, eles me deixaram no chão de concreto sujo, em uma poça do meu próprio sangue.
Eu não sei quanto tempo fiquei ali. Eventualmente, a dor me tirou da inconsciência. Com meu braço bom, consegui pegar meu telefone, que milagrosamente não havia quebrado, e ligar para uma ambulância.
No hospital, a enfermeira me fez perguntas. "Seu marido foi notificado?"
Eu olhei para ela, a dor em meu corpo uma constante latejante. "Eu não tenho marido", eu disse, a voz rouca. "Eu sou solteira."
Dizer aquelas palavras em voz alta foi como cortar a última corda que me prendia a ele.
Passei a noite seguinte em uma névoa de dor e analgésicos. Na manhã seguinte, acordei com vozes do lado de fora do meu quarto.
A porta se abriu e Thiago entrou. Laura estava logo atrás dele, o rosto pálido e os olhos vermelhos de choro. Havia um pequeno curativo em seu ombro.
Ela correu para a minha cama. "Luana, meu Deus. Eu sinto muito. Eu sinto tanto. Eu disse a ele para não fazer isso. Eu tentei impedi-lo." Lágrimas escorriam por seu rosto. "Como você está? O que eles fizeram com você?"
A sinceridade em sua voz era inconfundível. Ela estava genuinamente horrorizada. Ela cuidou de mim, ajustando meus travesseiros e me oferecendo água, com uma gentileza que me confundiu.
Thiago ficou parado perto da porta, observando, seu rosto uma máscara impenetrável.
Ele se aproximou da cama e colocou um cheque na mesa de cabeceira.
"Isso deve cobrir suas despesas médicas e um pouco mais", ele disse, sua voz desprovida de qualquer emoção. "Considere uma compensação."
Eu olhei para o cheque. O número de zeros era obsceno. Ele achava que podia me quebrar e depois pagar para consertar.
Eu ri. Um som seco e quebrado que se transformou em uma tosse dolorosa. Minhas costelas quebradas protestaram.
Com meu braço bom, peguei o cheque. Rasguei-o em pedaços pequenos e os deixei cair no chão.
"Eu não quero o seu dinheiro, Thiago", eu disse, olhando diretamente em seus olhos.
A mandíbula dele se contraiu. "O que você quer, então?"
"Eu já te disse. Eu quero o divórcio."
Nossos olhares se encontraram e se mantiveram. Pela primeira vez, eu não desviei o olhar. Eu o enfrentei, sem medo.
A tensão na sala era palpável. Laura olhava de um para o outro, confusa e assustada.
"Thiago...", ela começou, "o que está acontecendo? Divórcio?"
Ele a ignorou. Seus olhos ainda estavam em mim.
"Eu sei sobre vocês dois", eu disse em voz baixa, mas cada palavra era clara e afiada. "Eu sei de tudo."
O silêncio que se seguiu foi pesado. O rosto de Laura se contorceu em choque e culpa. A máscara de Thiago finalmente rachou, revelando uma surpresa genuína. Ele não achava que eu fosse capaz de descobrir. Ele me subestimou.
Ele se recuperou rapidamente. Sua expressão endureceu, tornando-se fria e cruel.
"Sim", ele disse, sua voz um golpe. "Eu amo a Laura. E vou protegê-la de qualquer um que tente machucá-la. Incluindo você."
Ele deu um passo mais perto da cama, sua presença me sufocando.
"Fique longe dela", ele advertiu, a ameaça clara em sua voz. "Se você chegar perto dela de novo, o que aconteceu ontem vai parecer uma brincadeira de criança. Você me entendeu?"
Ele estava me avisando para ficar longe da mulher que ele amava, a mulher que estava, naquele exato momento, segurando minha mão e chorando pela minha dor.
O absurdo da situação era quase cômico.
"Entendi perfeitamente", eu disse, minha voz gelada. "Agora saiam do meu quarto."
Ele olhou para mim por mais um momento, depois se virou e saiu, puxando Laura com ele.
Eu fiquei sozinha, olhando para os pedaços do cheque no chão. Ele confirmou. Ele admitiu. Não havia mais espaço para dúvidas ou confusão.
A dor no meu corpo não era nada comparada ao vazio gelado que se instalou no meu peito. Mas dentro daquele vazio, algo novo estava crescendo. Não era amor, não era esperança. Era uma determinação dura e fria como aço.
Eu ia sobreviver a isso. E eu nunca mais deixaria ele me machucar.
---