Rejeição e Um Novo Começo
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Capítulo 3

Na segunda-feira, fui ao centro da cidade. Passei em frente à loja onde tínhamos planejado comprar nossos materiais para a PUC, cadernos com o logo da faculdade, canetas personalizadas. Nós tínhamos uma lista. Em vez de entrar, continuei andando até outra loja, uma papelaria técnica. Comprei calculadoras científicas, esquadros, compassos e um fichário grande e sem graça, todo preto. Coisas para um futuro estudante de engenharia. Eram objetos estranhos nas minhas mãos, símbolos de um caminho que eu nunca imaginei trilhar.

Quando cheguei em casa, Sofia e Camila estavam me esperando na sala, sentadas no sofá com expressões sérias. Elas viram a sacola na minha mão.

"O que é isso?", perguntou Sofia, apontando para a sacola.

"Material para a faculdade", respondi, colocando a sacola na mesa.

Camila pegou um dos esquadros, franzindo a testa. "Mas a gente não vai usar isso em Comunicação. Para que você comprou isso?"

A ingenuidade delas era quase dolorosa. Elas realmente não viam o que estava acontecendo.

"Eu vou", disse eu, simplesmente.

Antes que elas pudessem processar a informação, o celular de Sofia tocou. Era Gabriel. A expressão dela mudou instantaneamente de confusão para preocupação. Ela atendeu no viva-voz.

"Sofia? Oi, sou eu", a voz de Gabriel soava chorosa e fraca. "Desculpa ligar assim, mas... eu não tenho mais para onde ir. Meu padrasto... ele me expulsou de casa. Estou na rua, com uma mochila."

Sofia e Camila pularam do sofá, horrorizadas. "O quê? Gabriel, onde você está?", perguntou Camila, pegando o celular.

"Não se preocupem comigo", ele soluçou. "Eu vou dar um jeito. Só... queria ouvir a voz de vocês uma última vez."

Era uma atuação digna de um Oscar. E elas caíram em cheio.

"Não fale assim!", disse Sofia, com a voz embargada. "Você não vai a lugar nenhum. Você pode ficar aqui em casa!"

"Não, eu não quero incomodar a sua família...", ele disse, fazendo-se de nobre.

"Não é incômodo nenhum! Você é nosso amigo!", Camila insistiu. "Fique na casa do João Vítor! Ele tem um quarto de hóspedes!"

Gelei. Olhei para elas, incrédulo. Elas estavam oferecendo a minha casa para ele, sem nem me consultar.

"Não", eu disse, minha voz saindo mais firme do que eu esperava. "Ele não vai ficar aqui."

As duas se viraram para mim, chocadas com a minha frieza. "João Vítor! Como você pode ser tão egoísta?", atacou Sofia. "O cara está na rua!"

"Eu não me importo", respondi. Fiquei surpreso com a minha própria calma. Eu realmente não me importava. Aquele drama todo soava falso, mais uma de suas manipulações para se infiltrar ainda mais em nossas vidas, ou melhor, nas vidas delas.

"Tudo bem, Gabriel, não se preocupe", disse Camila ao telefone, me fuzilando com o olhar. "Você pode ficar na minha casa. Meus pais não vão se importar."

Elas desligaram e se viraram para mim, a decepção e a raiva estampadas em seus rostos. Eu apenas dei de ombros e comecei a tirar minhas novas compras da sacola, organizando-as na mesa. Eu estava em outro mundo, um mundo onde os problemas de Gabriel e a opinião delas não me alcançavam mais.

Enquanto eu arrumava meus esquadros, meu celular tocou. Era minha mãe.

"Filho, falei com seu pai. Está tudo certo para a sua mudança para São Paulo. Estamos muito orgulhosos de você", ela disse, sua voz cheia de carinho. "Ah, e eu liguei para a sua tia, a irmã do seu pai. Lembra da Ana Clara, a filha dela? Ela também passou na USP, no mesmo curso que você! Ela disse que vai te encontrar no campus no primeiro dia para te ajudar. Não é ótimo? Vocês não se veem desde que eram crianças."

Ana Clara. O nome soou distante, uma memória vaga de uma prima em segundo grau que eu mal conhecia. Mas a notícia me trouxe uma sensação de conforto. Eu não estaria completamente sozinho.

"É ótimo, mãe. Obrigado", respondi.

Desliguei o telefone e vi que Sofia e Camila ainda estavam ali, me olhando como se eu fosse um estranho. Elas não disseram nada, apenas pegaram suas bolsas e saíram.

No dia seguinte, um entregador tocou a campainha. Era um pacote para mim, com o selo da USP. O kit de boas-vindas. Eu estava no banho e demorei um pouco para atender. Quando cheguei na porta, Gabriel estava lá, segurando o meu pacote. Ele estava morando na casa de Camila, que era vizinha à minha.

"Ah, oi, João Vítor", ele disse com um sorriso. "Isso chegou para você. O que é? Parece importante."

Ele segurava o pacote como se fosse dele, seus dedos curiosos cutucando a caixa. A vontade de arrancar o pacote da mão dele foi imensa, mas me contive.

"É meu", disse eu, pegando a caixa com firmeza. "Não é da sua conta."

Fechei a porta na cara dele, o coração batendo forte de raiva. Ele estava em todo lugar, como uma praga. Mas não por muito tempo. Em breve, eu estaria a centenas de quilômetros de distância.

            
            

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