Meu nome é Sofia. Ou, pelo menos, era. Agora, sou apenas um eco, uma memória que as pessoas se esforçam para apagar.
Eu morri em uma noite fria e solitária, em um quarto de hospital barato que cheirava a desinfetante e desespero. Ninguém da família que me criou por vinte anos estava ao meu lado. Nenhuma mão segurou a minha.
Minha morte não trouxe paz, apenas uma nova onda de calúnias.
No dia seguinte, meu ex-noivo, Bruno, o homem que um dia prometeu me amar para sempre, deu uma entrevista exclusiva para a maior emissora de TV do país. Seus olhos estavam cheios de uma tristeza fingida.
"Sofia era uma pessoa complicada", ele disse, com a voz embargada. "Ela cresceu com tudo, mas seu coração era cheio de ganância. Ela não suportou a ideia de Camila, a verdadeira herdeira, voltar para a família Silva. Ela tentou de tudo para nos separar, para destruir nossa felicidade. É uma tragédia, mas talvez sua morte seja um alívio para todos."
Suas palavras foram como gasolina jogada em um incêndio.
A internet explodiu. As manchetes dos portais de notícias gritavam: "A MORTE DA FALSA HERDEIRA: O FIM DE UMA VILÃ". Os comentários eram cruéis, uma avalanche de ódio e desprezo.
"Vadia interesseira, finalmente teve o que mereceu!"
"Ainda bem que morreu, um lixo a menos no mundo."
"Coitada da Camila, teve que aguentar essa cobra por tanto tempo."
Eu flutuava, invisível, assistindo a tudo. Um espectro condenado a testemunhar a destruição completa da minha própria reputação. Não havia dor física, mas minha alma parecia se rasgar em pedaços.
A família que me chamava de "filha" foi a mais cruel de todas.
Meus pais, o Sr. e a Sra. Silva, que um dia me cobriram de beijos e presentes caros, agiram como se eu nunca tivesse existido. Eles queriam apagar a mancha que eu, a "filha falsa", representava para o nome impecável da família.
Eles deram uma ordem clara para a governanta, Tia Lúcia, a única pessoa que ainda parecia ter um pingo de humanidade naquela casa.
"Queime tudo", ordenou minha "mãe", com o rosto duro como pedra. "Cada foto, cada roupa, cada livro. Não quero nenhum vestígio de Sofia nesta casa."
Tia Lúcia hesitou, com os olhos cheios de lágrimas.
"Mas senhora, o vestido que a Sofia mais amava..."
"Aquele vestido?", meu "pai" interrompeu, com uma risada fria. "Dê para os cachorros. Talvez eles façam bom uso."
Eles fizeram pior. Pegaram a caixa com minhas cinzas, o que restou do meu corpo consumido pelo câncer, e em vez de me darem um enterro digno, jogaram em uma vala comum, como se eu fosse lixo.
Tudo para preparar o palco para o grande evento: o casamento da verdadeira herdeira, Camila, com o meu ex-noivo, Bruno.
Seria a festa do ano, a celebração da vitória do "bem" contra o "mal". Todos os que me condenaram estariam lá, sorrindo, bebendo champanhe e celebrando minha ausência.
Mas eles não sabiam de uma coisa.
Eu morri, sim. Fui caluniada, renegada e esquecida.
Mas eu deixei um presente de casamento.
Um presente de casamento para Camila e Bruno.
E estava prestes a ser entregue.