Vingança da Alma Quebrada
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Capítulo 3

Como um fantasma, eu assistia a tudo, uma dor oca no lugar onde meu coração costumava bater. "Alma podre". Era isso que eles pensavam de mim. Era essa a imagem que eu mesma ajudei a construir, tijolo por tijolo de silêncio e sacrifício.

Camila ignorou os cochichos e a raiva de Bruno. Ela virou a página do diário, e uma grande tela atrás do altar, que deveria exibir fotos românticas do casal, de repente se acendeu. O pen drive. Tia Lúcia, minha única cúmplice, havia seguido minhas instruções à risca. A imagem projetada na tela era a página do meu diário, em letras grandes e claras para que todos pudessem ler.

Minha caligrafia apareceu, narrando o dia em que Camila chegou.

15 de Março.

"Hoje, a verdadeira filha dos Silva chegou. O nome dela é Camila. Ela é pequena e magra, e seus olhos são como os de um animal assustado. Ela se escondeu atrás da governanta quando meus pais tentaram abraçá-la. Eles prepararam um quarto de princesa para ela, cheio de bonecas e vestidos cor-de-rosa, mas ela se recusou a entrar. Ela só queria o quartinho simples perto da cozinha. Meus pais ficaram frustrados. 'Seja grata!', minha mãe disse a ela. 'Nós te demos uma vida nova!'"

A Sra. Silva, no meio da multidão, ficou pálida. Aquelas foram exatamente suas palavras.

O Sr. Silva pigarreou, desconfortável.

"Que bobagem é essa?", ele disse em voz alta. "Estávamos apenas tentando fazer com que ela se sentisse em casa! Sofia sempre distorcia tudo!"

A página na tela virou, continuando a história.

15 de Março, continuação.

"Eles não entendem. Camila não precisa de um quarto de princesa. Ela precisa de segurança. Ela cresceu sem nada. O luxo a assusta. Mais tarde, à noite, eu a vi na cozinha, escondida, comendo um pão velho que ia para o lixo. Ela estava com fome. Eu peguei a lasanha chique que o chef preparou para o jantar e coloquei em um prato simples. Levei para ela no quartinho dos fundos. Eu não disse nada, apenas deixei o prato no chão e saí. Pela fresta da porta, eu a vi devorar a comida como se não comesse há dias. Talvez ela não precisasse de pais ricos. Talvez, por enquanto, ela só precisasse de uma lasanha quente."

Meu eu fantasma se lembrou daquele momento. Lembrei-me de como meu coração doeu ao vê-la tão desamparada. Eu, a "falsa herdeira mimada", fui a única que entendeu seu medo.

Camila, de pé no altar, levou a mão à boca. Seus olhos se encheram de lágrimas. Ela se lembrava. Ela se lembrava do prato de lasanha aparecendo magicamente em sua porta naquela primeira noite assustadora. Ela nunca soube quem o havia deixado. Até agora.

"Isso é mentira!", a Sra. Silva gritou, perdendo a compostura. "Sofia nunca faria algo assim! Ela tinha ciúmes, ela a odiava desde o primeiro dia! Ela a empurrou na piscina na semana seguinte!"

A página do diário virou novamente.

22 de Março.

"Meus pais estão furiosos comigo. Eles acham que eu empurrei Camila na piscina de propósito. A verdade é que eu vi Bruno, que já estava de olho na fortuna da 'nova herdeira', tentando 'brincar' com ela perto da borda. Ele a assustou, e ela escorregou. Eu pulei para ajudá-la. Fui eu que a tirei da água. Mas quando meus pais chegaram, Bruno já tinha inventado sua história. 'Sofia a empurrou! Eu vi!', ele disse, com seus olhos de ator talentoso. E, claro, eles acreditaram nele. No príncipe encantado. Não em mim, a filha de mentira."

Um murmúrio percorreu a multidão. As pessoas começaram a olhar para Bruno, que estava branco como papel.

"Isso é um absurdo!", ele gaguejou, sua voz um pouco alta demais. "Ela está mentindo! Ela sempre foi uma mentirosa manipuladora! Camila, amor, não acredite nisso!"

A mãe de Bruno, uma mulher tão arrogante quanto o filho, interveio.

"Que calúnia! Meu filho é um cavalheiro! Essa garota morta está tentando arruinar tudo com suas fantasias doentias!"

Mas Camila não estava olhando para Bruno. Ela estava olhando para a tela, para as minhas palavras, e seu rosto era uma mistura de choque, dor e uma compreensão que começava a florescer. Ela se lembrava daquele dia. Lembrava-se do medo que sentiu de Bruno perto da piscina, do empurrão sutil dele, do seu próprio desequilíbrio. E lembrava-se dos braços de Sofia ao seu redor, puxando-a para a superfície. Uma memória que ela havia reprimido, convencida pela narrativa dos adultos de que eu era a vilã.

A verdade, mesmo que tardia, começava a abrir caminho.

            
            

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