Abri a pasta com as capturas de tela de novo e de novo, como um masoquista revivendo sua própria tortura. Eu ampliava a foto de Ana, procurando por qualquer pista. O quarto era genérico, paredes brancas, uma cabeceira de madeira escura. Poderia ser qualquer lugar. Um hotel, talvez.
Quem postou a foto usava um apelido, "ReiNoite" . Tentei procurar pelo nome de usuário em outras redes sociais, mas não encontrei nada. Era um fantasma.
Milhares de cenários passavam pela minha cabeça. Ela estava tendo um caso? Por quanto tempo? Quem era o homem? Ele a drogou e tirou a foto? Ou ela sabia? Ela participou? A ideia me deixava enjoado. A Ana que eu conhecia, a Ana doce, gentil, que ficava vermelha com qualquer elogio, jamais faria algo assim.
Mas a prova estava ali, brilhando na minha tela. O colar. Aquele maldito colar que agora parecia um símbolo da minha própria estupidez.
Por volta das duas da manhã, ouvi a chave na porta. Meu corpo ficou tenso. Era ela.
Ana entrou em casa na ponta dos pés, tentando não fazer barulho. Quando me viu sentado no sofá, no escuro, ela deu um pulo de susto.
"Ricardo! Meu Deus, que susto! O que você está fazendo acordado?"
Ela acendeu a luz. Seu rosto estava pálido, e havia olheiras escuras sob seus olhos. Seu cabelo estava um pouco bagunçado, e ela parecia exausta.
"A reunião se estendeu muito" , ela disse, bocejando e deixando a bolsa cair no chão. "Foi um inferno. Estou morta."
Ela se aproximou para me dar um beijo, mas eu me afastei instintivamente.
Ela parou, a confusão estampada em seu rosto. "O que foi? Aconteceu alguma coisa?"
Eu queria gritar. Queria jogar o laptop na cara dela e exigir que ela me explicasse aquela foto. Mas as palavras não saíam. Eu apenas a encarei, meu rosto uma máscara de pedra.
"Nada" , eu murmurei. "Só não consegui dormir."
Minha voz soou estranha, oca.
Ana franziu a testa, preocupada. "Você está bem? Parece pálido."
Ela tocou minha testa para ver se eu estava com febre. O toque dela, que sempre me confortou, agora me queimava a pele. Afastei sua mão gentilmente.
"Estou bem. Só cansado. Vou para a cama."
Levantei-me e fui para o nosso quarto sem olhar para trás. Eu a ouvi suspirar na sala.
Deitei na cama e fechei os olhos, fingindo dormir. Minutos depois, ela entrou no quarto, trocou de roupa e deitou ao meu lado. Senti o calor do seu corpo perto do meu, o cheiro familiar do seu perfume. Antes, isso era meu porto seguro. Agora, era uma fonte de agonia.
Ela se aninhou em mim, passando o braço pela minha cintura.
"Boa noite, meu amor" , ela sussurrou.
Eu não respondi. Apenas fiquei ali, rígido, ouvindo sua respiração ficar lenta e profunda enquanto ela adormecia.
Como ela podia dormir tão tranquilamente? Como ela podia agir com tanta naturalidade depois do que quer que tenha acontecido?
A imagem da foto voltou à minha mente: Ana dormindo, vulnerável, enquanto alguém a fotografava. E agora, ali estava ela, dormindo ao meu lado, na nossa cama, no nosso apartamento.
A mulher que eu amava, a mulher com quem eu dividia a vida, de repente se tornou uma estranha. Olhando para o teto no escuro, uma pergunta aterrorizante ecoava na minha cabeça sem parar.
Quem é você, Ana? Quem é você de verdade?
A noite se arrastou, e com a primeira luz do amanhecer, eu já tinha tomado uma decisão. Eu não ia confrontá-la. Não ainda. Eu ia descobrir a verdade sozinho.
Levantei-me silenciosamente, fui para a sala e abri meu laptop novamente. Comecei a pesquisar. Comecei a cavar. Eu ia descobrir o que ela estava escondendo, custe o que custar.