O riso da mulher grávida soou como um sino que anunciava a minha desgraça. Pedro sorriu de volta, um sorriso genuíno, cheio de amor. Um amor que não era para mim.
Reunindo uma força que eu não sabia que tinha, dei um passo à frente. Ricardo tentou me segurar.
"Sofia, espere. Talvez não seja uma boa ideia."
Mas eu não conseguia parar. Eu precisava saber. Precisava que ele me visse.
"Pedro?"
Minha voz saiu como um sussurro rouco, quase inaudível. Mas ele ouviu.
Ele se virou, e seus olhos encontraram os meus. Por um instante, o tempo congelou. Eu procurei em seu rosto qualquer sinal de reconhecimento, qualquer faísca de memória, qualquer coisa que me dissesse que o meu Pedro ainda estava ali.
Não havia nada.
Seu rosto se contorceu numa expressão de pura confusão, depois de leve irritação. A mulher ao seu lado, Isabela, percebeu a tensão. Ela se levantou, colocando-se protetoramente entre nós.
"Pois não? Quem é você? Nós o conhecemos?"
A voz dela era calma, mas firme. Pedro colocou a mão no ombro dela, um gesto de apoio. Ele estava a defendendo. De mim.
"Você... você não se lembra de mim?" , perguntei, olhando diretamente para Pedro, ignorando a mulher.
Seus olhos, os mesmos olhos castanhos que eu amava, me analisaram como se eu fosse uma completa estranha. Havia uma frieza ali, uma distância que me aterrorizou mais do que a própria morte.
"Me desculpe, senhora. Eu acho que você me confundiu com outra pessoa" , ele disse, a voz polida, mas impessoal.
Senhora. Ele me chamou de senhora. Meu coração se partiu em mais um milhão de pedaços. Aquele não era o meu Pedro. O meu Pedro me chamava de "minha artista" , "minha vida" .
O olhar dele desviou para a barriga de Isabela, e um brilho de preocupação surgiu. "Você está bem, amor? Não deve se estressar."
Amor. A palavra que ele usou para ela me atingiu com a força de um soco. Ele estava casado. Ele ia ter um filho. A realidade se abateu sobre mim com um peso insuportável. Durante os três anos em que eu o chorei, em que minha saúde se desintegrava pela saudade, ele estava aqui, construindo uma nova vida, uma nova família.
A vontade de gritar, de sacudi-lo, de dizer "Sou eu, Sofia! Sua noiva! A mulher com quem você se casou!" , era avassaladora. Mas o que adiantaria? O homem à minha frente não me reconhecia. Para ele, eu era apenas uma louca que o abordara num bar.
Ricardo se aproximou, me segurando pelo braço.
"Vamos, Sofia. Vamos sair daqui."
Eu não conseguia me mover. A dor era física, uma pressão no peito que me impedia de respirar. Eu tinha imaginado nosso reencontro tantas vezes. Nos meus sonhos, ele me via, chorava, me abraçava e dizia que sentia minha falta. A realidade era um pesadelo do qual eu não conseguia acordar.
"Não..." , murmurei, mais para mim mesma do que para Ricardo. "Isso não pode ser real."
Eu olhei para Pedro de novo, desesperadamente, buscando qualquer vestígio do nosso passado. Ele parecia mais bronzeado, o cabelo um pouco mais comprido, mas era ele. Era a mesma pinta ao lado do olho esquerdo, a mesma cicatriz fina na sobrancelha de uma briga de infância. O corpo era dele, o rosto era dele. Mas a alma... a alma que me amava, não estava mais ali.
Uma dúvida terrível começou a se formar na minha mente. E se ele não fosse Pedro? E se fosse apenas alguém incrivelmente parecido? Seria mais fácil aceitar isso do que aceitar que ele me esqueceu completamente. Que ele me apagou da sua vida como se eu nunca tivesse existido.