Promessa Que Virou Pesadelo
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Capítulo 2

A dor era uma névoa espessa que envolvia Sofia. Deitada no chão frio e úmido da cela, cada parte do seu corpo gritava. Os policiais tinham saído, deixando para trás o cheiro de suor e raiva. No silêncio, sua mente viajou para longe, para um tempo mais simples, mais feliz.

Ela se lembrou de uma tarde, quando tinha uns dez anos. Lucas e ela correram para o riacho que ficava no fundo da propriedade de seus pais. Ele a desafiou a pegar o peixe mais rápido. Suas mãos pequenas e ágeis mergulharam na água, e ela sentiu a textura lisa de um lambari. Com um grito de vitória, ela o ergueu no ar. Lucas riu, o som ecoando pela mata.

"Você sempre ganha, Sofia."

Ele não parecia chateado, apenas admirado. Ele se sentou ao lado dela na beira do riacho, e eles dividiram uma goiaba que ele havia pego no caminho. O sabor doce da fruta, o calor do sol em seus rostos, a risada dele. Eram memórias assim que a mantinham sã. Eram essas as lembranças que ela precisava proteger.

A porta da cela rangeu, trazendo-a de volta à realidade dolorosa. Era Lucas. Ele parou do lado de fora das grades, o rosto uma máscara de dureza. Seus olhos, que antes a olhavam com tanto carinho, agora a examinavam com frieza.

"Por quê, Sofia? Eu só quero entender. Por quê? Eles te amavam mais que tudo. Eu te amava."

Sua voz era um misto de raiva e dor. Cada palavra era como um golpe. Sofia o encarou, a garganta apertada. Ela queria gritar, queria explicar, mas as palavras não podiam sair. O plano não permitia. O sacrifício deles seria em vão se ela falasse.

"Me diga que você se arrepende. Me diga qualquer coisa" , ele insistiu, a voz quebrando.

Sofia desviou o olhar. A lembrança da goiaba, do sorriso de Lucas, voltou com força. Um sorriso minúsculo, quase imperceptível, tocou seus lábios. Um espasmo de dor e saudade.

Um dos guardas, que acompanhava Lucas, viu o sorriso.

"Olha só, doutor. A desgraçada está rindo. Rindo da sua cara."

A incompreensão no rosto de Lucas se transformou em nojo. Ele se virou, incapaz de continuar olhando para ela. O guarda abriu a porta da cela e entrou.

"Achando graça, sua vagabunda?"

O tapa estalou no rosto de Sofia, jogando sua cabeça para o lado. A dor explodiu em sua bochecha.

Do lado de fora, uma pequena multidão se formara. As pessoas da cidade, seus vizinhos, as pessoas para quem seus pais sorriam todos os dias. Agora, seus rostos estavam contorcidos pelo ódio.

"Assassina!"

"Monstro!"

"Que ela apodreça na cadeia!"

Os gritos eram como pedras atiradas contra ela. Cada insulto a fazia encolher-se um pouco mais. Ela era uma pária, um monstro aos olhos de todos. Era exatamente como precisava ser.

Seu corpo estava fraco, desidratado. Ela viu uma caneca de metal com um pouco de água suja no canto da cela. Com um esforço tremendo, ela se arrastou pelo chão, os braços tremendo. Seus dedos estavam a centímetros da caneca quando a porta se abriu novamente.

Era Isabela. Ela olhou para Sofia no chão com um desprezo evidente. Viu a mão estendida em direção à água. Com a ponta do seu sapato caro, de bico fino, ela chutou a caneca, derramando o pouco de água que restava no chão sujo.

"Sede?" , Isabela perguntou, a voz gotejando veneno. "Monstros não sentem sede. Eles sentem o fogo do inferno."

Ela se aproximou e, sem aviso, pisou com força na mão estendida de Sofia. Um estalo seco ecoou na cela, seguido por uma onda de dor insuportável que subiu pelo braço de Sofia. Ela mordeu o lábio para não gritar, o gosto de seu próprio sangue enchendo sua boca. Isabela sorriu, satisfeita com o resultado.

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