Capítulo 3

A raiva de Ricardo, contida até então, explodiu como uma represa se rompendo. Não havia mais cálculo, não havia mais paciência. Apenas uma fúria pura e avassaladora.

Com um grito gutural, ele usou toda a sua força, empurrando o homem que o segurava contra a porta do carro. O agressor, pego de surpresa, cambaleou para trás. Ricardo saltou para fora do veículo, o olhar fixo em Léo.

"Você não vai tocar nela!", ele rugiu, avançando.

Ele acertou um soco no rosto de Léo com um impacto surdo. Léo caiu no chão, o nariz sangrando. Por um glorioso segundo, Ricardo sentiu a satisfação da retaliação.

Mas foi apenas um segundo.

Os outros quatro membros da gangue caíram sobre ele como lobos. Ricardo lutou com a ferocidade de um animal encurralado. Ele era forte, mais forte do que sua aparência de arquiteto sugeria, mas eram quatro contra um.

Ele recebeu um soco na costela que o deixou sem ar, outro no rosto que abriu um corte em seu supercílio. Em poucos segundos, ele estava no chão, sendo chutado e socado por todos os lados. A dor era aguda, mas nada se comparava à agonia de ouvir o grito de sua irmã.

"Ricardo! Para! Parem com isso!", Sofia gritava, a voz rasgada pelo desespero.

O brutamontes que a segurava a arrastou para mais longe.

"Fica quieta, vadia! Seu irmãozinho achou que era o Superman", ele disse, apertando o braço dela com mais força. Sofia soltou um gemido de dor.

Do chão, Ricardo via tudo em flashes. Botas chutando seu corpo, o céu girando, e o rosto aterrorizado de Sofia sendo levado para perto de um pequeno riacho que corria ao lado da estrada.

Ele tentou se levantar, mas um pé pesado pressionou seu peito contra o chão de terra.

"Aonde você pensa que vai, seu merda?", um dos agressores cuspiu.

Léo se levantou, limpando o sangue do nariz com as costas da mão. Seu rosto estava contorcido em uma máscara de ódio.

"Você vai se arrepender disso, seu desgraçado", Léo sibilou, caminhando até Ricardo. Ele se agachou, o rosto a centímetros do de Ricardo. "Você vai assistir. Você vai assistir enquanto a gente se diverte com a sua irmãzinha. E não há nada que você possa fazer."

"Se você tocar em um fio de cabelo dela... eu juro... eu vou caçar você até o inferno", Ricardo ofegou, o gosto de sangue na boca. "Você não tem ideia de com quem está se metendo."

Léo riu, uma risada sem humor.

"Ameaças? De um homem que não consegue nem se levantar do chão? Patético."

Ele se virou para seus homens. "Levem a garota para a água. Vamos 'batizar' ela."

O desespero tomou conta de Ricardo de uma forma que ele nunca sentira antes. Era uma impotência absoluta, uma tortura psicológica. Ele estava preso, forçado a assistir ao pesadelo se desenrolar.

Os homens arrastaram Sofia, que lutava e gritava, até a beira do riacho. A água era barrenta e fria.

"Não! Por favor! Não façam isso!", ela implorava.

Léo se aproximou dela, um sorriso cruel nos lábios. Ele rasgou a manga da camisa dela. O som do tecido se partindo ecoou no ar tenso. Foi um ato de pura humilhação, de poder.

"Você vai aprender a não se meter com gente como a gente", Léo disse, a voz baixa e ameaçadora. "E seu irmão vai aprender que ele não é ninguém."

Então, em um ato de crueldade inimaginável, o brutamontes a levantou no ar.

"Me solta! Socorro!", o grito de Sofia foi cortado quando ele a arremessou na água.

O som do corpo dela batendo na água foi abafado, seguido por um silêncio aterrorizante. Sofia não sabia nadar bem, e a correnteza, embora não fosse forte, a puxou para o meio. Ela emergiu, tossindo e engasgando, o pânico estampado em seu rosto.

"Socorro... eu... não consigo...", ela balbuciou, debatendo-se para manter a cabeça fora d'água.

A visão de sua irmã se afogando, lutando pela vida, enquanto aqueles monstros riam na margem, quebrou algo dentro de Ricardo. A fúria se transformou em uma força primal, uma energia nascida do mais puro desespero e amor.