Assim que entrei, senti o clima. Grupos se formavam em torno dos mais populares, cada um exibindo seu resultado como um troféu. "Passei em Engenharia na Federal!", gritava um. "Direito na UFRJ, cara!", comemorava outro. O ar estava pesado com uma competição velada, uma necessidade de provar quem tinha se saído melhor na vida antes mesmo dela começar de verdade.
Eu me encostei perto do bar, apenas observando. Não me encaixava ali. Minha paixão, meu futuro, não estava em uma lista de aprovados de vestibular. Estava na música.
"Olha só quem resolveu aparecer. O nosso astro do rock."
A voz era de Gabriela. Minha ex-namorada. Ela estava abraçada a Ricardo, o herdeiro de uma grande rede de restaurantes, incluindo este onde estávamos. Ele sorriu com superioridade, um sorriso que eu conhecia bem.
"Veio comemorar sua aprovação em quê, João Carlos? Na faculdade da vida?", ela zombou, e alguns ao redor riram.
Ricardo me analisou de cima a baixo, com desprezo. "Deixa ele, Gabi. Nem todo mundo nasceu pra vencer. Alguns precisam servir as mesas onde os vencedores comemoram."
Senti um nó no estômago, mas mantive o rosto inexpressivo. Discutir era inútil.
A maioria das pessoas me ignorava. Apenas Pedro se aproximou, com um olhar preocupado.
"João, desculpa por isso. Eu não sabia que o Ricardo viria."
"Tudo bem, Pedro. Não é culpa sua."
"E então?", Gabriela insistiu, aproximando-se novamente, com Ricardo a reboque. "Não vai nos contar seu grande resultado? Ou não tem nenhum para mostrar?"
Em vez de responder, levei a mão ao bolso da minha calça jeans gasta e tirei de lá uma pequena palheta de guitarra. Ela era feita de ouro maciço, com minhas iniciais gravadas. Um presente, um convite, um bilhete de entrada para um mundo que eles jamais entenderiam. Eu a segurei entre os dedos, sentindo seu peso reconfortante.
Ricardo estreitou os olhos. "O que é isso? Uma bijuteria barata pra fingir que você tem algum valor?"
Eu não respondi. Guardei a palheta de volta no bolso. Meu silêncio parecia irritá-los mais do que qualquer resposta.
Um pensamento claro se formou na minha mente, abafando o barulho ao redor. Eu não pertencia a este lugar. Eu não queria pertencer. Tinha uma reunião, um compromisso real, e cada segundo aqui era um desperdício. Decidi ir embora.