Capítulo 3 Violeta POV

Demorei minutos demais, a ponto das minhas bochechas corarem e eu despertar para a situação. Pulei praticamente dos seus braços, não sei se foi medo, pânico, surpresa, ou tudo junto.

- Você aqui? - a sua voz soou rouca, com um perceptível sotaque italiano. Levei alguns segundos para achar a minha voz, ou algo parecido.

- Eu... eu trabalho para a família. Sou auxiliar da cozinha.- Respondi, tentando manter a calma, embora o meu coração estivesse acelerado, batendo tão descompassado quanto noite de réveillon.

Eu sonhava em reve-lo algum dia, mas não desta forma. Não deste jeito, e muito menos neste lugar.

Ver ele aqui era sinal de que não era boa coisa.

Ele arqueou uma sobrancelha, como se não entendesse.

- Achei que estivesse cursando para se tornar veterinária.- Ele lembrou.

Me segurei para não sorrir, apesar de que o meu rosto deveria estar horrível, com a oleosidade e o suor. O cheiro dele era tão envolvente que eu mal conseguia me concentrar ao meu redor. Era impossível esquecer a presença dele, e o fato de que ele era o pai do meu filho. O fruto de uma noite pós-balada com um estranho, uma situação tão clichê e burra ao mesmo tempo.

As lembranças daquela noite inesquecível inundaram minha mente, como se o tempo não tivesse passado, trazendo consigo o sabor amargo dos nossos suores, que naquele momento pareciam doces. Era como se as luzes da boate dançassem em perfeita sintonia com a face daquele homem misterioso que havia cruzado o meu caminho.

E, na verdade, era completamente natural, porque eu havia me encantado por ele naquela noite, e era impossível esquecer os seus lábios carnudos pronunciando o meu próprio nome.

Ele havia me levado à loucura naquela noite. Embora eu não fosse mais virgem naquela época, não que eu tivesse muiots namorados, devo admitir que nenhum homem até então havia conseguido me fazer sentir daquela maneira. Sabia, no fundo, que seria apenas um caso de uma noite, um encontro qualquer em meio à agitação da cidade. Mas o destino tinha planos diferentes para nós, unindo-nos de uma forma que eu jamais poderia ter imaginado. Pietro, esse era o elo que nos ligava, mesmo que eu nunca mais tivesse o visto e sequer soubesse o seu primeiro nome.

Entretanto, o destino estava prestes a nos pregar outra peça. Agora, ele estava bem aqui, diante de mim, depois de todo esse tempo. Era como se o passado e o presente se chocassem em um único momento. Minhas emoções estavam em turbilhão, uma mistura de saudade, desejo e incerteza. O que ele fazia na mafía? Isso poderia ser bom ou não.

Ele me olhava com aqueles olhos profundos e penetrantes que eu nunca conseguira esquecer. Estávamos ali, frente a frente, revivendo uma chama que acreditávamos estar extinta. Era uma segunda chance que eu jamais imaginei que teria.

Naquele instante, o mundo parecia desaparecer ao nosso redor, deixando apenas nós dois e as memórias daquela noite que haviam nos unido. Aquele encontro inesperado trazia consigo a promessa de revelações, desejos reprimidos e a possibilidade de um futuro incerto, mas cheio de possibilidades. Era um novo capítulo em nossa história, e eu estava pronta para descobrir para onde ele nos levaria.

Perguntei, com um nó na garganta, ainda sem coragem de olhar diretamente para ele. Não queria analisar as suas roupas para distinguir a sua posição, mesmo que, no fundo, fosse um hábito meu. Eu era fã de moda e gostava de decifrar quanto custavam as roupas das pessoas. Talvez fosse um hobby fútil, mas era uma das poucas maneiras de escapar da minha realidade. Da minha nova realidade.

- É... eu... - eu não estava conseguindo formular uma frase. Droga! - Desculpe foi um dia longo. - Lancei um sorriso amarelo ao mesmo tempo em que percebia que ainda estava muito perto dos seus braços, fortes braços devo acrescentar.

Eu estava tão alegre aquela noite em que nos conhecemos, nunca havia feito uma besteria daquela, mas era o último ano do curso e eu estava tão feliz por aquela fase.

- Tudo bem. - Os seus olhos diziam que não estava tudo bem, e como um homem predador, eu soube que independente da posição dele, aquele homem tinha inimigos, aliados, e julgando um pouco melhor os seus trajes, tinha dinheiro. - está tudo bem? - Quis saber ao me ver analisando o seu corpo, a minha cara deveria estar horrível, mas mereço um desconto, são quase 5:00 da manhã.

- Sim, me desculpe, eu só estou cansada. - Olhei para onde deveria ir, e tratei de pegar as chaves antes que esse encontro me tirasse da minha missão. Esse encontro chocou todos meus neuronios, e não é como se eu fosse dormir, até dormiria se não houvesse uma miniatura dele na minha cama, eu agiria normalmente, era adulta, mas não era essa a realidade, eu teria que tomar uma decisão em algum momento.

Para não parecer tão mal educada, lhe desejei uma boa noite, se ele respondeu, eu não sei, pois arranquei em disparada para a casa que agora morava.

O frio de antes não me congelou, o meu corpo estava em um turbilhão de pensamentos, e perguntas, eu não tinha tempo de ficar rolando na cama, então tratei de tomar um banho, pois a minha irmã já havia saído, e me joguei na cama, cuidando para o meu pequeno não acordar.

A Sra. Lombardi era carinhosa e amigável, considerando a sua ligação com a máfia. Graças a ela, Enrico tinha alguém em quem confiar para cuidar dele. Com apenas um ano e dois meses, ele era a criança mais adorável que existia, e sua presença me dava a força necessária para enfrentar cada novo dia. Mesmo em meio às circunstâncias difíceis em que nos encontrávamos, Enrico era uma fonte de esperança na minha vida.

Eu tinha obrigações com a máfia, e o silêncio era minha única opção. Não podia exigir nada, nem mesmo um salário. Mesmo que a

Sra Lombardi seja generosa no final do mês nos dando um dinheiro para o básico, ainda é pouco para três mulheres e um bebe, mas se dependesse do Sr. Lombardi, não teríamos nada, e nos sustentaríamos com o resto da dispensa deles.

Essas eram as consequências de uma escolha errada que meu pai fez.

Lembrar das viagens caras, dos presentes luxuosos e da vida extravagante que vivíamos só aumentava o meu repúdio pelo que tínhamos gasto. Eu nunca pedi uma vida de luxo ao meu pai, nunca pretendi acabar assim, e não pedi por isso. Estava presa em um mundo que não era meu, com responsabilidades que não desejava, e o meu pequeno Enrico era a única luz em meio a essa escuridão.

Hoje, eu começaria o dia às 10:00, quando geralmente temos algum evento na mansão Lombardi, nós começamos mais tarde. Não é porque eles acham que merecemos descansar, mas sim porque costumam acordar tarde. No entanto, não posso reclamar, e nem mesmo tenho essa opção.

Assim como me deito, quando me levanto, parece que se passaram apenas alguns minutos. Enrico chora, pedindo por mamãe na sua linguagem de bebê. Com os seus um ano de idade, ele já sabe andar e sair da cama, que não é tão alta. Foi uma das melhores sensações quando ele deu os primeiros passos. Cada pequena conquista dele me enche de orgulho e me dá forças para enfrentar os desafios que temos pela frente.

Os seus dentinhos com 6 meses já nasceram, e os seus primeiros passos foram com 10 meses, me perguntava se essa garra ele havia herdado do pai, assim como os cabelos escuros, e a pele bronzeada, os olhos castanhos como a escuridão ele havia herdado do pai também.

Lembrei do ocorrido de ontem a noite, aquele encontro poderia mudar tudo, eu não sei qual seria a reação dele ao saber, ou pior nem ao menos sabia se ele era casado, e o que fazia na máfia, mas que era envolvido, isto não tinha dúvidas.

            
            

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