/0/15935/coverbig.jpg?v=2b6748182e033da23613b53f0287f9d9)
Após aquela longa reunião com o governador de Nova York, eu me encontrava em uma das cabines da minha boate. O lugar estava fervilhando de pessoas, com homens comprando bebidas e drogas como se não houvesse amanhã. O suor das pessoas reluzia sob as luzes pulsantes, e a música não dava trégua na cidade que nunca dorme.
Os meus olhos vagavam pela multidão em busca de uma bela companhia para encerrar a minha noite. A minha boate era o lugar perfeito para esquecer as preocupações do mundo dos negócios e simplesmente me deixar levar pelo ritmo da noite.
Foi quando alguns gritos vindo da área VIP chamou a minha atenção, um grupo de mulheres pareciam comemorar algo. Fixei os meus olhos em uma figura deslumbrante. Os seus cabelos pareciam banhados em luz, contrastando com a pele alva que exibia um brilho natural. Os seus lábios eram carnudos e vermelhos como rubis, convidativos e sensuais.
No entanto, o que realmente me deixou hipnotizado foram seus olhos. Eles eram cristalinos, brilhando com uma intensidade cativante. Ela sorria de forma radiante, e cada traço do seu rosto parecia iluminado. Não aparentava ter mais do que 20 anos, talvez até menos.
Observando-a, percebi que ela estava dispensando alguns pretendentes que se aproximavam. A sua atitude segura e decidida chamou a minha atenção, assim como os seus olhos demonstravam uma pureza genuína, ao menos para um homem como eu.
Aquela mulher seria a minha companhia para a noite, não havia dúvidas.
Senti uma excitação crescente enquanto me aproximava dela, determinado a conquistar aqueles olhos cintilantes e fazer com que aquele sorriso encantador fosse dedicado a mim.
Enquanto ouvia o meu pai falar dos preparativos para o casamento e o quanto eu teria que enviar em armamentos e drogas para o meu futuro sogro, a minha mente revivia um looping da madrugada de hoje, e da noite em que nos conhecemos.
Não esperava ver aqui um rosto tão frágil e delicado como o dela, até esperava vê-la novamente, Ítalia não era um lugar tão grande assim, e eu era dono de quase todas as melhores baladas da região.
Mas me surpreendi ao vê-la como serviçal da minha família, teria que averiguar isso melhor, e a pessoa indicada para me dar essas informações era Dimitri, meu irmão.
- Qual o seu problema. - Olhei para o meu pai que me fitava sério, o seu semblante demonstrando que não havia gostado da minha divagação.
- Nada. - Respondi sucinto me levantando da poltrona, estávamos no seu escritorio. Eu gostava da mansão onde fui criado, mas não via hora de voltar para o meu refugio.
- Espero que saiba a importância desse acordo. - Me lembrou pela milésima vez, eu sabia bem que um acordo com a máfia russa traria muitos benefícios para os negócios, mas para mim isso não passava de negócios, e os russos sempre seriam a escória da máfia. Mas o meu pai insistia nessa aliança, e eu estava disposto a ver no que daria, pois um tiro na minha futura esposa resolveria o problema de traição, e não me importava com uma nova guerra, e os benefícios eram grandes, valia o risco. Além de uma aliança poderosa, a ampliação do nosso território era inevitável, junto ao compartimento de recursos com os russos, seria questão de tempo para o acesso as conexões internacionais da Rússia, pois a política era governada por nós, tidos para a sociedade como criminosos.
Deixei o meu pai no escritório e segui em direção ao quarto da minha mãe para lhe dar um beijo. Apesar de ser casada com o ogro do meu pai, ela era a pessoa mais importante para mim. A minha mãe sabia ser uma rosa em meio ao lixão que era a máfia, e por isso eu a valorizava muito. Os meus irmãos também eram importantes, é claro, mas em uma escala diferente. Talvez o treinamento que recebi para ser o dom da família tenha me afastado um pouco do meu pai, mas eram ossos do ofício.
Caminhei pelo corredor até o quarto do meu irmão, batendo à porta, e como não obtive resposta imediatamente, me curvei para abrir a fechadura. Fui surpreendido quando a porta se abriu, revelando o meu irmão aos beijos com uma empregada. O choque percorreu o meu corpo quando, por um momento, pensei que fosse a loira angelical. Os cabelos loiros da mulher e a sua postura inicialmente me enganaram, fazendo-me temer o pior. Não dividiria o que é meu com Dimitri, nem algo passageiro, ao menos, não ela.
No entanto, o meu alívio foi instantâneo quando percebi que não era ela. Aquela mulher tinha cabelos idênticos aos dela, mas não era ela. Os seus olhos castanhos me fitaram com surpresa enquanto eles se afastavam abruptamente. A suas bochechas ficaram vermelhas, e ela gaguejou um pedido de desculpas. Eu, por outro lado, estava grato por não ser o meu anjo de olhos azuis, iria ficar um tempo na mansão, e seria interessante alguma diversão por aqui, mas agora, o meu irmão tinha alguma explicação a dar.
Estava claro que eu havia interrompido um momento íntimo, e aquilo poderia render algumas conversas em família no futuro, mas não agora.
- Sabe que mamãe odeia quando você fica importunando as empregadas. - Eu o recriminei enquanto observava Dimitri. Ele parecia estar perpetuamente na adolescência, incapaz de controlar os seus impulsos.
- Não posso fazer nada se elas clamam por mim. - Ele se defendeu, ajeitando-se no espelho. Virei-me para a janela, observando o vasto jardim lá fora.
- Vou fingir que você não seduz essas pobres mulheres. Preciso que faça algo por mim. - Falei com seriedade.
- Diga, e farei. - Dimitri respondeu prontamente.
- Quero que descubra tudo sobre a auxiliar de cozinha, uma loira. Olhos azuis. - Mencionei o motivo da minha insónia pelo resto da madrugada. Dimitri deu uma tosse forçada, como se soubesse de algo.
- Será que você não consegue se controlar? - Disse com o maxilar travado, imaginando que, pelo seu silêncio, ele já havia importunado a moça.
- Ei, calma aí, nem toquei na garota. É que a que estava aqui é irmã dela. - Ele se explicou, e consegui voltar ao meu estado quase normal. A tensão já havia se instalado, e a semelhança no cabelo não deixava espaço para dúvidas.
- O que aconteceu com elas? - Perguntei, já sabendo que ele tinha a ficha completa.
- O pai delas era dono do táxi aéreo que transportava para nós, grandes e pequenos voos. Não conseguiu fazer o trajeto para a Austrália. - Ele explicou.
Eu sabia o que aquilo significava. Milhões em dólares, e quem estava nos negócios sabia dos riscos. Elas seriam para sempre escravas da máfia, e se estavam aqui, não tinham dinheiro para pagar pela liberdade e pelo prejuízo do pai. O piloto não era problema nosso, mas as filhas, sim.
A notícia de certa forma me agradou. Seria interessante ter uma nova cozinheira em casa. Embora na minha mansão tivesse ótimas empregadas, eu procurava contratar as mais jovens, muitas trazidas por dívida ou escolha minha. Me serviam na minha cama, e algumas não temiam a morte, adoravam morar com o perigo.
Não queria admitir que a pureza da cozinheira havia me encantado desde a noite em que nos encontramos na boate. Homens como eu adoravam quebrar e conquistar coisas, estava no nosso DNA, na nossa essência. Seria impossível ficar longe dela.
- Qual é o nome dela? - Não quis entrar em detalhes com Dimitri, ele não precisava saber que já havia dormido com ela em outra ocasião.
- Posso investigar, não é como se armazenasse um dossiê dos funcionários. Você quer saber mais alguma coisa dela? - Dimitri respondeu enquanto entrava no seu closet.
- Não, obrigado. Apenas o essencial.
- Está animado para o casamento? - Perguntou descontraído, com um roupão na mão, e claramente mudando de assunto.
- É apenas mais um contrato, entre muitos.
- Ninguém merece ter que dar satisfação às mulheres. - Resmungou enervado, pois sabia que logo ele seria o próximo a se casar. Embora já estivesse noivo antes de mim, ele tentava a todo custo adiar a data. Diferente de mim, que não precisava estar nas pernas de mulheres o tempo todo, Dimitri parecia um maníaco que nunca estava satisfeito. Eu tinha muita pena da mulher que cruzasse o caminho dele, e principalmente de Katy, a sua futura esposa.
- Sei que ela trabalha no mesmo horário que a irmã, e a Manu termina agora, às 19:00 - Disse por fim, vendo que eu tinha interesse na irmã da arrumadeira de cama.