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Lucas abriu a porta do carro para Lina, uma cortesia que ele nunca imaginou que faria para a "noiva" que havia contratado, muito menos para a mulher que acreditava estar ali por conta de um filme. Ele a observava sair, uma elegância natural mesmo em meio ao que seria, para ele, um teatro bem encenado. A fachada imponente da mansão Gudman se erguia à frente, iluminada pelo crepúsculo parisiense. Este era o cenário da farsa, o palco onde eles deveriam convencer o mundo de seu amor forjado.
Lina pisou no chão, sentindo o ar fresco da noite no rosto. A mansão era grandiosa, muito mais do que qualquer cenário que ela já vira. Ela engoliu em seco, um frio na barriga que não era de empolgação, mas de nervosismo. Ok, Lina. Essa é a cena da lua de mel. Eles realmente não economizaram no luxo para este filme de baixo custo. Mas... por que não me deram o roteiro dessa parte? Ela sentia um arrepio estranho na nuca, uma sensação de que algo estava errado.
Lucas, sem esperar, começou a caminhar em direção à porta principal. Lina hesitou. Ela não sabia o que fazer. Seus instintos de atriz gritavam por um roteiro, uma direção. Ele está indo direto? Não tem marcação, não tem fala? Ela se lembrou das aulas de improviso, mas aquilo parecia um salto no escuro. Permaneceu parada, esperando, uma estátua vestida de noiva na entrada da mansão.
Lucas, já a alguns passos, percebeu que Lina não o seguia. Ele parou, virando-se com uma leve irritação. Ela estava ali, imóvel. Um leve sorriso, quase imperceptível, surgiu em seus lábios. Ele se lembrou do que pensara no carro. Essa atriz é realmente boa. Está me dando uma lição de como um marido recém-casado deveria tratar sua esposa, mesmo que falsa, em público. Um furo desses seria um prato cheio para a imprensa. Ela sabe o que faz.
Ele voltou alguns passos, a passos calculados, até estar novamente ao lado dela. Estendeu a mão para ela, um gesto que, para ele, era parte da encenação dela. Pronto, Sra. Lina, lição aprendida. Ou, pelo menos, atuando que aprendi.
Lina olhou para a mão estendida de Lucas. Ela a pegou, a pele dele fria ao toque. Seus dedos se entrelaçaram de forma estranhamente natural. Ah, ele voltou para me guiar. Ele é um bom ator, realmente se importa com os detalhes da cena. Que profissional! Ela sorriu, um sorriso de alívio por ter uma direção, mesmo que não verbalizada.
Juntos, eles entraram na mansão. O interior era ainda mais opulento que o exterior. Luzes suaves, tetos altos, obras de arte pelas paredes. Lina se sentiu minúscula naquele ambiente grandioso.
Lucas a levou para uma sala de estar luxuosa, com lareira acesa e sofás de veludo. Ele se virou para ela, os olhos fixos nos dela, esperando a deixa para o próximo passo do "contrato". Lucas então diz a Lina se referindo a primeira cláusula do contrato. "Aqui podemos tirar as fotos íntimas de casal em lua de mel, no qual devemos fazer para o mundo!"
Lina, porém, sentia um pavor crescente. A realidade da cena "íntima" que ela imaginava se aproximando a atingiu em cheio. Seus olhos se arregalaram. Espera. Lua de mel? Fotos íntimas? Eu... eu não me lembro dessa parte no roteiro! O desespero começou a tomar conta.
O-onde está o diretor? Lina perguntou, a voz trêmula. Lucas franziu a testa, um sinal de confusão que Lina interpretou como parte da atuação. Essa cena íntima de lua de mel... ela não estava programada no roteiro! Não tem como eu fazer isso!
Lucas a observou por um instante, a sobrancelha arqueada. Finalmente ela citou o contrato. Achei que nunca ia quebrar o personagem para falar de negócios. Essa mulher é... imprevisível.
Lina, ele começou, a voz calma, mas com um tom de autoridade que não dava margem para dúvidas. Lembre-se do que conversamos. Não faremos nada além do estritamente necessário. No contrato, está explícito que apenas tiraríamos fotos um pouco íntimas de casais. Você, com camisolas sensuais, e eu, com a roupa desabotoada, parecendo apaixonados, para servir de provas de um casal feliz pelo resto do ano.
Lina sentiu o sangue gelar. "Resto do ano"? Aquela frase atingiu-a como um raio. O contrato. O dinheiro. O "filme" era para ser um trabalho rápido, uma participação especial, não um compromisso de longo prazo.
Resto do ano?! ela exclamou, a voz agora carregada de pânico, esquecendo completamente a atuação. Não tem como eu gravar a novela por um ano inteiro! O dinheiro que me pagariam era para uma figurante, não para uma personagem principal! Eu tenho outros compromissos!
Lucas a encarou, confuso. Seus olhos perfuraram os dela, buscando uma explicação para aquela explosão inesperada. Novela? Figurante?
Nessa história, Lina, ele disse, a voz subindo um tom, com uma mistura de incredulidade e aborrecimento, deixando o disfarce de lado. Você é a principal. Você é minha esposa. Minha esposa por contrato. Por um ano.
Lina balançou a cabeça vigorosamente, os olhos marejados de confusão e medo. A realidade começava a se infiltrar, gelada e cortante. Esposa? Contrato? Quando os editores do filme me chamaram, eles não citaram que eu seria a principal ou que seria um contrato de um ano! Onde está meu agente?! Onde está o diretor?!
Que filme? Lucas perguntou, a voz agora um sussurro de pura perplexidade. A peça do quebra-cabeça que faltava em sua mente, a loira que deveria estar ali, e a morena que estava, de repente se encaixaram de forma distorcida. A ficha começou a cair.
Um silêncio pesado preencheu a sala, denso e revelador. Os olhos de Lucas e Lina se encontraram. O brilho da compreensão, primeiro lento e depois avassalador, surgiu em ambos. Um flash de pânico. Um lampejo de reconhecimento da catástrofe. A verdade, cruel e inegável, se impôs.
Eles estavam casados de verdade. Ele não era um ator de filme, e ela não era a noiva contratada. Pior: na hora do contrato original, foi acordado que a noiva "real", por não ser conhecida pela imprensa, assinaria com um nome falso para que o contrato de fachada não tivesse validade legal. Mas Lina... ela assinou com seu nome verídico. Não havia mais volta.
Eles estavam oficialmente casados. E agora precisariam se ajustar à sua nova vida.