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O silêncio na mansão foi quebrado por um grito abafado, quase um gemido de Lina. Lucas, antes inabalável, sentiu o sangue gelar. A ficha, pesada e fria, caía sobre ambos.
Não! Não pode ser! Isso não... não é um filme! Lina balançou a cabeça freneticamente, as mãos cobrindo a boca, os olhos arregalados, refletindo o terror de quem se vê em um pesadelo acordada.
Que diabos você fez, mulher?! Por que você entrou na igreja do meu casamento de fachada?! A voz de Lucas ecoou pela sala, tensa e carregada de fúria contida. Sua mente, antes organizada e calculista, estava um caos.
Por que VOCÊ estava no local de filmagens do meu filme?! Lina retrucou, o pânico transformado em indignação, apontando o dedo para ele. As lágrimas ameaçavam brotar. Eu sou atriz! A produção me deu um endereço! Eu estava atuando!
Lucas Gudman sentiu um nó na garganta. Era real. Um mal-entendido absurdo, digno de um roteiro ruim, mas que acabara de casá-lo com uma completa estranha. Aquela mulher à sua frente não era a atriz contratada, com quem tinha um acordo claro. Ela era Lina Santos, sua nova e, aparentemente, oficial esposa.
Lina, por sua vez, estava em choque. A incredulidade era palpável. Cada detalhe, desde a sua chegada à igreja até o "sim" no altar, tudo idêntico ao roteiro parcial que ela havia lido. A coincidência era assustadora. Não, não, não! Eu não sou esposa de ninguém! Isso é um erro! Eu vou embora!
Ela se virou, determinada a fugir daquele pesadelo, mas parou abruptamente. O luxo da mansão, a distância da cidade... e a terrível constatação: sua bolsa, com o pouco dinheiro que tinha e o celular, havia ficado no carro de aplicativo. Ela estava presa. Sem saída, Lina foi obrigada a se virar e encarar Lucas, a única "ponte" para fora dali. A privacidade da mansão, que deveria servir para negócios e fotos íntimas forjadas, agora era uma armadilha. A "troca" de noivas havia jogado os dois em um jogo sem regras.
Horas se arrastaram, preenchidas por um diálogo exaustivo. Eles tentaram, em vão, encontrar uma saída, um nó na burocracia que pudesse desatar o casamento.
Não tem jeito. Eu vou retornar e dizer que tudo era uma farsa, Lucas declarou, a voz áspera, a frustração evidente. Ele se recusava a aceitar aquilo. Sua noiva contratada, a loira, era uma profissional discreta. Lina, apesar de deslumbrante, era uma desconhecida sem experiência nesse tipo de "papel". Isso não vai dar certo. Você não é a pessoa que eu esperava. Não é uma atriz de verdade para esse tipo de coisa.
Ao ouvir a rejeição, um estalo acendeu na mente de Lina. Fama. Oportunidade. Os inúmeros "nãos" em sua carreira iniciante podiam se transformar em convites ilimitados. Uma chance de ouro, disfarçada de catástrofe.
Espere! Lucas, espere! Lina se aproximou, sua abordagem mudando, um tom sedutor misturado a um desespero cômico. Seus olhos, antes cheios de pânico, agora brilhavam com um fervor quase teatral. Ela forçaria a barra, atuaria o papel de esposa apaixonada para ele, sem revelar sua verdadeira intenção de usar a situação para catapultar sua carreira. Eu posso encarar esse papel! Eu sou Lina Santos, atriz! Eu sou convincente!
Lucas, no entanto, estava irredutível. Ele já estava pegando o celular, buscando o número de seu motorista particular na lista telefônica. Ele não cederia a chantagens emocionais ou a atuações baratas.
Eu aceito! Lina continuou, ignorando a atitude dele, com uma voz doce e dramática. Aceito o trabalho! Posso fazer pela metade do preço! Apenas seiscentos mil dólares! Eu sou boa, Lucas! Você não vai se arrepender!
Não, Lucas respondeu, seco, o telefone já no ouvido, discando. Seu olhar a ignorava.
Cem mil! Eu aceito por cem mil dólares! Lina implorou, o desespero de uma atriz faminta por um papel misturado à comédia da situação. Ela se jogou no sofá, uma birra infantil. Eu sou super convincente! Por favor!
Lucas a observou de soslaio, Lina emburrada no sofá, quase bufando. Uma cena ridícula. Ele revirou os olhos e ignorou-a, sentando-se e ligando a TV, buscando um refúgio daquela negociação absurda. Na tela, a Rainha de Londres se preparava para um pronunciamento. Uma distração bem-vinda.
De repente, Lucas desligou a TV, quase de imediato. Não tem nada de interessante nesse programa. Meu programa favorito ainda não começou. A desculpa era esfarrapada, evidente.
Lina, que observava a cena, levantou-se abruptamente, indignada. Ei! Eu queria assistir o pronunciamento! Isso é importante para Londres!
Não é para você se importar, é para Londres! Ninguém daqui de Paris quer ver. Lucas retrucou, o tom irritado, mas um leve sorriso querendo surgir.
Mas eu sou daqui! Eu moro aqui e quero ver! Lina argumentou, fazendo bico, os dois implicando de forma fofa e engraçada um com o outro, a tensão da discussão anterior se diluindo em um momento de pura comédia.
Eles estavam perto, os rostos a centímetros, os olhares se encontrando. Um silêncio quase terno pairou no ar, uma corrente elétrica sutil conectando-os. Quase. Quase um primeiro beijo verdadeiro, não forçado por um roteiro ou um contrato. Mas o momento foi abruptamente rompido pelo som potente da buzina da limusine de luxo de Lucas, anunciando a chegada.
Lucas suspirou, rompendo o feitiço. A buzina. A realidade. Ele se levantou, abriu a porta da mansão. Seu motorista, Adam, já estava em pé diante da porta do carro, abrindo-a para a suposta "esposa" embarcar.
Porém, algo mais chamou a atenção de Lucas. Três carros se aproximavam rapidamente pela estrada particular, faróis acesos, furando a escuridão. Carros da imprensa. A lembrança do irmão, do pronunciamento da Rainha, da sua própria imprudência ao não avisar Sophia sobre a mudança de planos, o atingiu em cheio. Um suspiro pesado escapou de seus lábios.
Sem hesitar, Lucas entrou na limusine ao lado de Lina. Não havia outra opção. Não podia dar a entender à imprensa que estava mandando sua esposa embora no primeiro dia de casamento.
Lina, surpresa por Lucas ter entrado no carro, o encarou. Eu não preciso de babá para retornar à minha casa, sabia?
Lucas apenas apontou com o olhar para os carros da imprensa, que já cercavam a limusine a uma distância segura, mas diminuindo rapidamente. Jornalistas e fotógrafos saltavam dos veículos, câmeras em punho.
O que aconteceu, Senhora Gudman?! O magnata Lucas e você já estão se divorciando no primeiro dia de casamento?! Tudo não passou de uma farsa? Quanto a Gudman's Army pagou a você, Lina, para essa atuação?!
Lucas ficou pasmo. Com as perguntas, e mais pasmo ainda com a resposta que Lina poderia dar. Ele estava em uma situação sem saída. Mas Lina, ah, Lina. Ela viu a vantagem. O palco. A chance de ouro.
Meu amor disse que sou tão importante na vida dele... sabe?! Lina respondeu, a voz carregada de uma tonalidade romântica forçada, cheia da paixão avassaladora de uma "recém-casada", os olhos brilhando para as câmeras. Que ele quer me levar a lugares especiais, luxuosos e mais caros para aproveitarmos nosso amor juntos e publicamente aberto à imprensa para acompanhar nossa evolução! Isso não é lindo?!
A resposta de Lina atingiu Lucas em cheio. Não havia como negar aquilo diante de tantos jornalistas. Agora, Lucas era quem estava nas mãos de Lina para seguir com sua tão sonhada paz.
Adam, o motorista, perguntou, a voz quase inaudível em meio aos flashes. Para onde vamos, Senhor Gudman?
Lucas engoliu em seco, olhando para Lina, que o encarava com um sorriso vitorioso. É... vamos... para... o rio Sena, eu e minha adorável esposa... Daremos uma volta de barco ali.
Lina ouviu e sorriu, animada. Ela se virou para os jornalistas, com um ar triunfante. Vocês ouviram?! Meu esposo e eu iremos para o rio Sena, podem ir nos encontrar lá e fazer a cobertura para mostrar que não existe outro acordo senão nosso amor verdadeiro entre nós!